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Atualidades
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Jogo do Bicho é crime? Prática voltou a ser pesquisada após sucesso de Os Donos do Jogo

Prática comum há mais de um século, o jogo do bicho é proibido por lei. Entenda o motivo.

Por
Redação Brasil Paralelo
Publicado em
14/11/2025 12:31
BBC

O sucesso da série Os Donos do Jogo reacendeu o interesse pelo universo do jogo do bicho, tradição carioca com mais de um século de história e que moldou bairros, escolas de samba, fortunas, guerras familiares e até a política do Rio de Janeiro.

A dúvida que sempre volta à tona também reapareceu: afinal, o jogo do bicho é crime no Brasil?

Juridicamente, o jogo do bicho é uma contravenção penal, uma infração mais leve do que um crime comum, mas ainda assim proibida. Ele está previsto no artigo 58 da Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei nº 3.688/41):

“Explorar ou realizar a loteria denominada jogo do bicho… Pena: prisão simples de 4 meses a 1 ano, e multa.”
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Por que o jogo do bicho é proibido?

Desde 1895, o Estado questiona a integridade dos sorteios e a facilidade para manipular resultados. Além disso, o sistema clandestino envolvia riscos de extorsão, corrupção, violência e lavagem de dinheiro.

Mesmo sendo tão difundido, o costume não revoga a lei. A regra continua em vigor até que outra a substitua, segundo o artigo 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

O apostador pode ser preso?

Na prática, dificilmente. Como é uma contravenção de menor potencial ofensivo, a lei permite uma solução negociada chamada transação penal, pagamento de multa ou participação em atividades educativas sem registro criminal.

No entanto, para organizadores e financiadores, o cenário é bem diferente. Eles podem responder por associação criminosa, corrupção, homicídios ligados a disputas territoriais e lavagem de dinheiro.

Da rifa ao império: por que o bicho durou tanto?

O jogo do bicho sobreviveu por mais de 130 anos por três motivos principais:

  1. Popularidade: a chance de ganhar sempre foi maior do que em loterias oficiais.
  2. Confiança: a tradição de pagar sem atraso consolidou reputação.
  3. Rede de influência: alianças com políticos, policiais e setores culturais deram legitimidade social.

Essa combinação transformou algo criado para salvar um zoológico em um dos sistemas ilegais mais longevos e estruturados do país.

A origem: um zoológico falido, 25 animais e um país em crise

O jogo nasceu em 1892, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro. O responsável foi João Batista Viana Drummond, o Barão de Drummond, monarquista convicto, amigo de Dom Pedro II e fundador do primeiro zoológico da cidade.

Com a queda da monarquia, Drummond perdeu apoios e o zoológico entrou em crise. Para evitar o fechamento, criou uma rifa simples:

  • 25 animais representavam 25 grupos de números.
  • Ao pagar o ingresso do zoológico, o visitante recebia um bilhete com um desses animais.
  • No fim da tarde, um animal era sorteado e o vencedor recebia 20 vezes o valor pago.

A ideia deu certo, até demais. O jogo rapidamente ultrapassou os portões do zoológico. Camelôs, comerciantes e pequenos donos de armazéns passaram a replicar o modelo por conta própria. Em 1895, o governo proibiu a prática.

Mas já era tarde: o bicho havia virado hábito cotidiano entre trabalhadores que viam nas apostas uma chance rápida de ganhar algum dinheiro.

Como um hábito virou uma organização

No início do século XX, o jogo assumiu uma estrutura empresarial:

  • apontadores, que vendiam as apostas;
  • gerentes, responsáveis pelas zonas;
  • banqueiros, que pagavam prêmios e comandavam territórios.

Por trás dessa estrutura havia regras claras: nunca deixar de pagar, publicar resultados para gerar confiança, usar a Loteria Federal como referência, financiar atividades “sociais” e formar redes de proteção política e policial.

Esses elementos permitiram que o jogo sobrevivesse por décadas, apesar da proibição.

Como explica o sociólogo Daniel Hirata, coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF:

“O jogo do bicho é a organização criminal com maior penetração na economia formal do Rio de Janeiro.”

Ele afirma que os clãs acumulam negócios que vão muito além da contravenção, alcançando setores inteiros da economia.

Do submundo ao Carnaval: Castor de Andrade e o poder cultural do bicho

A ligação entre o jogo do bicho e o Carnaval é uma das mais profundas. Castor Gonçalves de Andrade e Silva, o maior bicheiro da história do Rio, colocou a Mocidade Independente de Padre Miguel no centro da cultura carioca.

Financiou desfiles, patrocinou atletas, investiu no Bangu Atlético Clube e se tornou figura pública respeitada e temida.

Esse modelo se espalhou. O envolvimento de bicheiros com escolas de samba se tornaria marca registrada. Para muitos pesquisadores, esse movimento foi uma forma de “lavar a reputação”: gerar emprego, financiar cultura popular e criar prestígio social.

A série da Netflix mostra outro exemplo: o envolvimento de Galego Fernandez com o Carnaval e com patrocínios esportivos. É a combinação entre ilegalidade, cultura e economia que tornou o jogo do bicho uma “cultura à parte”, como diz Daniel Hirata.

Por que o tema voltou ao debate?

Com o lançamento de Os Donos do Jogo, o público começou a procurar explicações históricas e jurídicas sobre o universo retratado na série.

De onde veio o jogo? Por que dura tanto? Qual é a relação com escolas de samba? É crime?

As buscas sobre o tema cresceram e reacenderam a discussão sobre a força cultural, social e econômica dessa prática.

Afinal, entender o jogo do bicho é entender uma parte importante, e contraditória, da história do Brasil urbano: mistura de tradição popular, contravenção, cultura, violência e poder.

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