O ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, de 63 anos, foi executado a tiros na noite desta segunda-feira (15), em Praia Grande, no litoral paulista.
A principal linha de investigação aponta que o crime pode ter sido ordenado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que ele enfrentou durante boa parte de sua carreira.
Segundo a Polícia Militar, Fontes dirigia seu carro quando foi atacado. O veículo perdeu o controle, bateu em um ônibus, capotou e parou no meio da via.
Em seguida, homens armados que vinham em outro carro desceram e dispararam diversas vezes contra o delegado. Câmeras de segurança registraram a perseguição: Fontes tentou fugir, mas acabou atingido por mais de 20 tiros.
O crime mobilizou uma força-tarefa das polícias Civil e Militar. O governador Tarcísio de Freitas determinou prioridade máxima nas investigações e no reforço da segurança de autoridades ligadas ao combate ao crime organizado.
Nascido em 1961, Ruy Ferraz Fontes formou-se em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo e se especializou em Direito Civil e Administração Pública.
Capacitou-se em cursos internacionais de combate ao narcotráfico e ao terrorismo na França e no Canadá, experiências que ajudaram a moldar sua atuação futura contra o crime organizado.
Ingressou na Polícia Civil ainda nos anos 1980. Seu primeiro cargo foi como delegado titular em Taguaí, pequena cidade do interior paulista. Logo foi transferido para unidades da capital, onde se destacou em investigações de homicídios e tráfico de drogas.
Ao longo da carreira, passou por alguns dos departamentos mais estratégicos:
Foi no início dos anos 2000 que Fontes se consolidou como um dos principais nomes do enfrentamento ao Primeiro Comando da Capital.
Em 2006, durante a onda de ataques coordenados pela facção contra agentes públicos e unidades policiais, ele participou das principais operações de investigação.
Fontes comandou equipes que mapearam a estrutura de comando do grupo e foi responsável pelo indiciamento de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, um dos principais líderes do PCC.
A ofensiva policial resultou em centenas de prisões e transferências de líderes para presídios de segurança máxima.
Nos anos seguintes, esteve à frente de operações contra o narcotráfico internacional, investigando a atuação de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, considerado braço direito de Marcola.
Ele foi capturado em Moçambique em 2020, em uma ação conjunta com a Polícia Federal e autoridades internacionais.
Fontes sempre esteve na lista de alvos da facção. Em 2010, a polícia descobriu um plano de execução contra ele. Em 2019, quando defendeu novamente a transferência de líderes do PCC para o sistema penitenciário federal, voltou a receber ameaças diretas.
Em 2019, Ruy Ferraz Fontes assumiu o cargo de delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, o mais alto posto da instituição.
Durante o período, defendeu medidas de endurecimento contra o PCC, incluindo o isolamento de lideranças em presídios federais de segurança máxima.
Também coordenou investigações sobre crimes de grande repercussão, como roubos a bancos e organizações especializadas em tráfico internacional.
Em janeiro de 2023, deixou a Delegacia-Geral depois que Tarcísio de Freitas nomeou o Dr. Artur José Dian para o cargo, de livre indicação do Governador. Desde então, passou a comandar a Secretaria de Administração de Praia Grande, onde permaneceu até ser morto.
A gestão de Fontes foi marcada pelo discurso de modernização da polícia, com investimentos em inteligência e tecnologia, ao mesmo tempo em que mantinha a ênfase na repressão ao crime organizado.
Após deixar o comando da Polícia Civil em 2022, Fontes se aposentou. No ano seguinte, foi convidado a integrar a administração municipal de Praia Grande, onde atuou como secretário de Administração.
Mesmo fora da linha de frente das investigações, permanecia sob ameaça. Em relatórios de inteligência, seu nome aparecia entre os alvos potenciais de facções criminosas.
Meses antes do atentado, em entrevista, o ex-delegado afirmou que temia por sua vida.
“Eu tenho proteção de quem? Eu moro sozinho, vivo sozinho na Praia Grande, que é no meio deles. Pra mim é muito difícil. Se eu fosse um policial da ativa, eu tava pouco me importando, teria estrutura para me defender, hoje não tenho estrutura nenhuma”.
Na noite de 15 de setembro de 2025, Fontes deixou um compromisso em Praia Grande quando foi emboscado.
As câmeras de segurança mostram o carro do delegado sendo seguido por outro veículo. Após a colisão com um ônibus, os criminosos se aproximaram e efetuaram disparos de fuzil.
A Polícia Civil confirmou que mais de 20 cápsulas foram recolhidas no local. O modo de execução, com perseguição, colisão e tiros à queima-roupa, reforça a suspeita de um crime de mando.
Até agora, nenhum grupo assumiu a autoria, mas investigadores trabalham com a hipótese de que o ataque tenha sido ordenado pelo PCC como retaliação às operações comandadas por Fontes ao longo de sua carreira.
O velório foi realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e contou com a presença de familiares, colegas de corporação e autoridades políticas.
Para a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, a morte de Fontes simboliza a perda de um dos quadros mais experientes da corporação e reforça a necessidade de atenção permanente ao risco de retaliações de facções.
Após o crime, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, anunciou o envio de mais de 100 policiais ao litoral e a criação de uma força-tarefa para capturar os envolvidos.
Dois suspeitos de participação no crime já foram identificados. Durante o velório de Fontes, o secretário Guilherme Derrite afirmou que um deles já havia sido detido outras vezes.
“É um indivíduo que já foi preso várias vezes pelas forças policiais. Foi preso por roubo duas vezes, por tráfico duas vezes, foi preso quando era adolescente infrator”
A Prefeitura de Praia Grande e a Secretaria da Segurança Pública lamentaram a morte. Segundo a PM, o carro utilizado pelos criminosos já foi localizado, e a cena do crime foi preservada para a perícia.
Fontes deixa esposa e filhos. Sua trajetória é lembrada pelo protagonismo no enfrentamento ao PCC e pela defesa da modernização da Polícia Civil.
O ex-delegado já havia sido jurado de morte pela cúpula do PCC depois de investigar a facção no início dos anos 2000. Sua morte expõe, mais uma vez, o alcance do crime organizado no Brasil.
Essa realidade é tema de Entre Lobos, a maior investigação já feita sobre segurança pública no país. O documentário revela como as facções cresceram, como operam dentro e fora das prisões e o impacto direto dessa guerra na vida dos brasileiros.
Desbloqueie seu acesso a este e a todos os originais BP por apenas R$10 mensais.
Como um veículo independente, não aceitamos dinheiro público. O que financia nossa estrutura são as assinaturas de cada pessoa que acredita em nossa causa.
Quanto mais pessoas tivermos conosco nesta missão, mais longe iremos. Por isso, agradecemos o apoio de todos.
Seja também um membro da Brasil Paralelo e nos ajude a expandir nosso jornalismo.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP