Um conflito entre facções criminosas transformou o distrito de Uiraponga, no interior do Ceará, em um vilarejo quase deserto. Há mais de dois meses, cerca de 300 famílias abandonaram suas casas após ameaças de morte.
A prefeitura decretou situação de emergência e suspendeu serviços públicos básicos.
O inquérito policial aponta uma disputa por território. Entre os principais envolvidos estão três criminosos:
Segundo a investigação, Witals teria ordenado a expulsão dos moradores para consolidar o domínio territorial.
“A atuação do grupo liderado por Witals não se limitou a ataques contra membros da facção rival, mas se voltou deliberadamente contra a população civil, utilizando a expulsão em massa e a imposição do medo como estratégia de domínio”, afirma o relatório.
Mesmo após a prisão de Witals em São Paulo e de Jailton em Morada Nova, a situação não se normalizou.
Um morador relatou que a comunidade era tranquila antes da chegada das facções.
“Antes da criminalidade, era uma comunidade muito boa de se morar. Tinha quadrilha junina, grupo de teatro, festas. Podia ficar até tarde na rua, sem preocupação.”
As ameaças começaram em abril deste ano. Em julho, após uma madrugada de tiroteio, as famílias decidiram fugir.
“Eles mandavam mensagens, ligavam ou mandavam recado dizendo para a família ir embora, para que não acontecessem coisas piores. Isso ocorria principalmente pelas redes sociais”, relatou.
Em menos de 15 dias, o distrito ficou praticamente vazio. A prefeitura disponibilizou caminhões de mudança para quem quisesse sair, mas não apresentou plano para conter a crise.
No dia 1º de agosto, a prefeita Naiara Carneiro Castro (PSB) publicou decreto classificando a situação como “anormal e emergencial”.
O documento reconhece que escolas, postos de saúde e outros serviços foram interrompidos por falta de segurança, autorizando medidas administrativas urgentes.
“Fica declarada situação anormal e emergencial, por prazo indeterminado, Distrito de Uiraponga, zona rural do Município de Morada Nova/CE, em razão de grave comprometimento da ordem pública, da segurança coletiva e da continuidade da prestação dos serviços públicos essenciais”.
Atualmente, a escola funciona em outro endereço e o posto de saúde deixou de atender diariamente.
A Secretaria da Segurança Pública informou que mantém operações contínuas na região. Em setembro, a polícia civil do município de Morada Nova cumpriu 11 mandados de prisão e 22 de busca e apreensão.
O distrito conta hoje com a presença do Comando Tático Rural (Cotar), que mantém uma viatura 24 horas.
Mesmo com a prisão de dois dos acusados, os moradores não voltaram para suas casas.
O cenário de Uiraponga não é isolado. Dados da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), do Ministério da Justiça, mostram que o Nordeste concentra mais da metade das facções criminosas do Brasil.
Segundo Guaracy Mingardi, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), muitos desses grupos têm atuação restrita a comunidades ou cidades específicas.
Em geral, surgem de dissidências de facções maiores ou buscam alianças com organizações de alcance nacional, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV).
A Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim) afirma que a ausência do Estado, com policiamento limitado e infraestrutura precária, abre espaço para disputas violentas. Bahia e Ceará aparecem entre os estados mais afetados por essa dinâmica.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 reforça o diagnóstico. O levantamento apontou que o Nordeste é hoje a região mais violenta do Brasil.
No ranking das cidades mais perigosas, Maranguape (CE) está entre as sete primeiras. O Ceará aparece como o segundo estado mais violento da região, com média de 37,5 mortes violentas por 100 mil habitantes.
Hoje, Uiraponga, que já foi palco de festas e encontros comunitários, enfrenta o esvaziamento após a saída da maior parte de seus moradores e é descrito como um “território-fantasma” no interior do Ceará.
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