Os Estados Unidos intensificaram sua presença militar na América Latina. Nesta semana, três navios devem chegar às águas próximas da Venezuela.
O envio das embarcações faz parte de uma operação para combater cartéis de drogas considerados por Washington como organizações terroristas internacionais. Segundo autoridades ouvidas pela Reuters, a mobilização envolve mais de 4 mil fuzileiros navais e marinheiros e poderá durar meses, com atuação em espaços aéreos e marítimos internacionais.
A mensagem política foi reforçada pela porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt:
“O presidente Donald Trump está preparado para usar toda a força americana para impedir que as drogas inundem nosso país e levar os responsáveis à Justiça. O regime de Maduro não é o governo legítimo — é um cartel narcoterrorista.”
A porta-voz da Casa Branca foi além. Afirmou que o regime de Maduro não é o governo legítimo da Venezuela.
“É um cartel narcoterrorista, e Maduro não é um presidente legítimo. Ele é o chefe fugitivo deste cartel, já indiciado nos EUA por tráfico de drogas”.
Logo no início do seu mandato, em fevereiro, Trump classificou o Cartel de Sinaloa (México) e o Tren de Aragua (Venezuela) como organizações terroristas estrangeiras — rótulo até então restrito a grupos como Al-Qaeda e Estado Islâmico.
O argumento de Washington é que esses cartéis extrapolaram o crime organizado ao unirem narcotráfico, contrabando de migrantes e violência armada em escala transnacional. Com base nessa classificação, o presidente americano assinou, no início de agosto, uma diretriz sigilosa autorizando o Pentágono a empregar militares contra esses grupos. A informação foi revelada pelo New York Times.
A escalada também tem um alvo direto: Nicolás Maduro. Washington dobrou a recompensa por sua captura, de US$25 milhões para US$50 milhões (cerca de R$273 milhões). É o maior valor já oferecido pelo governo americano na história.
O Departamento de Justiça dos EUA acusa o líder chavista de comandar o Cartel de los Soles, que articula narcotráfico, poder estatal e milícias. Para os americanos, essa estrutura representa uma ameaça direta à segurança continental. Maduro sempre negou qualquer relação com o grupo.
Adriano Gianturco, professor de relações internacionais do IBMEC, indicam que a situação se agrava de modo progressivo:
"Na Venezuela, tudo indica que será isso mesmo, os navios se aproximando das costas venezuelanas, mesmo ainda em águas internacionais, o aumento do dinheiro em cima da cabeça do Maduro. Há alguns meses notícias de bastidores falam que tem já agentes da CIA já em solo venezuelano."
A reação de Caracas não tardou. Maduro anunciou a mobilização de 4,5 milhões de milicianos para defender o país:
“Vou ativar nesta semana um plano especial para garantir a cobertura de todo o território nacional. Milícias preparadas, ativadas e armadas”, declarou em rede nacional.
O regime venezuelano também suspendeu por 30 dias o uso de aeronaves pilotadas e não pilotadas — incluindo drones —, alegando “salvaguardar a segurança” nacional. A medida resgata um trauma de 2018, quando explosões de drones interromperam um discurso de Maduro em Caracas.
Em pronunciamento ao lado de generais, o ditador elevou o tom:
“Defendemos nossos mares, nossos céus e nossas terras. Nós os libertamos. Nós os vigiamos e os patrulheiros. Nenhum império tocará o solo sagrado da Venezuela, nem deve tocar o solo sagrado da América do Sul”, enfatizou no discurso.”
A movimentação americana repercutiu entre vizinhos. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, declarou que militares dos EUA não entrarão em território mexicano e descartou risco de intervenção.
Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro alertou que uma invasão à Venezuela poderia arrastar seu país para dentro do conflito e transformar a região em “uma nova Síria”.
No Brasil, as reações expuseram contradições. O comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, afirmou em Manaus que a tensão preocupa e confirmou a manutenção de tropas e material bélico na fronteira norte.
O assessor especial da Presidência, Celso Amorim, também se manifestou, mostrando inquietação com a presença de navios americanos tão próximos à costa venezuelana.
Já o presidente Lula tem evitado chamar Maduro de ditador, afirmando que a Venezuela vive uma “democracia relativa”. Ao mesmo tempo, participa de encontros do Foro de São Paulo, alinhando-se a outros líderes autoritários da região.
A postura brasileira também se distancia de Washington em outro ponto: o governo não classifica o PCC e o Comando Vermelho como organizações terroristas.
Para os EUA, essas facções têm poder armamentista e territorial comparável ao de forças militares.
Segundo Gianturco, a diferença em relação ao Brasil é clara. “Aqui não há o cenário para algo desse tipo, seria descabido. O país tem instituições democráticas consolidadas. Para ele, no caso brasileiro, o máximo que se pode esperar é “uma postura diplomática mais dura, como a convocação de embaixadores, o reforço de missões diplomáticas ou a ampliação da presença de agentes de inteligência sob cobertura diplomática”.
A ofensiva americana contra cartéis de drogas na América Latina coloca Maduro contra a parede. A mobilização militar, somada à recompensa bilionária por sua captura, pode indicar o início de uma nova guerra regional.
O cerco remete às disputas da Guerra Fria, mas agora com um novo elemento central: o narcotráfico.
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