Mandela e o Apartheid
Nelson Mandela tem sua história de vida política e de confrontos ligada ao Apartheid, regime racista que segregava brancos e pretos em ambientes públicos e privados.
Sua voz foi bastante ativa durante esse período da história sul-africana. Em meados do século XX, 87% do território do país era destinado para a minoria branca morar e fazer negócios.
Os negros foram removidos à força de suas propriedades, privados da sua cidadania e massacrados em manifestações pacíficas.
Toda essa repressão vivida pela população negra da África do Sul incitou a criação de uma organização de resistência ao Apartheid, a ANC ou African National Congress.
Nelson Mandela era filiado à ANC e teve participação ativa em momentos importantes da organização.
Os líderes da ANC estavam decididos a utilizar meios pacíficos de protesto contra o Apartheid, já que a organicação era regida por ideais de não-violência.
Além da ANC, o cenário anti-Apartheid da década de 1960 contava com a particiação clandestina do Partido Comunista Sul-Africano.
O Partido Comunista Sul-Africano
Nelson Mandela afirmou durante toda a sua vida nunca ter feito parte do Partido Comunista Sul-Africano. Por mais que fosse questionado sobre o assunto, sempre negou.
Durante o seu julgamento, ele reforçou essa afirmação. Em 1966, reiterou a alegação quando escreveu ao Departamento de Justiça para:
“(...) Enfaticamente negar que eu fui membro do Partido Comunista Sul-Africano”.
O historiador britânico Stephen Ellis realizou uma pesquisa minuciosa em arquivos jamais acessados. Esses arquivos contam uma história diferente da divulgada por Mandela.
O Partido Comunista Sul-Africano foi dissolvido em 1950, após a promulgação da Lei de Supressão ao Comunismo feita pelo governo do país.
Porém, rapidamente o partido já estava atuando de forma clandestina. Em 1960, uma delegação do partido foi enviada às duas grandes capitais do Comunismo: Pequim e Moscou.
Em Pequim, a delegação foi recebida pessoalmente pelo líder revolucionário Mao Tsé-Tung. Já em Moscou, recebeu uma oferta de suporte financeiro de US$ 30 mil do Partido Comunista da União Soviética.
Durante as duas visitas, um dos temas centrais das conversas foi a necessidade urgente de promover a luta armada na África do Sul.
Ligações de Mandela com o Comunismo
Na delegação do Partido Comunista Sul-Africano que visitou Pequim e Moscou, estava presente Joe Matthews.
Além de membro do comitê central do partido, ele também integrava a ANC, a organização de resistência negra, da qual o jovem advogado Nelson Mandela também era filiado.
Em entrevista concedida em 2004, Joe Matthews revelou que Mandela fez parte com ele do comitê central do partido.
Após a morte de Madiba, como é carinhosamente chamado na África do Sul, a confirmação veio em nota do próprio partido.
“Nelson Mandela não foi apenas um membro do então clandestino Partido Comunista Sul-Africano, mas foi também um membro do comitê central do nosso partido”.
A ANC também emitiu nota confirmando a informação, tornando cada vez mais difícil acreditar na negação de Mandela.
No livro Nelson Mandela: uma Biografia, o escritor Martin Meredith fala da ligação próxima entre Mandela e membros do Partido Comunista.
“Mandela mantinha laços estreitos com membros do Partido Comunista Sul-Africano (SACP), compartilhando suas crenças na luta contra o apartaheid e na busca por uma sociedade mais justa e igualitária. Sua associação com o SACP influenciou significativamente sua trajetória política”.
A criação de uma força-armada
No cenário anti-Apartheid, vigente no país da década de 1960, exisitam duas forças principais:
- o Partido Comunista Sul-Africano, convencido da necessidade da luta armada;
- a resistência negra da ANC, cujos líderes defendiam a não-violência nos protestos.
Essa configuração polarizada abriu espaço para a insatisfação de um grupo da ANC, que decidiu convocar uma série de reuniões com líderes do movimento para persuadi-los a abandonar a conduta pacífica.
O líder desse grupo divergente era Nelson Mandela, que em junho de 1961 apresentou o seu projeto de uma organização paramilitar, aprovado com relutância pela ANC.
Com isso, em 1961 nasceu o Umkhhonto We Sizwe (MK) ou Lança da Nação, na língua zulu. Ficou combinado que esse grupo teria um corpo independente com liderança própria.
Para comandá-lo, o líder comunista Joe Slovo afirma que “(...) o ANC indicou Mandela e o partido [Comunista] me indicou”.
Apesar da criação ter sido influenciada pelo Partido Comunista, e ter tido dois integrantes do partido como líderes, tratava-se oficialmente de um braço da ANC.
A ligação entre a MK e nações comunistas