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João Paulo II na América Latina: evangelização, fraternidade e luta contra o Marxismo

João Paulo II cruzou o mundo com uma missão: espalhar o Evangelho. O comunismo foi um de seus inimigos na jornada. Conheça essa história.

Por
Lucas Brandão Pelucio
Publicado em
11/8/2025 12:28
João Paulo II com Nossa Senhora Aparecida.

João Paulo II cruzou o mundo com uma missão: espalhar o Evangelho. Movido por um amor profundo pela crença na promessa de Vida de Cristo, ele levou a mensagem de esperança a todos os continentes, cumprindo o chamado de Jesus de ir “por todo o mundo (Mc 16;15)

Conhecido por seu carisma, visitou quase todos os países da América Latina, vivendo diversos momentos de união e celebração que ecoam até hoje.

O Inimigo Invisível

Mas suas missões não tiveram apenas momentos de alegria. João Paulo II enfrentava um forte inimigo, especialmente na América Latina: o comunismo, que se infiltrava cada vez mais no meio dos membros da Igreja. 

Sob a fachada da Teologia da Libertação, ideias marxistas desafiavam a doutrina católica, como alertado em diversos documentos da Igreja. Determinado a proteger a fé, ele travou uma batalha espiritual e intelectual contra a nova ameaça.

Essa produção é um conteúdo especial que complementa o documentário original O Papa que Venceu o Comunismo, da Brasil Paralelo, disponível em breve. 

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Agora, conheça uma das principais missões de João Paulo II na América Latina: a luta contra o comunismo.

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O Século XX e o avanço do comunismo

No século XX, a América Latina vivia um tempo de transformação e conflito. A América Latina estava enfrentando as mudanças causadas pela Revolução Industrial - tanto positivas quanto negativas. 

A rápida urbanização e muitos outros problemas sociais, como os abusos sociais realizados contra descendentes de escravos e imigrantes, segregavam grande parte da população, que começou a viver na miséria e a formar favelas. 

Diante desse cenário complexo, uma ideologia prometia mudar tudo: o comunismo. Ganhando força, ela seduzia mentes brilhantes, mas dividia corações.

Intelectuais e a ascensão comunista

Entre intelectuais, o comunismo encontrava eco. No Brasil, figuras como Jorge Amado, com suas obras que retratavam a luta dos pobres, e Graciliano Ramos, defensor de ideias socialistas, abraçaram a causa.

Suas vozes ressoavam, inspirando multidões. Mesmo sendo mal vista por muitos dos latino-americanos, apegados a uma visão de mundo conservadora e tradicional, o comunismo conseguiu avançar paulatinamente.

A Revolução Cubana de 1959 e a ascensão dos sandinistas na Nicarágua inflamavam sonhos de revolução.

A Expansão nas Universidades

O comunismo logo chegou às universidades, transformando-as em centros de ideias revolucionárias. 

Na Universidade de São Paulo, nos anos 1950, intelectuais como Florestan Fernandes promoviam debates marxistas, influenciando gerações de estudantes. 

Sindicatos, centros políticos e as mais variadas instituições e grupos sociais também começavam a ser influenciados por ideias marxistas.

A Infiltração na Igreja

Instituições tradicionais combatiam o marxismo e conseguiam até mesmo proibir formalmente sua existência, como ocorreu no Brasil em 1947, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra. 

Mas os revolucionários continuaram sua movimentação na ilegalidade e acabaram encontrando um terreno inesperado: a Igreja Católica. 

Apesar de várias condenações do Magistério da Igreja que chegaram a afirmar que o marxismo é “intrinsecamente perverso” - como a Encíclica Divini Redemptoris - movimentos comunistas utilizaram técnicas de infiltração e doutrinação, como foi documentado por Bella Dodd.

Tendo sido membro importante do Partido Comunista dos Estados Unidos, Dodd se converteu ao catolicismo e abandonou sua militância marxista em 1952 por influência do Bispo Fulton Sheen. 

Desde então, ela passou a atuar para desfazer seus erros e alertar a população, chegando a depor perante o Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara (HUAC), denunciando a infiltração comunista em sindicatos, escolas e outras instituições. 

Segundo ela, o partido comunista dos EUA agia nos bastidores para incentivar militantes comunistas e pessoas com pensamento semelhante a entrar nos seminários e agir em prol de seus interesses, minando o cerne do cristianismo aos poucos.

No Brasil, esse processo também foi paulatino. Após o crescimento da influência ideológica nos centros de ensino, padres e teólogos influenciados pelo marxismo se uniram e participaram da Teologia da Libertação, corrente que misturava fé cristã com luta de classes, atividade partidária e guerrilhas armadas, prometendo justiça aos pobres. 

Padres como Ernesto Cardenal, que apoiou a revolução sandinista na Nicarágua, e Camilo Torres, que se juntou à guerrilha na Colômbia, levaram a Teologia da Libertação às ruas. Frei Betto, no Brasil, auxiliou guerrilheiros em suas campanhas violentas em prol do movimento ideológico.

A Teologia da Libertação como opositora à Igreja e à sociedade

Esses padres não apenas pregavam – eles trabalhavam para espalhar a Teologia da Libertação na Igreja e na sociedade. Comunidades eclesiais de base, criadas para evangelizar, tornaram-se palcos para ideias marxistas. 

A situação estava cada vez mais caótica e cada vez mais sanguinária, e foi nesse cenário que o Papa São João Paulo II estava inserido.

Um Papa forjado em ditaduras socialistas, João Paulo II fez questão de vir à América Latina em sua primeira viagem pastoral para cuidar dos desvios de membros da Igreja.

A Polônia sob opressão

João Paulo II conhecia o comunismo como poucos. Nascido em 1920, Karol Wojtyła cresceu em uma Polônia marcada pela opressão. Aos 19 anos, durante a ocupação nazista de 1939, ele viu a fé católica ser perseguida, com padres presos e igrejas profanadas. 

Nessa época, Karol Wojtyła salvou a vida de uma jovem judia chamada Edith Zierer. Ela havia acabado de ser libertada de um campo de concentração na Polônia, no final da guerra. Estava completamente paralisada pela exaustão, sem alimentos e sem roupa de frio, desamparada devido ao caos que ainda reinava no país. 

Karol viu a situação e, comovido, a carregou por três quilômetros a pé, até chegar a uma estação de trem. Durante o percurso, deu a ela comida e uma blusa de frio. Edith foi eternamente grata por esse gesto e, muitos anos depois, reencontrou Karol durante seu pontificado, quando ele já era o Papa João Paulo II.

Após a guerra, em 1945, a Polônia foi tomada por uma ditadura marxista, que tentou sufocar a religião católica no país, impondo severas restrições à fé. Mas nada minou a vocação de Karol. Para se tornar padre, ele estudou em um seminário clandestino, arriscando a vida contra as perseguições comunistas.

O Estudo do inimigo

Karol não apenas resistiu – ele estudou o comunismo para enfrentá-lo. Como seminarista e jovem padre, mergulhou nas obras de Marx e Engels, desvendando suas teorias de luta de classes e materialismo. 

Certa vez, Jason Evert e Mario Enzler escreveram em São João Paulo, o Grande: Seus Cinco Amores, que ele até entrou "no conclave papal com um diário filosófico marxista nas mãos" para se aprofundar nas teses do movimento. 

Além disso, os mesmos biógrafos afirmaram que os comunistas temiam negociar com Wojtyła na Polônia porque ele entendia o marxismo melhor do que os oficiais do partido comunista.

O primeiro-ministro comunista da Polônia, Wojciech Jaruzelski, admite que quando conheceu João Paulo II em 1983, suas "pernas tremiam e os joelhos batiam um no outro". 

Sua formação intelectual, aliada à fé, o preparou para combater ideologias que ameaçavam a Igreja, com uma clareza que marcaria seu papado.

A primeira viagem ao México

Eleito Papa em 1978, João Paulo II escolheu o México como destino de sua primeira viagem internacional, em janeiro de 1979. 

O país era um caldeirão de tensões: a Teologia da Libertação, com suas raízes marxistas, ganhava força entre padres e comunidades, influenciada por teólogos como Gustavo Gutiérrez. 

Na Conferência de Puebla, João Paulo II enfrentou o desafio de frente. Seu discurso criticou a visão marxista da Teologia da Libertação, que via Cristo como um revolucionário político, mas também defendeu a justiça social, buscando unir a Igreja.

A Alegria das Multidões

João Paulo II levou a luz do Evangelho à América Latina como poucos. Entre 1979 e 2002, ele visitou a região 25 vezes, de México a Argentina, do Brasil ao Chile. Em cada país, multidões o recebiam com uma alegria contagiante. 

No Brasil, em 1980, mais de um milhão de pessoas lotaram as ruas de São Paulo. No México, em 1979, famílias inteiras viajaram dias para vê-lo. Sua amabilidade e carisma transformavam corações, reacendendo a fé de uma região marcada por desafios sociais.

Os frutos das viagens

Suas visitas deixaram frutos duradouros. Ele inspirou e deu força aos bispos fiéis ao Evangelho e condenou sacerdotes que se desviavam para o marxismo. Suas homilias, que chamavam os jovens à santidade, impulsionaram movimentos como a Jornada Mundial da Juventude, que reuniu centenas de milhares na Argentina em 1987.

A luta contra a Teologia da Libertação

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