A naturalização da violência
Juliana aponta que a violência contra professores está naturalizada, agravando o trauma. Uma aluna, ao ser advertida por tentar pegar mais uma folha colorida em outra escola, justificou:
“É por isso que fazem o que fizeram na João de Zorzi”.
O vice-diretor Gabriel Jean Boff reforça:
“Sempre vai ter um sentimento diferente, em especial para quem estava aqui no dia do ataque”.
Professores de toda a rede municipal relatam mudanças de comportamento, evitando ações rotineiras como virar as costas aos alunos por receio de perder o controle visual. Aos poucos, a comunidade escolar tenta reconstruir a confiança enquanto lida com o medo e o trauma.
Detalhes do ataque
Na tarde abafada de 1º de abril, dois meninos, de 14 e 15 anos, e uma menina de 13, reuniram-se perto de uma parada de ônibus antes de entrar na escola sem resistência, carregando cinco facas em uma mochila.
Na sala 71, durante a aula de inglês, um deles desligou a câmera de segurança, outro fechou a porta, e a professora, enquanto distribuía materiais, recebeu o primeiro golpe. Em seguida, foi atingida por mais ferimentos, totalizando 13 lesões, conforme laudo médico. Camila, a aluna mais jovem, recebeu uma faca, mas não participou diretamente da agressão.
Após o ataque, os adolescentes fugiram para uma mata próxima; um foi apreendido na escola, os outros, quatro horas depois, pela Guarda Municipal e Polícia Civil.
A professora, socorrida por servidores de uma Unidade Básica de Saúde ao lado da escola, recebeu alta no dia seguinte, mas segue afastada, em tratamento médico e psicológico. Seu advogado destaca:
“Foi uma série de golpes que mostra ódio e raiva, o que é incompreensível”.
Motivação e planejamento
A investigação aponta que o ataque foi uma retaliação à direção escolar, inicialmente planejada contra o diretor, mas redirecionada ao primeiro professor encontrado.
Mensagens no grupo “Matadores” no Instagram revelam a frieza:
“Vamos matar quantos?”, perguntou um estudante.
“Quem estiver na frente”, respondeu outro.
A diretoria relatou que os adolescentes estavam envolvidos em episódios recentes de indisciplina, como uso indevido de preservativos como balões, o que levou a advertências e reuniões com responsáveis. No refeitório, testemunhas ouviram os jovens planejando o ataque em voz alta. Apesar de frequentarem aulas regularmente e serem descritos como calmos em casa, sem histórico de violência severa, a Polícia Civil analisa celulares para investigar possíveis influências externas, como grupos extremistas, embora não haja evidências concretas até o momento.
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Resposta imediata e medidas de segurança
A escola fechou por dois dias, retomando as aulas em 3 de abril.
A Secretaria Municipal de Educação, liderada por Marta Fattori, reforçou o patrulhamento com a Guarda Municipal, instalou botões de pânico e portões com campainha na João de Zorzi, e retomou o programa Escolas de Paz, com equipes itinerantes e projetos de mediação de conflitos.
Psicólogos acolheram professores e funcionários logo após o ataque, mas os educadores reivindicam apoio psicológico contínuo.
Pais, como a mãe de uma aluna do 4º ano, passaram a acompanhar os filhos diariamente, antes uma prática ocasional.
“Ela ficou com medo e não entendeu bem o que aconteceu”, disse a mãe, que cogitou transferir a filha, mas decidiu mantê-la na escola por causa das amigas. Outros pais e professores também consideram mudanças de escola, refletindo a insegurança generalizada.
Um problema nacional
O caso reflete um cenário alarmante: o Brasil registrou 42 ataques a escolas entre 2001 e 2024, mais da metade entre 2022 e 2024, segundo o relatório do D3e.
A Unicamp aponta que 70% dos casos envolvem redes sociais, como no ataque de Caxias do Sul, onde a articulação ocorreu online.
Fragilidades em vínculos familiares, histórico de sofrimento escolar e radicalização digital são causas estruturais.