O levantamento aponta que 17,7% das meninas e 12,5% dos meninos sofreram abuso sexual na infância ou adolescência, em situações que envolveram relações forçadas ou toques de conotação sexual.
Embora alarmantes, esses índices são inferiores aos registrados em alguns países vizinhos. No Chile, por exemplo, 31,4% das meninas relataram ter vivenciado esse tipo de violência; na Costa Rica, o percentual chega a 30,9%. Entre os meninos, as taxas alcançam 14,5% no Chile e 19% na Costa Rica. No panorama global, 18,9% das meninas e 14,8% dos meninos declararam ter sido vítimas antes dos 18 anos.
O estudo analisou dados de 204 países entre 1990 e 2023, considerando casos de relações forçadas ou toques sexuais indesejados antes dos 18 anos. É uma das primeiras análises que comprovam a predominância global da violência sexual contra crianças e adolescentes.
As pedagogas Vitória Reis e Vitória Marconi discutem a preocupante normalização da sexualidade entre crianças e adolescentes, revelam dados alarmantes sobre pedofilia no Brasil e compartilham estratégias para combater esse crime. Assista ao Conversa Paralela e tenha acesso à conversa completa.
Paralelamente a esse quadro, um relatório recente da rede internacional InHope — que reúne canais de denúncia de crimes na internet em 51 países — revelou que o Brasil subiu de forma alarmante no ranking de notificações de abuso sexual infantil online. Entre 2022 e 2024, o país saltou da 27ª para a 5ª posição, ficando atrás apenas de Bulgária, Reino Unido, Holanda e Alemanha.
Segundo a entidade SaferNet, que recebe e contabiliza as denúncias no Brasil em parceria com o Ministério Público Federal desde 2006, mais de 50 mil páginas foram reportadas no período. Desse total, 10.823 foram encaminhadas para autoridades de outros países por envolverem vítimas estrangeiras.
A SaferNet também opera a Central Nacional de Denúncias e o Canal de Ajuda (Helpline), oferecendo apoio a vítimas de violência online.
Especialistas envolvidos no estudo da The Lancet alertam que o número real de abusos tende a ser superior ao registrado:?
“Vergonha, estigma e medo são barreiras que impedem a denúncia e dificultam o acesso à ajuda”, afirma Luisa Flor, professora assistente da Universidade de Washington e coautora da pesquisa.
No Brasil, desigualdade social, pobreza e instabilidade familiar criam um terreno fértil para que a criança viva em situação de vulnerabilidade. Casos que ocorrem dentro de lares ou instituições de confiança, muitas vezes, não são reconhecidos como abuso — o que retarda ou impede o registro formal.
Dados do Ministério da Justiça indicam que, em 2024, foram contabilizadas cerca de 9 casos de estupro por hora, ou seja, ao menos 78.395 ocorrências por ano. Deste total, mais de 67.820 eram mulheres e 9.676 homens; em 899 registros não havia informação sobre gênero.
Os impactos vão além do momento da agressão. O estudo mostra que vítimas de violência sexual infantil têm maior risco de desenvolver depressão, ansiedade, abuso de substâncias, doenças crônicas e infecções sexualmente transmissíveis. Segundo a psicóloga Cláudia Melo, especialista no atendimento a crianças e adolescentes vítimas de abuso, o trauma pode comprometer o aprendizado e gerar problemas de atenção desde cedo.
“São crianças que crescem desconfiando das pessoas, carregando sentimentos de culpa por algo que nunca foi responsabilidade delas. Muitas recorrem ao álcool, às drogas ou a comportamentos compulsivos para anestesiar a dor”.
O Brasil possui instrumentos jurídicos importantes — como o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência contra Crianças e Adolescentes e a Lei da Escuta Protegida. No entanto, a aplicação desses mecanismos enfrenta entraves, especialmente em áreas remotas, onde faltam recursos e equipes especializadas.
O desafio, segundo especialistas, é construir um sistema que una prevenção, atendimento especializado e responsabilização dos agressores — tarefa urgente diante da escalada de casos no mundo físico e no ambiente digital.
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