Independência do dólar americano
O presidente chegou à Indonésia na terça-feira (21) para uma visita de Estado voltada ao comércio e à cooperação tecnológica.
Após compromissos em Jacarta, Lula seguirá para a Malásia, onde participará da Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
Durante o evento, está previsto um novo encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que também participa da reunião multilateral.
Antes de deixar a Indonésia, Lula reiterou sua defesa pelo uso de moedas locais no comércio internacional, como alternativa ao dólar.
“Nós queremos comércio livre. Tanto a Indonésia quanto o Brasil têm interesse em discutir a possibilidade de a comercialização entre nós dois ser com as nossas próprias moedas”, disse.
O presidente afirma que o Pix brasileiro e o Qris indonésio são exemplos de sistemas de pagamento eficientes. De acordo com ele, esses modelos poderiam inspirar soluções no âmbito do BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e novos países parceiros.
“No âmbito do BRICS, o Pix brasileiro e o Qris indonésio oferecem modelos de pagamentos eficazes que podem facilitar o comércio em moedas locais”.
Tensões diplomáticas com os EUA
A defesa de Lula por um comércio menos dependente do dólar reacende uma discussão iniciada meses antes.
Durante a cúpula do BRICS realizada no Rio de Janeiro, em julho, uma declaração semelhante do presidente brasileiro causou desconforto entre o governo dos Estados Unidos.
Na ocasião, Donald Trump classificou a iniciativa como parte de “políticas antiamericanas” e ameaçou adotar tarifas extras de até 10% contra países alinhados ao bloco.
“A administração do presidente Trump considera que o BRICS busca minar os interesses dos Estados Unidos. Ele não vê esses países se fortalecendo, mas como tentativas de minar nossa liderança”, afirmou na época sua porta-voz, Karoline Leavitt.
Após as declarações, Washington chegou a impor tarifas adicionais sobre produtos de países do BRICS, o que ampliou a tensão comercial entre os blocos econômicos.
Acordo não deve acontecer na reunião entre Lula e Trump
Apesar do clima de incerteza, Lula afirmou que o diálogo com os Estados Unidos continua aberto.
“Se eu não acreditasse que fosse possível fazer um acordo, eu não participaria da reunião”,.
Ele destacou, porém, que não espera um desfecho imediato no próximo encontro com Trump.
“O acordo certamente não será feito amanhã, ou depois de amanhã quando eu me reencontro com ele. O acordo será feito pelos negociadores”, afirmou.
Os representantes designados para conduzir o processo são o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio.
Ambos se reuniram na Casa Branca em 16 de outubro e, em nota conjunta, classificaram o encontro como “muito positivo”.
A viagem de Lula à Ásia faz parte de uma estratégia mais ampla de diversificação de parcerias internacionais.
O governo brasileiro tem buscado fortalecer o diálogo com países do Sudeste Asiático e do BRICS como forma de reduzir custos de transação e dependência do sistema financeiro baseado no dólar.
Atualmente, quase todas as operações internacionais passam pelo sistema SWIFT, controlado majoritariamente por bancos ocidentais.
A criação de mecanismos alternativos de pagamento, em moedas locais, é vista como uma tentativa de aumentar a autonomia econômica de países emergentes. Durante o discurso a empresários em Jacarta, Lula reforçou esse ponto.
“O século XXI exige que tenhamos a coragem que não tivemos no século XX. Precisamos mudar a forma de agir comercialmente para não ficarmos dependentes de ninguém”.
Após a participação na cúpula da ASEAN e o esperado encontro com Donald Trump, a comitiva presidencial retorna ao Brasil no início da próxima semana.