Atualmente, o salário mínimo da Venezuela não é capaz de sustentar necessidades básicas de seus cidadãos, aponta o Centro de Documentação e Análise Social da Federação Venezuelana de Professores (Cendas-FVM, na sigla em espanhol).
Vídeos de venezuelanos comendo lixo viralizaram na internet, mostrando a crise econômica enfrentada pelo país.
O que aconteceu com o país que já foi considerado o mais rico da América Latina? Como a crise econômica está afetando o dia a dia dos venezuelanos?
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Segundo a ONG Centro de Documentação e Análise Social da Federação Venezuelana de Professores, a Venezuela enfrenta a maior crise econômica de sua história. Para comprar uma cesta básica, os venezuelanos precisam de 21 salários mínimos.
Em 2017, a Pesquisa sobre Condições de Vida (Encovi), realizada a partir da união das principais universidades da Venezuela, afirmou que a média de peso dos venezuelanos diminuiu 11 quilos. Uma das principais causas apontadas foi a falta de comida, já que a economia do país não consegue suprir a demanda dos cidadãos.
A mesma pesquisa afirmou que seis em cada dez cidadãos do país admitem já terem ido dormir com fome. O sistema de distribuição de alimentos do governo socialista bolivariano não consegue suprir a população.
Dia a dia na Venezuela
O venezuelano Rudy Jose Arzolar Olivero e sua família perderam um filho após ir ao lixão procurar itens de valor e comida para sanar a fome, prática comum dos habitantes da região segundo a BBC. Em entrevista para a emissora inglesa, Rudy disse:
“Depois de coletar lixo, vim para casa e meus filhos ficaram lá. Pouco depois, minha filha veio correndo e gritando: ‘Papai, acho que o Manuel está envenenado porque está no chão sem conseguir se mexer’”.
Após relatar a realidade dos venezuelanos que precisam de comer lixo para sobreviver, a equipe da Univision Notícias, rede de televisão dos Estados Unidos com programação em espanhol, foi detida no Palácio Miraflores, sede do governo de Nicolás Maduro, e receberam ordens para serem deportados.
Em 2021, a pesquisa da Encovi apontou que 94,5% dos venezuelanos vivem na pobreza, marca histórica para a Venezuela que já foi o país mais rico da América Latina na década de 80.
O que causou o colapso econômico do país que possui a maior jazida de petróleo do mundo?
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Por que a economia da Venezuela está em crise?
Para Javier Corrales, professor de ciência política do Amherst College, os principais motivos da Venezuela ter quebrado são:
Autores como Carlos Alberto Montaner, Álvaro Vargas Llosa e Luis Oliveros concordam com Javier.
Aplicação de políticas socialistas
No livro Las raíces torcidas de América Latina, Carlos Alberto Montaner diz que políticas econômicas baseadas no estatismo e no controle governamental têm prejudicado o crescimento e a competitividade da economia da Venezuela.
Outro fator apontado pelo autor é a perseguição àqueles que não apoiam o socialismo bolivariano. Segundo Carlos Alberto e organizações como a ONU, o governo tem censurado, torturado e prendido seus opositores políticos.
A adesão ao comunismo e ao socialismo é tida como uma das causas da perseguição, já que o mesmo aconteceu em experiências socialistas/comunistas como em Cuba e na União Soviética.
Os críticos do socialismo venezuelano apontam que Hugo Chávez, fundador do atual regime do país, seguia a doutrina de Karl Marx, fundador do comunismo.
Em 2006, Chávez disse:
"De 2007 a 2021 serão 14 anos para semear, aprofundaremos as raízes e estenderemos a revolução por todos os espaços para que a Venezuela seja uma República Socialista Bolivariana" (Fonte: G1.Globo.com).
O atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, trabalhava no governo de Chávez e ainda é membro do mesmo partido de seu antecessor, o Partido Socialista Unido da Venezuela. Segundo Maduro:
"Estamos empenhados em construir o socialismo do século XXI".
Na eleição presidencial de 2006, o Partido Comunista da Venezuela apoiou oficialmente a candidatura do então presidente Hugo Chávez. O candidato do Partido Comunista foi reeleito no primeiro turno, tendo obtido 62,8% dos votos segundo o sistema eleitoral do país.
Controles de preços e câmbio e má gestão econômica
O livro La nueva economía venezolana: Propuestas ante el colapso del socialismo rentista aponta que o governo de Hugo Chávez e Maduro gastaram de maneira irresponsável o dinheiro recebido com descobertas de petróleo, iniciadas em 2003 e encerradas em 2014.
José Toro Hardy, economista e ex-diretor da PDVSA, a estatal de petróleo da Venezuela, diz que as principais iniciativas que levaram o país a quebrar foram:
Segundo os autores apontados, o atual regime da Venezuela impediu que o mercado se regulasse conforme as necessidades orgânicas da população. Medidas como tabelamento de preços, estatização de empresas e impressão de dinheiro impedem que os bens e serviços sejam valorizados conforme a necessidade da população.
Entenda o que é economia de mercado e como ela surge espontaneamente em meio a vida social.
Em entrevista à BBC, o economista Giordio Cunto disse:
“A revitalização da economia de 2022 não envolvia outros setores mais produtivos e de maior valor agregado como construção, mineração, manufatura, que ficavam para trás".
Com o desequilíbrio da economia do país, cerca de 60% dos novos estabelecimentos alimentares da Venezuela fecharam após uma breve recuperação em 2022, aponta Iván Puerta, presidente da Associação de Restaurantes.
Na mesma entrevista citada, o economista Giorgio Cunto falou sobre a relação do governo com a economia em 2023:
"Ainda há muita vulnerabilidade na política monetária, já que ela não se movimenta sozinha, mas está atrelada ao Executivo. Assim, não vamos crescer mais do que 5% neste final de ano."
Falta de respeito ao Estado de Direito e a direitos humanos básicos
Segundo o historiador Daniel Neves Silva, uma das principais atitudes responsáveis por quebrar a democracia venezuelana foi a reforma jurídica feita pelo revolucionário Hugo Chávez.
O presidente aumentou o número de juízes de 20 para 32, tendo nomeado 12 defensores de seu governo. Segundo Daniel, Chávez perseguiu opositores e procurou perpetuar-se no poder por meio de reformas na Constituição.
Em relatório divulgado em agosto de 2022, a ONU apontou que os serviços de inteligência da Venezuela cometeram crimes contra a humanidade sob ordens das esferas mais elevadas do governo para reprimir a oposição.
"Esse plano foi orquestrado no nível político mais alto, liderado pelo presidente Nicolás Maduro", ressaltou em entrevista coletiva Marta Valiñas, presidente da Missão Internacional Independente da ONU sobre a Venezuela.
"Nossas investigações e análises mostram que o Estado venezuelano usa os serviços de inteligência e seus agentes para reprimir a dissidência no país. Isso leva à prática de crimes graves e violações de direitos humanos, incluindo atos de tortura e violência sexual", denunciou Marta.
O relatório apontou que Maduro e pessoas de seu círculo próximo “participaram da seleção dos alvos”.