Donald Trump sinalizou que pode reconsiderar as tarifas impostas ao Brasil e a outros países. A condição é que essas nações melhorem as condições de abertura e mercado aos produtos americanos. De acordo com a EFP e o portal Economy Next, o presidente afirmou:
“Eu só vou reduzir as tarifas se um país concordar em abrir seus mercados. Senão, tarifas muito mais elevadas [virão]”.
Desde que reassumiu a Casa Branca, o presidente anunciou tarifas que variam entre 10% e 50% para dezenas de países. Segundo o presidente, o Brasil poderá ter de pagar taxa de até 50% já a partir do dia 1º de abril.
Apresentada como uma forma de combater o “grande déficit comercial” dos EUA e forçar negociações bilaterais, a medida também carrega uma dimensão política.
Trump tem se alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmando que ele é alvo de “perseguição injusta” e acusando instituições brasileiras de restringirem a liberdade de expressão de cidadãos e empresas americanas.
“Só reduzirei as tarifas se um país aceitar abrir seu mercado. Se não [aceitar], [serão aplicadas] tarifas muito mais altas”.
Ele celebrou acordos já fechados com Indonésia e Japão, que, segundo ele, “abriram completamente seus mercados para produtos norte-americanos pela primeira vez”.
Para o governo americano, tais pactos foram considerados uma “vitória” para empresas dos três países, que, nas palavras de Trump, “farão uma fortuna”.
Entenda a polêmica em:
Segundo o professor Adriano Gianturco, as tarifas aplicadas por Trump refletem o protecionismo americano e funcionam como “arma geopolítica” para conter a influência da China. Ele lembra que os EUA eram o principal parceiro comercial do Brasil, mas perderam espaço para os chineses. As tarifas, portanto, visam forçar essas nações a se reaproximarem de Washington.
O cientista político Diogo Costa menciona que as tarifas têm sido usadas como ferramenta de pressão política há séculos e que são normalmente disfarçadas de interesses econômicos. Segundo o professor, Trump já havia criticado o alinhamento do Brasil aos Brics (bloco de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), bloco comercial alinhado ao eixo Sul-Sul, que fortalece a influência chinesa.
Para ele, “[as tarifas] são uma estratégia 'all-in' de Trump, uma jogada de alto risco para recuperar a hegemonia americana em um momento em que os EUA percebem uma perda de poder relativo no cenário global”:
“Se os Estados Unidos não conseguirem reverter esse cenário agora, pode ser ‘tarde demais’ no futuro, dado o avanço de potências como a China em áreas comerciais, financeiras, políticas e até militares”.
Gianturco também aponta o papel de grandes empresas americanas, como big techs e instituições financeiras, na pressão pela abertura do mercado brasileiro. Em entrevista ao programa Cartas na Mesa, da Brasil Paralelo, cita o Pix como ameaça a empresas como Visa e Mastercard, e menciona as barreiras enfrentadas pelo pagamento via WhatsApp.
Além disso, destaca o protecionismo brasileiro em setores como saúde, mídia, aviação e telecomunicações, e as tensões sobre privacidade de dados, criticadas pelos EUA.
Para o professor, a questão de alinhamento de Trump ao presidente Jair Bolsonaro e a preocupação com a liberdade de expressão no Brasil não são a principal motivação da taxação anunciada:
“O país precisa avaliar cuidadosamente sua posição nesse jogo global, considerando que as decisões tomadas agora podem definir seu futuro econômico e político por décadas”.
Para o cientista político Diogo Costa, as tarifas têm sido usadas como ferramentas de pressão política há séculos:
“O caso atual é peculiar por misturar retórica econômica com questões ideológicas explícitas.”
Embora acredite que o desafio das tarifas seja também um desafio à lealdade de Donald Trump, confirma que as tarifas podem ser revistas se os países decidirem abrir mercados:
“Trump está incomodado com a retórica antiamericana dos Brics, principalmente no que diz respeito à criação de alternativas ao dólar , e quer criar um desincentivo ao fortalecimento de um grupo que se enxerga como cada vez mais hostil”.
O empresário Leandro Ruschel concorda. Para ele, as tarifas impostas por Donald Trump ao Brasil devem ser interpretadas como uma forma de pressão geopolítica contra a atual orientação do governo Lula. Em sua avaliação, Trump busca impor um "custo mais alto" à elite brasileira que, segundo ele, tem seguido um caminho de confronto com os Estados Unidos e de aproximação com regimes autoritários.
Para ele, o Brasil estaria sendo usado como um “exemplo” dentro dos BRICS, bloco que reúne países que têm defendido alternativas ao sistema financeiro internacional dominado pelo dólar. “Um dos estímulos do Trump é utilizar o Brasil, que parece o país mais frágil politicamente, para dar um exemplo para os BRICS do que acontece com quem defende a derrubada do dólar”.
Ruschel afirma que Lula tem sido o mais enfático entre os líderes dos BRICS na crítica à hegemonia americana, o que teria motivado uma reação mais dura de Trump. “Até o chanceler russo disse que essa ideia foi do Lula”, destacou.
Segundo ele, ao impor tarifas, Trump transfere a responsabilidade à elite brasileira, apresentando um ultimato: ou o país recua da agenda “chavista” e autoritária do PT, ou arrisca romper relações com os Estados Unidos.
Em meio à pressão crescente, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que o Brasil já iniciou conversas com o governo americano para tentar reverter a tarifa de 50%. Em reunião com o secretário de Comércio, Howard Lutnick, Alckmin destacou o interesse brasileiro em negociar e afirmou ter apresentado todos os pontos que considera cruciais para evitar prejuízos às relações comerciais entre os dois países.
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