Em meio ao tumulto político na Bolívia, um comentário do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) reacendeu as chamas da controvérsia. Utilizando sua conta na rede social X (antigo Twitter), Salles fez uma publicação que muitos interpretaram como apoio à tentativa de golpe militar que ocorreu no país nesta quarta-feira (26 de jun. de 24). O comentário gerou reações intensas, resultando em uma representação à Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o político.
No mesmo dia, o presidente da Bolívia, Luis Arce, trocou o comando das Forças Armadas, substituindo Zúñiga pelo general José Wilson Sánchez Velásquez. Zúñiga havia tentado entrar no palácio presidencial em um tanque de guerra, exigindo uma "mudança de gabinete" e declarando que o país não poderia continuar na situação atual.
Após o anúncio de um golpe de Estado pelo ex-comandante do Exército boliviano, Juan José Zúñiga, que cercou o Palácio Quemado em La Paz, Salles publicou em espanhol: "En Bolívia las melancias tienen cojones...".
A expressão "melancias" é um termo pejorativo usado por grupos políticos para se referir aos militares. O termo sugere que, embora vistam uniformes verdes, possuem pensamentos de esquerda.
A publicação gerou uma resposta imediata do deputado federal André Janones (Avante-MG), que chegou a pedir a prisão de Salles. A acusação foi de que o ex-ministro do meio ambiente teria celebrado a tentativa de golpe na Bolívia e lamentado que o Exército brasileiro não tivesse feito o mesmo.
“ATENÇÃO: RICARDO SALLES PODE SER PRESO!
Atenção: O deputado bolsonarista Ricardo Salles acaba de celebrar publicamente a tentativa de golpe militar na Bolívia e lamenta o exército brasileiro não ter feito o mesmo no Brasil.
A expectativa é que ele responda criminalmente e seja preso!”, diz a publicação de Janones.
As declarações de Salles não foram apenas criticadas. Uma representação foi enviada à PGR, assinada por membros do PSOL, incluindo Fernanda Melchionna (PSOL-RS), Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Glauber Braga (PSOL-RJ). Os parlamentares solicitaram uma investigação sobre o deputado por suposta incitação e apologia à tentativa de golpe na Bolívia. Os parlamentares argumentaram que a mensagem de Salles incita diretamente os membros do Exército brasileiro a cometerem os mesmos atos de insubordinação.
Além disso, um abaixo-assinado pedindo "Fora Salles" começou a circular na internet. A intenção da ação é colher o máximo de apoio possível para cassação do mandato do parlamentar. O movimento já conta com mais de 550 mil assinaturas.
O ex-ministro do Meio Ambiente rebateu as acusações sobre um possível apoio a um golpe de Estado. Ele afirma que apenas fez uma piada referente a uma fala do general boliviano Zuñiga.
“Na verdade, eu não comemorei. Eu fiz um comentário jocoso a respeito do que falou o próprio comandante. O general boliviano, quando deu a primeira entrevista, falou: ‘Las Fuerzas Armadas de Bolivia tienen cojones’. Eu fiz uma piada do que ele falou, não estou incitando golpe nenhum”, disse Ricardo Salles à Revista Veja.
O resultado das ações contra Salles agora está nas mãos da PGR, que decidirá sobre os próximos passos na investigação das acusações contra o deputado. Caso a Procuradoria identifique indícios suficientes de crime, ela encaminhará ao Supremo Tribunal Federal, o qual poderá instaurar uma ação penal contra o deputado.
O desfecho deste episódio envolvendo o deputado paulistano Ricardo Salles ainda é incerto.
Ao mesmo tempo, as sociedades brasileira e boliviana aguardam os próximos movimentos na situação política do país andino, onde ainda há muito a ser revelado.
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