Tema do novo documentário da Brasil Paralelo, a Varig foi uma empresa ícone do capitalismo brasileiro e operou por quase 80 anos. Primeira multinacional do país, sobreviveu a uma guerra mundial, sete trocas de moedas, mais de 20 planos econômicos e mudanças no mercado da aviação.
Mas, na década de 2000, sofreu nas mãos de um grande oponente: o Estado. A história da Varig e a de muitos empreendimentos brasileiros aponta para a trajetória do Brasil, que tem um grande potencial muitas vezes não aproveitado.
Segundo o Sebrae, a alta carga tributária do Brasil é o maior pesadelo para a saúde de uma empresa. O empreendedor esbarra ainda nas burocracias para a abertura e manutenção do negócio.
Autor de Os abutres e a Varig: A história da destruição da maior companhia aérea brasileira de todos os tempos, o jornalista Armando Levy ressalta que a falta de vontade política é outra grande barreira.
Levy conta que a Varig era uma empresa "onipresente e extraordinária'', que chegou a dominar 70% do mercado brasileiro. Mas deixaram este modelo de sucesso ruir.
"Na gestão do presidente José Sarney, de 1985 a 1990, uma determinada secretaria de governo é que definia o aumento dos preços das passagens aéreas. O cálculo era desproporcional ao aumento da inflação e as empresas tinham uma defasagem de 40% nas suas receitas", exemplificou.
O jornalista explica que essa prática se repetiu por anos. Em dado momento, as empresas aéreas entraram com uma ação na justiça para recuperar as perdas bilionárias.
O STF deu causa ganha para as companhias aéreas.
"A Varig teria aproximadamente R$ 2 bilhões a receber dessas perdas acumuladas. No entanto, a companhia devia à União um valor similar em fundos de pensão e INSS".
"Um acerto de contas entre as duas partes salvaria a Varig, mas este foi inviabilizado por políticos de um partido, e a empresa afundou em dívidas", contou Armando Levy.
O pesquisador relembra que, logo depois, governos estaduais passaram a cobrar ICMS da Varig, sob o argumento de que ela fazia transporte de cargas.
A Varig provou na justiça que transportava somente passageiros. Sete anos depois, a companhia ganhou o processo, mas os governos estaduais nunca a ressarciram do prejuízo.
"O Brasil é um paraíso para os golpistas, que saem impunes. Como as empresas podem sobreviver num cenário desses?", lamentou Levy.
O escritor afirma que, após a queda das torres gêmeas, em Nova Iorque, o governo americano injetou bilhões de dólares nas companhias aéreas dos EUA. O apoio impediu que elas quebrassem com a crise no turismo do país.
"Companhias aéreas são estratégicas para a economia. Mas o governo brasileiro não colocou um centavo sequer na Varig, Vasp ou Transbrasil quando crises afetaram nosso país; elas tiveram que se virar por conta própria. Foram desaparecendo, até que outras companhias menores e de baixa qualidade de serviço dominaram o mercado nacional".



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