Em 2020, Isabella usou as redes sociais para compartilhar sua opinião sobre o resultado das eleições para vereador.
Disse estar decepcionada com a ausência de mulheres 'verdadeiramente feministas' entre as eleitas e criticou o fato de a vereadora mais votada de São Paulo ser 'um homem'.
A postagem se referia à eleição de Erika Hilton, recordista de votos naquela disputa e símbolo da causa trans na política.
Nesse período, a ativista afirma que foi alvo de ameaças contra ela e sua família, perdendo seguidores e trabalhos. Em entrevista ao Jornal Metrópoles, afirmou que sequer conhecia Érika Hilton:
“Eu nem estava mais morando em São Paulo, estava em Florianópolis. E vi um post dizendo que a mulher mais votada de São Paulo era travesti. Eu não sabia nem quem era. Foi na época em que aconteceram as manifestações da Mariana Ferrer e eu fiz uma série de stories com críticas ao PSOL, à atuação do PSOL na manifestação.
Falei que o PSOL tinha usado o protesto da Mariana para fazer campanha, disse que estava muito decepcionada com São Paulo porque a mulher mais votada era um homem. Essa foi a minha fala. Eu não sabia nem de quem estava falando. Nunca tinha ouvido falar de Erika Hilton na minha vida”, disse Isabella.
A reação veio rápido. Erika Hilton entrou com uma representação formal no Ministério Público de São Paulo contra Isabella.
O Ministério Público acatou a denúncia, enquadrando o caso na Lei do Racismo, após uma decisão recente do STF que equipara homofobia e transfobia ao crime de racismo.
No total foram cinco ocorrências: a postagem original com a fala de Isabella e quatro retuítes que ela teria feito sobre mulheres trans em presídios femininos. Cada uma com pena de até cinco anos.
Se condenada por todas, poderia cumprir até 25 anos de prisão. ilustrar com manchete:
Em entrevista recente ao jornalista Michael Shellenberger, Isabella detalhou os impactos pessoais e profissionais que sofreu desde o início do processo, que agora subiu para a instância federal.
A conversa trouxe à tona novos elementos sobre a decisão da influenciadora de deixar o país.
Em julho de 2024, ao tentar embarcar para a Espanha a partir do Aeroporto de Salvador, foi parada por agentes federais que identificaram um alerta vinculado ao seu passaporte e a submeteram a uma inspeção detalhada.
Durante o interrogatório, avaliaram que sua situação poderia atender aos critérios de perseguição política. Em resposta, entraram em contato com a companhia aérea na qual ela havia feito a reserva e a instruíram a não embarcar sem ela a bordo.
Um oficial a acompanhou até o avião e recomendou que não retornasse ao Brasil. Diante da possibilidade real de prisão, ela deixou o país e pediu asilo. Em suas redes sociais, Isabella compartilhou fotos da sua atual situação e disse:
“Viver como apátrida, sendo perseguida por falar o que pensa.”
Após o desabafo de Isabella, a ONG Matria Brasil prestou auxílio à ativista. Sem sucesso ao buscar ajuda do governo Lula, a organização escreveu uma carta de apoio ao pedido de asilo de Isabella, destacando as ameaças que ela sofreu.
Isabella viveu cerca de 11 meses em situação de exílio desde o incidente no Aeroporto de Salvador até formalizar seu pedido de refúgio, em junho deste ano.
De acordo com o site de notícias feministas Reduxx, ela conseguiu o status de refugiada com o apoio da Agência da União Europeia para Asilo. O país que acolheu a ativista permanece em sigilo por questões de segurança.
Como defensora dos “direitos das mulheres em uma base biológica”, Isabella diz acreditar que a ideologia de gênero enfraquece a luta feminina, segundo reportagem publicada na Gazeta do Povo:
“Como podemos lutar pelo fim da opressão, se nem conseguimos chegar a um consenso da causa da opressão? É delirante que, em um país que mal consegue falar sobre saúde sexual feminina, pessoas consigam mudar o sexo para não binário nos documentos.
Ou que um acusado de violência sexual possa ir para um presídio feminino, ao se declarar trans.”
A chamada cultura woke nasceu com a proposta de combater injustiças e promover a igualdade.
Mas, ao longo dos anos, seus principais críticos afirmam que ela se tornou um mecanismo para impor linguagem obrigatória, criminalizar opiniões divergentes e destruir reputações.
No Brasil, esse fenômeno encontrou respaldo jurídico e se materializa em casos como o de Isabella, onde errar um pronome pode custar décadas de liberdade. Sob o pretexto de proteger minorias, cria-se um ambiente de medo, onde o debate é substituído por coerção legal.
Uma lógica que divide classes e culturas, em vez de unir.