Um conjunto habitacional na rua Novo habitat, em Diadema, tem causado polêmica nas redes sociais.
Montagens comparando o estado das habitações quando foram entregues pela prefeitura em 2018 e atualmente tem viralizado.
Antes as construções mantinham fachadas coloridas e alinhadas, agora o cenário é tomado por puxadinhos de tijolos sem tinta avançando sobre a calçada.
O deputado Nikolas Ferreira chegou a fazer uma publicação sobre o caso, alegando que a favelização do local aconteceu por causa da índole dos moradores:
“O Brasil não é pobre - é desordenado. Você dá casa pronta, pintada, alinhada. Em poucos anos vira tijolo cru, gambiarras e caos. Não é economia: é caráter, cultura e espírito. Enquanto não entendermos que decadência começa dentro do homem: espírito adoecido que repele ordem e beleza.”
O jornal The Intercept Brasil criticou o comentário do deputado e fez uma reportagem especial visitando a comunidade:
Outra figura que se pronunciou sobre o caso em suas redes sociais foi Renan dos Santos, um dos líderes do MBL.
Ele afirma que o processo se deu por conta da mentalidade das pessoas que moram no local:
“Isso mostra que não adianta criar projetos habitacionais, a mentalidade de favela precisa ser descontrúída. A favela está tão incrustada na cabeça dos moradores que mesmo após receber uma habitação, eles invadem o espaço público porque entendem que é passível de ser invadido e transformam a casa deles em uma favela.”
O conjunto Novo Habitat foi referência nacional de habitação popular e foi criado para resolver uma ocupação antiga.
Onze famílias que viviam em barracos estabelecidos em corredor estreito na região, próximo a uma indústria e área de mata fechada, não aceitaram deixar o local.
Para resolver a situação, a prefeitura decidiu urbanizar o local, construindo lotes de 5 m x 5 m e sobrados de 48,5 m².
Nas imediações, outras moradias maiores, de 67,6 m², também foram entregues. Ao todo, foram 24 novas unidades com verba municipal de R$2,135 milhões do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Popular.
As casas tinham sala com cozinha integrada, lavanderia, dois quartos e um banheiro, o conjunto recebeu murais artísticos, horta comunitária e ações do programa Bem Viver.
Como registrado pelo Google Maps, a descaracterização veio ao longo do ano, acelerada após a pandemia, principalmente a partir de 2021.
A arquiteta Rafaella Brasileiro falou para a Brasil Paralelo que o conjunto poderia ser recuperado, mas a reconstrução deveria ser feita juntamente com um processo educacional:
“Sempre é possível. Porém, tem que entender que resolver com obra não será suficiente. É preciso um arcabouço cultural para que o que que foi construído, perpetue.”
Ela destaca que as medidas educacionais precisam vir acompanhadas de estruturas de qualidade, o que desincentiva vandalismo e descuido por si só:
“Quando o conjunto traz referências de beleza, ordem e cuidado, materiais que duram, áreas comuns bem iluminadas e agradáveis, ele convida as pessoas a cuidar. A arquitetura pode educar o olhar: onde há harmonia e clareza de regras, a comunidade tende a se organizar melhor.”
Essa visão vai de encontro com a Teoria das Janelas Quebradas, segundo a qual ambientes marcados pela desordem tendem a incentivar vandalismo e irregularidades, como explicou Rafaella:
“Quando toleramos pequenas quebras de ordem a mensagem é de que ‘tudo vale’. O brasileiro acabou se acostumando ao feio e normalizou a desordem. O caminho de volta passa por reordenar padrões: regras claras, fiscalização e consequências, junto de boa arquitetura e urbanismo… Quando o lugar comunica ordem e cuidado, as pessoas tendem a cuidar mais, improvisar menos e dar mais certo, vamos dizer assim.”
Por outro lado, o arquiteto Rafael Simões afirma que a recuperação do conjunto é “muito improvável”, uma vez que “implicaria na demolição generalizada”.
Ele também destacou que a fiscalização é uma peça fundamental para impedir que esse tipo de processo aconteça:
“O poder público exercer fiscalização severa aplicada nas construções regularizadas. E claro, a legislação obrigar proibições aos contemplados de desfigurar o imóvel recebido.”
Outro ponto que Simões apresenta é que a mentalidade dos moradores não é o único causador do processo de favelização.
Para o arquiteto, as necessidades daquela população fez com que as alterações no nas casas acontecessem:
“Não só a mentalidade desorganizada, ainda há necessidade aglutinadora de incluir parentes e serviços, desfigurando as construções para atender as necessidades intrínsecas.”
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