Criminosos oferecem promessas de emprego para atrair as vítimas
Segundo a organização The Exodus Road, é comum que os criminosos abordem pessoas vulneráveis com falsas promessas de emprego.
Empregos com salários altos por funções simples são extremamente atraentes para pessoas em situações de vulnerabilidade.
Esse modo de captura é particularmente comum entre imigrantes, muitas vezes contactados por recrutadores terceirizados.
Segundo um relatório da Organização Internacional do Trabalho, o trabalho desses criminosos é facilitado pela falta de conhecimento da região:
“Recrutadores terceirizados, muitas vezes operando de forma ilegal ou semi-legal, podem ser a única fonte de informações sobre emprego disponível para os migrantes. Isso torna mais fácil para eles mentirem sobre a natureza dos empregos e as condições de trabalho.”
Recrutamento por questões emocionais
Outra tática de recrutamento que cresce ao longo dos anos é conhecida como “Romeo” ou “Loverboy”. Os criminosos entram em contato com vítimas carentes de afeto e atenção e começam a se relacionar.
Segundo o Departamento de Estado dos EUA, eles usam falsas promessas de amor para atrair e explorar suas vítimas:
“Alegadamente, os traficantes usam a promessa de casamento ou de um relacionamento romântico para atrair mulheres jovens para fora de suas casas e redes de apoio, tornando-as menos propensas a tentar escapar uma vez forçadas ao tráfico de trabalho ou tráfico sexual”
Um caso do tipo que chamou a atenção da mídia internacional foi a acusação da polícia romena contra o influenciador Andrew Tate.
Tate teria usado a internet para se relacionar com mulheres e convencê-las a se mudar para a Romênia.
Uma vez no país, ele as submetia a cárcere privado e as forçava a produzirem conteúdos adultos em plataformas como o Only Fans.
Ele teria conseguido cooptar ao menos 35 vítimas e arrecadado um valor estimado em aproximadamente R$15.4 milhões.
Traficantes usam as redes sociais para aliciar suas vítimas
Em um mundo cada vez mais conectado, os traficantes têm usado cada vez mais as redes sociais para cooptar suas vítimas.
O Departamento de Estado destaca que os criminosos têm aprimorado as formas tradicionais de cooptação nas redes sociais.
Assim, eles manipulam aplicativos de emprego ou de namoro para conseguir acesso a vítimas com mais facilidade:
“Os traficantes também podem se apresentar como recrutadores ou exploradores de modelos em plataformas de namoro e prometer ofertas lucrativas de carreira a indivíduos desavisados. O anonimato ou o uso de informações falsas incluídas em perfis online permite que os traficantes se apresentem falsamente e enganem os indivíduos visados.”
A Exodus Road reconhece o crescimento dessa tática, afirmando que 27,5% dos casos em que atuou envolveram processo de aliciamento online.
Familiares também podem ser responsáveis pelo tráfico
Em aproximadamente 41% dos casos, os aliciamentos são feitos por membros da própria família.
O Departamento de Estado dos EUA classifica o tráfico familiar como “quando um membro da família ou tutor é o traficante da vítima ou aquele que vende a criança a um traficante terceiro”.
O mesmo órgão afirma que essa modalidade é extremamente difícil de ser combatida pelas autoridades.
A maior parte das vítimas começa a ser iniciada desde cedo, com a média etária das vítimas em 12 anos.
Isso faz com que elas não se identifiquem como vítimas ou não consigam verbalizar a situação.
Outro ponto é a proximidade e confiança da vítima com seu familiar, que diminuí a possibilidade de denúncias.
Além disso, esse tipo de crime pode estar ligado à cultura familiar, de modo que os parentes aceitem e normalizem a situação:
“Quando o membro da família é o traficante, a exploração muitas vezes é normalizada e aceita dentro da cultura familiar, por vezes atravessando gerações. Essa normalização da exploração também pode ocorrer quando o tráfico familiar está ligado a fatores econômicos e culturais, como em alguns casos de trabalho infantil forçado na agricultura.”
Como os traficantes mantêm suas vítimas?
A Exodus Road destaca que os traficantes costumam manter suas vítimas com base em suas vulnerabilidades.
Em regiões de extrema pobreza, eles garantem recursos básicos para a sobrevivência, como alimentos e água, em troca da exploração.
Os traficantes também utilizam de manipulações emocionais e psicológicas para garantir que suas vítimas não tenham como escapar.
Entre as artimanhas utilizadas estão ameaças de morte, ameaças contra familiares e até agressões físicas para criar um clima de medo e terror:
“Eu não tinha permissão para falar com ninguém... não podia olhar para ninguém. Eu tinha que olhar para ele ou para o chão. E se você fizesse besteira em público, então você seria espancado assim que voltasse para a sala... será uma opção”, contou uma sobrevivente para o Deliver Fund.
A Organização Internacional do Trabalho também menciona alguns dos métodos utilizados para manter as vítimas.
Uma das táticas mais comuns, especialmente contra imigrantes, é a retenção de documentos.
Assim que os traficantes têm suas vítimas sob controle, eles tomam os documentos oficiais, impedindo que ela consiga deixar o local e buscar ajuda:
“A retenção de passaportes e outros documentos de identidade é uma das formas mais comuns de coerção, restringindo a liberdade de movimento do trabalhador migrante, impedindo-o de buscar ajuda e prendendo-o em trabalho forçado.”
Outra forma comum é a ligação por dívidas, na qual a vítima é obrigada a arcar com custos de transporte e outros gastos.
Os pagamentos podem ser utilizados como uma estratégia para manter as pessoas traficadas:
“Aceitar crédito para despesas como custos de viagem coloca imediatamente o trabalhador em dívida com seus empregadores. Essa dívida pode então ser manipulada por meio de súbitos ‘aumentos’ nas taxas de juros ou de cobranças ocultas.”
O Chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, afirma que o cenário está piorando por causa de crises internacionais.
Ele destaca que cenários como conflitos armados, recessões e insegurança alimentar aumentam a vulnerabilidade social e facilitam o trabalho dos criminosos.