Biografia
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Nelson Mandela: de integrante do Partido Comunista a presidente da África do Sul

O ex-presidente da África do Sul e vencedor do Prêmio Nobel, Nelson Mandela, tem um histórico de guerrilha pouco conhecido do grande público.

Por
Redação Brasil Paralelo
Publicado em
15/3/2024 16:56
Foto da capa: Trevor Samson/AFP.

O ex-presidente da África do Sul e ganhador do Nobel da Paz, Nelson Mandela, é mundialmente conhecido pela sua luta contra o Apartheid, regime que segregou negros e brancos no país. 

Dono de uma imagem serena enquanto líder da nação sul-africana, Mandela tem um histórico pouco conhecido de violência e ligação com o Partido Comunista do país

Alguns capítulos de sua vida demonstram essa face oculta do astro da justiça social: 

  • integrante da African National Congress (ANC), maior organização negra de resistência ao Apartheid;
  • fundou e liderou o Umkhonto We Sizwe, também conhecido como MK, braço armado da ANC;
  • relação próxima com líderes totalitários, como Fidel Castro, Yasser Arafat e Muammar Gaddafi.

Conheça agora a parte escondida da história de Nelson Mandela.

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Mandela e o Apartheid

Nelson Mandela tem sua história de vida política e de confrontos ligada ao Apartheid, regime racista que segregava brancos e pretos em ambientes públicos e privados. 

Sua voz foi bastante ativa durante esse período da história sul-africana. Em meados do século XX, 87% do território do país era destinado para a minoria branca morar e fazer negócios.

Os negros foram removidos à força de suas propriedades, privados da sua cidadania e massacrados em manifestações pacíficas. 

Toda essa repressão vivida pela população negra da África do Sul incitou a criação de uma organização de resistência ao Apartheid, a ANC ou African National Congress.  

Nelson Mandela era filiado à ANC e teve participação ativa em momentos importantes da organização.

Os líderes da ANC estavam decididos a utilizar meios pacíficos de protesto contra o Apartheid, já que a organicação era regida por ideais de não-violência. 

Além da ANC, o cenário anti-Apartheid da década de 1960 contava com a particiação clandestina do Partido Comunista Sul-Africano.

O Partido Comunista Sul-Africano

Nelson Mandela afirmou durante toda a sua vida nunca ter feito parte do Partido Comunista Sul-Africano. Por mais que fosse questionado sobre o assunto, sempre negou. 

Durante o seu julgamento, ele reforçou essa afirmação. Em 1966, reiterou a alegação quando escreveu ao Departamento de Justiça para:

“(...) Enfaticamente negar que eu fui membro do Partido Comunista Sul-Africano”

O historiador britânico Stephen Ellis realizou uma pesquisa minuciosa em arquivos jamais acessados. Esses arquivos contam uma história diferente da divulgada por Mandela

O Partido Comunista Sul-Africano foi dissolvido em 1950, após a promulgação da Lei de Supressão ao Comunismo feita pelo governo do país. 

Porém, rapidamente o partido já estava atuando de forma clandestina. Em 1960, uma delegação do partido foi enviada às duas grandes capitais do Comunismo: Pequim e Moscou. 

Em Pequim, a delegação foi recebida pessoalmente pelo líder revolucionário Mao Tsé-Tung. Já em Moscou, recebeu uma oferta de suporte financeiro de US$ 30 mil do Partido Comunista da União Soviética

Durante as duas visitas, um dos temas centrais das conversas foi a necessidade urgente de promover a luta armada na África do Sul

Ligações de Mandela com o Comunismo

Na delegação do Partido Comunista Sul-Africano que visitou Pequim e Moscou, estava presente Joe Matthews. 

Além de membro do comitê central do partido, ele também integrava a ANC, a organização de resistência negra, da qual o jovem advogado Nelson Mandela também era filiado. 

Em entrevista concedida em 2004, Joe Matthews revelou que Mandela fez parte com ele do comitê central do partido. 

Após a morte de Madiba, como é carinhosamente chamado na África do Sul, a confirmação veio em nota do próprio partido. 

“Nelson Mandela não foi apenas um membro do então clandestino Partido Comunista Sul-Africano, mas foi também um membro do comitê central do nosso partido”. 

A ANC também emitiu nota confirmando a informação, tornando cada vez mais difícil acreditar na negação de Mandela. 

No livro Nelson Mandela: uma Biografia, o escritor Martin Meredith fala da ligação próxima entre Mandela e membros do Partido Comunista. 

“Mandela mantinha laços estreitos com membros do Partido Comunista Sul-Africano (SACP), compartilhando suas crenças na luta contra o apartaheid e na busca por uma sociedade mais justa e igualitária. Sua associação com o SACP influenciou significativamente sua trajetória política”. 

A criação de uma força-armada

No cenário anti-Apartheid, vigente no país da década de 1960, exisitam duas forças principais: 

  • o Partido Comunista Sul-Africano, convencido da necessidade da luta armada;
  • a resistência negra da ANC, cujos líderes defendiam a não-violência nos protestos. 

Essa configuração polarizada abriu espaço para a insatisfação de um grupo da ANC, que decidiu convocar uma série de reuniões com líderes do movimento para persuadi-los a abandonar a conduta pacífica

O líder desse grupo divergente era Nelson Mandela, que em junho de 1961 apresentou o seu projeto de uma organização paramilitar, aprovado com relutância pela ANC. 

Com isso, em 1961 nasceu o Umkhhonto We Sizwe (MK) ou Lança da Nação, na língua zulu. Ficou combinado que esse grupo teria um corpo independente com liderança própria. 

Para comandá-lo, o líder comunista Joe Slovo afirma que “(...) o ANC indicou Mandela e o partido [Comunista] me indicou”. 

Apesar da criação ter sido influenciada pelo Partido Comunista, e ter tido dois integrantes do partido como líderes, tratava-se oficialmente de um braço da ANC.  

A ligação entre a MK e nações comunistas

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