Governo Trump persegue cartéis considerados terroristas
Logo no início do seu mandato, em fevereiro, Trump classificou o Cartel de Sinaloa (México) e o Tren de Aragua (Venezuela) como organizações terroristas estrangeiras — rótulo até então restrito a grupos como Al-Qaeda e Estado Islâmico.
O argumento de Washington é que esses cartéis extrapolaram o crime organizado ao unirem narcotráfico, contrabando de migrantes e violência armada em escala transnacional. Com base nessa classificação, o presidente americano assinou, no início de agosto, uma diretriz sigilosa autorizando o Pentágono a empregar militares contra esses grupos. A informação foi revelada pelo New York Times.
A recompensa bilionária
A escalada também tem um alvo direto: Nicolás Maduro. Washington dobrou a recompensa por sua captura, de US$25 milhões para US$50 milhões (cerca de R$273 milhões). É o maior valor já oferecido pelo governo americano na história.
O Departamento de Justiça dos EUA acusa o líder chavista de comandar o Cartel de los Soles, que articula narcotráfico, poder estatal e milícias. Para os americanos, essa estrutura representa uma ameaça direta à segurança continental. Maduro sempre negou qualquer relação com o grupo.
Adriano Gianturco, professor de relações internacionais do IBMEC, indicam que a situação se agrava de modo progressivo:
"Na Venezuela, tudo indica que será isso mesmo, os navios se aproximando das costas venezuelanas, mesmo ainda em águas internacionais, o aumento do dinheiro em cima da cabeça do Maduro. Há alguns meses notícias de bastidores falam que tem já agentes da CIA já em solo venezuelano."
Maduro afirma que “nenhum império vai tocar no solo sagrado da Venezuela”
A reação de Caracas não tardou. Maduro anunciou a mobilização de 4,5 milhões de milicianos para defender o país:
“Vou ativar nesta semana um plano especial para garantir a cobertura de todo o território nacional. Milícias preparadas, ativadas e armadas”, declarou em rede nacional.
O regime venezuelano também suspendeu por 30 dias o uso de aeronaves pilotadas e não pilotadas — incluindo drones —, alegando “salvaguardar a segurança” nacional. A medida resgata um trauma de 2018, quando explosões de drones interromperam um discurso de Maduro em Caracas.
Em pronunciamento ao lado de generais, o ditador elevou o tom:
“Defendemos nossos mares, nossos céus e nossas terras. Nós os libertamos. Nós os vigiamos e os patrulheiros. Nenhum império tocará o solo sagrado da Venezuela, nem deve tocar o solo sagrado da América do Sul”, enfatizou no discurso.”
A movimentação política regional
A movimentação americana repercutiu entre vizinhos. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, declarou que militares dos EUA não entrarão em território mexicano e descartou risco de intervenção.
Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro alertou que uma invasão à Venezuela poderia arrastar seu país para dentro do conflito e transformar a região em “uma nova Síria”.
Brasil não se posiciona
No Brasil, as reações expuseram contradições. O comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, afirmou em Manaus que a tensão preocupa e confirmou a manutenção de tropas e material bélico na fronteira norte.
O assessor especial da Presidência, Celso Amorim, também se manifestou, mostrando inquietação com a presença de navios americanos tão próximos à costa venezuelana.
Já o presidente Lula tem evitado chamar Maduro de ditador, afirmando que a Venezuela vive uma “democracia relativa”. Ao mesmo tempo, participa de encontros do Foro de São Paulo, alinhando-se a outros líderes autoritários da região.
A postura brasileira também se distancia de Washington em outro ponto: o governo não classifica o PCC e o Comando Vermelho como organizações terroristas.
Para os EUA, essas facções têm poder armamentista e territorial comparável ao de forças militares.
Segundo Gianturco, a diferença em relação ao Brasil é clara. “Aqui não há o cenário para algo desse tipo, seria descabido. O país tem instituições democráticas consolidadas. Para ele, no caso brasileiro, o máximo que se pode esperar é “uma postura diplomática mais dura, como a convocação de embaixadores, o reforço de missões diplomáticas ou a ampliação da presença de agentes de inteligência sob cobertura diplomática”.
A pergunta que fica
A ofensiva americana contra cartéis de drogas na América Latina coloca Maduro contra a parede. A mobilização militar, somada à recompensa bilionária por sua captura, pode indicar o início de uma nova guerra regional.
O cerco remete às disputas da Guerra Fria, mas agora com um novo elemento central: o narcotráfico.