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Na ONU, Milei diz que coletivismo e agenda Woke são ineficazes para resolver os problemas do mundo

Em discurso na ONU, o mandatário declarou que a neutralidade argentina nas questões internacionais é coisa do passado.

Onu
Milei
Argentina
Reprodução Youtube
Redação Brasil Paralelo
Comunicação Brasil Paralelo

Javier Milei criticou o coletivismo e a agenda Woke, em discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) ontem, em 23 de setembro, em Nova York.

Ele acredita que essas duas abordagens tenham fracassado em resolver os problemas do mundo moderno. Argumentou também que essas políticas resultam em mais problemas do que soluções. Além disso, não consideram a realidade cotidiana das pessoas. 

"O coletivismo e a agenda woke se mostraram ineficazes e não têm soluções reais para os problemas do mundo. Na verdade, nunca tiveram. Se a Agenda 2030 fracassou, como seus próprios defensores admitem, devemos nos perguntar se não foi um programa mal planejado desde o início, aceitar essa realidade e mudar de direção", declarou.
  • Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). O documento final que compila todos os objetivos, metas e os indicadores dessa ação ficou conhecido como Agenda 2030 da ONU.

A partir da criação da ideia de desenvolvimento sustentável, as Nações Unidas mobilizaram esforços para tornar isto possível ao redor do mundo.

Afirmou ainda que o programa tem imposto medidas coletivistas, o que restringe os direitos individuais e econômicos das pessoas. 

“Quero ser claro na posição da Argentina: a Agenda 2030, embora bem-intencionada em suas metas, não é outra coisa senão um programa de governo supranacional de corte socialista que pretende resolver os problemas da modernidade com soluções que atentam contra a soberania dos Estados-nação e violam o direito à vida, à liberdade e à propriedade das pessoas."

Apesar das críticas, Milei destacou a importância da organização na pacificação do mundo no pós-Segunda Guerra Mundial.

“O resultado foi que passamos de duas guerras mundiais em menos de 40 anos, que juntas mataram mais de 120 milhões de pessoas, para 70 anos seguidos de relativa paz e estabilidade global, permitindo que o mundo se integrasse comercialmente, competisse e prosperasse”, ponderou. 

Dependência econômica de países pobres

Milei criticou as práticas de empréstimos internacionais, enfatizando que prejudicam as nações em desenvolvimento.

"Criou-se uma relação prejudicial entre as políticas de governança global e os organismos de crédito internacional, forçando os países mais pobres a comprometer recursos que não possuem em programas desnecessários, tornando-os devedores permanentes para beneficiar as elites globais.."

Milei enfatiza que os financiamentos perpetuam a pobreza e aumentam a desigualdade.

Fim da neutralidade da argentina

Outro tema abordado foi a posição Argentina em relação aos conflitos internacionais, deixando claro que defenderá a liberdade e os direitos individuais. Agora, a Argentina será contra qualquer política que os restrinja.

“Como dizia Thomas Paine, 'aqueles que desejam colher as bênçãos da liberdade devem, como homens, suportar a fadiga de defendê-la'”, declarou.
  • Thomas Paine foi um filósofo Britânico que defendeu a independência dos EUA e participou da Revolução Francesa. Em suas obras, como "Senso Comum" e "Os direitos do Homem", ele criticou a dominação britânica e propôs a universalização do direito à propriedade por meio de um sistema tributário. 

Encerrou pedindo que Deus abençoe os argentinos e o mundo. 

Leia o discurso na íntegra em livre tradução:

Para aqueles que não sabem, eu não sou político, sou um economista, um economista liberal libertário que jamais teve a ambição de fazer política e que foi honrado com o cargo de presidente da República Argentina frente ao fracasso estrepitoso de mais de um século de políticas coletivistas que destruíram nosso país.

Este é meu primeiro discurso frente à Assembleia Geral das Nações Unidas e quero aproveitar para, com humildade, alertar as diversas nações do mundo sobre o caminho que estão trilhando há décadas e sobre o perigo que implica que esta organização fracasse em cumprir sua missão original. Não venho aqui para dizer ao mundo o que deve fazer; venho aqui para dizer ao mundo, por um lado, o que vai acontecer se as Nações Unidas continuarem promovendo as políticas coletivistas que vêm promovendo sob o mandato da Agenda 2030 e, por outro lado, quais são os valores que a Nova Argentina defende.

Quero, sim, começar dando crédito quando o crédito é devido. A Organização das Nações Unidas nasce do horror da guerra mais cruel da história global, com o objetivo principal de que nunca mais voltasse a ocorrer. Para isso, a organização gravou em pedra seus princípios fundamentais na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ali foi consignado um acordo básico em torno de uma máxima: que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.

Sob a tutela desta organização e a adoção dessas ideias, durante os últimos 70 anos, a humanidade viveu o período de paz global mais longo da história, que coincidiu também com o período de maior crescimento econômico da história.

Criou-se um fórum internacional onde as nações pudessem resolver seus conflitos através da cooperação, em vez de recorrer instantaneamente às armas, e se conseguiu algo impensável: sentar de maneira permanente as cinco maiores potências do mundo em uma mesma mesa, cada uma com o mesmo poder de veto, apesar de terem interesses totalmente opostos. Tudo isso não fez com que o flagelo da guerra desaparecesse, mas se conseguiu, por enquanto, que nenhum conflito escalasse a proporções mundiais.

O resultado foi que passamos de ter duas guerras mundiais em menos de 40 anos, que juntas tiraram mais de 120 milhões de vidas, a ter 70 anos consecutivos de relativa paz e estabilidade global sob o manto de uma ordem que permitiu ao mundo inteiro se integrar comercialmente, competir e prosperar.

Porque onde entra o comércio, não entram as balas, dizia Bastiat. Porque o comércio garante a paz, a liberdade garante o comércio e a igualdade perante a lei garante a liberdade. Cumpriu-se, em definitiva, o que consignou o profeta Isaías e se lê no parque do outro lado da rua: "Deus julgará entre as nações e arbitrará por muitos povos. Forjarão suas espadas em arados e suas lanças em podadeiras. Nação não levantará espada contra nação, nunca mais aprenderão guerra."

Isso é o que ocorreu majoritariamente sob a tutela das Nações Unidas em suas primeiras décadas e, por isso, dessa perspectiva, estamos falando de um sucesso notável na história das nações que não pode ser ignorado.

Agora bem, em algum momento, e como costuma ocorrer com a maioria das estruturas burocráticas que os homens criam, esta organização deixou de velar pelos princípios esboçados em sua declaração fundante e começou a se transformar. Uma organização que havia sido pensada essencialmente como um escudo para proteger o reino dos homens se transformou em um leviatã de múltiplos tentáculos que pretende decidir não só o que cada Estado-nação deve fazer, mas também como todos os cidadãos do mundo devem viver.

Assim é como passamos de uma organização que perseguia a paz a uma organização que impõe uma agenda ideológica a seus membros sobre uma infinidade de temas que fazem parte da vida do homem em sociedade.

O modelo das Nações Unidas que havia sido bem-sucedido, cuja origem podemos rastrear nas ideias do presidente Wilson, que falava da sociedade de paz sem vitória e que se fundava na cooperação dos Estados-nação, foi abandonado. Foi substituído por um modelo de governo supranacional de burocratas internacionais que pretendem impor aos cidadãos do mundo um modo de vida determinado. O que está sendo discutido esta semana aqui em Nova York, na Cúpula do Futuro, não é outra coisa senão aprofundamento desse rumo trágico que esta instituição adotou, aprofundamento de um modelo que, nas palavras do próprio secretário das Nações Unidas, exige definir um novo contrato social em escala global, redobrando os compromissos da Agenda 2030.

Quero ser claro na posição da Argentina: a Agenda 2030, embora bem-intencionada em suas metas, não é outra coisa senão um programa de governo supranacional de corte socialista que pretende resolver os problemas da modernidade com soluções que atentam contra a soberania dos Estados-nação e violam o direito à vida, à liberdade e à propriedade das pessoas.

É uma agenda que pretende solucionar a pobreza e a discriminação com legislação que só as aprofunda, porque a história do mundo demonstra que a única maneira de garantir a prosperidade é limitando o poder do monarca, garantindo a igualdade perante a lei e defendendo o direito à vida, à liberdade e à propriedade dos indivíduos.

Foi precisamente a adoção dessa agenda, que obedece a interesses privilegiados, e o abandono dos princípios esboçados na Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas que deturpou o papel desta instituição e a colocou no caminho errado.

Assim vimos como uma organização que nasceu para defender os direitos do homem tem sido uma das principais promotoras da violação sistemática da liberdade, como, por exemplo, com as quarentenas a nível global durante o ano de 2020, que deveriam ser consideradas um crime contra a humanidade.

Nesta mesma casa que diz defender os direitos humanos, permitiram o ingresso no Conselho de Direitos Humanos de ditaduras sangrentas como a de Cuba e Venezuela, sem o menor reproche. Nesta mesma casa que diz defender os direitos das mulheres, permite o ingresso no Comitê para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher de países que castigam suas mulheres por mostrar a pele.

Nesta mesma casa, sistematicamente se votou contra o Estado de Israel, que é o único país do Oriente Médio que defende a democracia liberal, enquanto se demonstrou, simultaneamente, uma incapacidade total de responder ao flagelo do terrorismo.

No plano econômico, promoveram políticas coletivistas que atentam contra o crescimento econômico, violam os direitos de propriedade e atrapalham o processo econômico natural, chegando a impedir que os países mais atrasados do mundo usufruam livremente de seus próprios recursos para progredir.

Regulações e prisões impulsionadas precisamente pelos países que se desenvolveram graças a fazer o mesmo que hoje condenam. Além disso, promoveram uma relação tóxica entre as políticas de governança global e os organismos de crédito internacional, exigindo que os países mais atrasados comprometam recursos que não têm em programas que não precisam, tornando-os devedores perpétuos para promover a agenda das elites globais.

Também não ajudou o tutelado do Fórum Econômico Mundial, onde promovem políticas ridículas com antolhos de Missão Zero que prejudicam sobretudo os países pobres, às políticas vinculadas aos direitos sexuais e reprodutivos, quando a taxa de natalidade dos países ocidentais está despencando, anunciando um futuro sombrio para todos.

A organização também não cumpriu satisfatoriamente sua missão de defender a soberania territorial de seus integrantes, como sabemos nós, argentinos, de primeira mão na relação com as Ilhas Malvinas. Chegamos até mesmo a uma situação em que o Conselho de Segurança, que é o órgão mais importante desta casa, se desnaturalizou, porque o veto de seus integrantes permanentes começou a ser usado em defesa dos interesses particulares de alguns.

Assim estamos hoje com uma organização impotente em fornecer soluções para os verdadeiros conflitos globais, como foi a aberrante invasão russa à Ucrânia, que já custou a vida de mais de 300.000 pessoas, deixando um rastro de mais de um milhão de feridos no processo. Uma organização que, em vez de enfrentar esses conflitos, investe tempo e esforço em impor aos países pobres como e o que devem produzir, com quem se relacionar, o que devem comer e em que acreditar, como pretende ditar o presente Pacto do Futuro.

Toda essa longa lista de erros e contradições não foi gratuita, mas resultou na perda de credibilidade das Nações Unidas perante os cidadãos do mundo livre e na desnaturalização de suas funções. Por isso, quero fazer um alerta: estamos diante de um fim de ciclo.

O coletivismo e o moralismo da agenda woke se chocaram com a realidade e já não têm soluções credíveis para oferecer aos problemas reais do mundo. De fato, nunca as tiveram. Se a Agenda 2030 fracassou, como reconhecem seus próprios promotores, a resposta deveria ser nos perguntarmos se não foi um programa mal concebido desde o início, aceitar essa realidade e mudar o rumo.

Não se pode persistir no erro redobrando a aposta em uma agenda que fracassou. Sempre ocorre o mesmo com as ideias que vêm da esquerda: desenham um modelo de acordo com o que o ser humano deveria ser, segundo eles, e quando os indivíduos livremente agem de outra maneira, não têm melhor solução do que restringir, reprimir e coartar sua liberdade.

Nós, na Argentina, já vimos com nossos próprios olhos o que há no fim desse caminho de inveja e paixões tristes: pobreza, embrutecimento, anarquia e uma ausência fatal de liberdade. Ainda estamos a tempo de nos afastar desse rumo.

Quero ser claro com algo para que não haja más interpretações: a Argentina, que está vivendo um processo profundo de mudança atualmente, decidiu abraçar as ideias da liberdade, essas ideias que dizem que todos os cidadãos nascem livres e iguais perante a lei, que temos direitos inalienáveis concedidos pelo Criador, entre os quais estão o direito à vida, à liberdade e à propriedade.

Esses princípios que orientam o processo de mudança que estamos levando adiante na Argentina são também os princípios que guiarão nossa conduta internacional a partir de agora.

Acreditamos na defesa da vida de todos. Acreditamos na defesa da propriedade de todos. Acreditamos na liberdade de expressão para todos. Acreditamos na liberdade de culto para todos. Acreditamos na liberdade de comércio para todos.

E acreditamos em governos limitados para todos. E como, nestes tempos, o que acontece em um país impacta rapidamente em outros, acreditamos que todos os povos devem viver livres da tirania e da opressão, seja ela de forma de opressão política, de escravidão econômica ou de fanatismo religioso.

Essa ideia fundamental não deve ficar apenas em palavras, tem que ser apoiada com ações, diplomática, econômica e materialmente, através da força conjunta de todos os países que defendemos a liberdade.

Esta doutrina da Nova Argentina não é mais nem menos do que a verdadeira essência da Organização das Nações Unidas, ou seja, a cooperação das Nações Unidas em defesa da liberdade. Se as Nações Unidas decidirem retomar os princípios que lhes deram vida e voltar a adotar o papel para o qual foram concebidas, contem com o apoio inabalável da Argentina na luta pela liberdade.

Saibam também que a Argentina não apoiará nenhuma política que implique a restrição das liberdades individuais, do comércio, nem a violação dos direitos naturais dos indivíduos, não importa quem a promova nem quanto consenso essa instituição tenha. Por esta razão, queremos expressar oficialmente nosso dissenso sobre o Pacto do Futuro assinado no domingo e convidamos todas as nações do mundo livre a nos acompanharem, não só no dissenso deste pacto, mas na criação de uma nova agenda para esta nobre instituição: a agenda da liberdade.

A partir deste dia, saibam que a República Argentina vai abandonar a posição de neutralidade histórica que nos caracteriza e estará na vanguarda da luta em defesa da liberdade, porque, como dizia Thomas Paine, "aqueles que desejam colher as bênçãos da liberdade devem, como homens, suportar a fadiga de defendê-la". Que Deus abençoe os argentinos e todos os cidadãos do mundo, e que as forças do céu nos acompanhem. Viva a liberdade. Muito obrigado.

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