O avião da comitiva venezuelana pousou em Belém trazendo um discurso ambiental enquanto a floresta amazônica da Venezuela sofre um dos maiores desastres ambientais da nossa época.
Desde 2016, o regime de Nicolás Maduro converteu 12% do território nacional em uma zona de mineração. O projeto é chamado de “Arco Mineiro do Orinoco", e é uma das maiores iniciativas extrativistas da América Latina.
Na prática, o projeto entregou 111 mil km² da Amazônia a conglomerados e grupos armados.
O Arco Mineiro vem sendo denunciado não só como um ecocídio, mas também como uma política de extrativismo que busca manter as finanças do regime venezuelano.
Criado em 2016 por decreto presidencial de Nicolás Maduro, o Arco Mineiro do Orinoco ocupa 111 mil quilômetros quadrados, cerca de 12% do território nacional, uma área maior que Portugal.
Localizado ao sul do rio Orinoco, coração hídrico da Venezuela que conecta com o rio Amazonas, o projeto foi apresentado como um “plano de desenvolvimento estratégico” para diversificar a economia após o colapso do petróleo, principal sustento da economia venezuelana.
Isso foi na teoria. Na prática, o governo entregou a Amazônia venezuelana à mineração industrial e ilegal, permitindo a entrada de empresas transnacionais como Gold Reserve e Barrick Gold, além de militares e grupos criminosos.
Imagens do Arco Mineiro. Crédito: Flickr.
Hoje, a região é uma mistura de zona de guerra, enclave mafioso e campo de extração. O Estado não age nela, e o poder pertence aos grupos armados, os chamados pranes, herdeiros do sistema carcerário que controlam minas, cobram “impostos” e impõem sua lei.
Quais os efeitos do Arco Mineiro?
Devastação ambiental
Organizações como a SOS Orinoco e o Observatório de Ecologia Política relatam 1 milhão de hectares de floresta destruídos apenas no Parque Nacional Canaima, patrimônio da humanidade.
O uso de mercúrio e cianeto na extração contaminou os rios Cuyuní, Caroní e Orinoco, afetando o sistema hidroelétrico que gera 80% da energia do país.
A água contaminada chega às aldeias indígenas e às cidades ribeirinhas. O resultado: 35% dos indígenas da etnia pemón apresentam níveis tóxicos de mercúrio no sangue.
Imagem de satélite do Cerro Yapacana, mostrando o impacto da mineração em suas encostas. Fonte: Google Earth, capturada em 2018.
Colapso sanitário
Com a floresta derrubada e os rios poluídos, doenças erradicadas voltaram a se espalhar. A malária, eliminada no ano 2000, ressurgiu com força e já atinge 74% dos casos concentrados no estado Bolívar.
Hospitais sem medicamentos e comunidades isoladas tornaram a epidemia incontrolável.
Violência e deslocamentos
A mineração ilegal trouxe consigo um império de violência. Máfias locais, guerrilheiros e militares disputam o controle das minas. Além disso, denúncias da companhia britânico Grey Dynamics sobre a presença dos paramilitares russos do Grupo Wagner na Amazônia trazem uma dimensão geopolítica ao conflito.
O resultado: massacres, estupros e desaparecimentos. Povos como os pemón, yanomami e ye’kuanas foram expulsos de suas terras, forçados a trabalhar nos garimpos ou a migrar.
Crédito: Observatório de Ecologia Política da Venezuela
Corrupção institucionalizada
Estimativas da Transparência Venezuela indicam que até 90% do ouro produzido sai ilegalmente do país, alimentando redes de contrabando e contas secretas.
E as COPs, o que dizem sobre isso?
Desde a criação do Arco Mineiro, nenhuma Conferência do Clima tratou diretamente da destruição da Amazônia venezuelana.
Nem mesmo os países amazônicos, reunidos no Tratado de Cooperação Amazônica, enfrentaram o tema com a seriedade que ele exige.
A situação da Amazônia é alvo de políticas e de uma guerra de narrativas, por trás das quais interesses geopolíticos se escondem. Se você quer conhecer mais, assista o Especial da COP30 que a Brasil Paralelo lançou respondendo perguntas de muita relevância.