O ataque na Escola Municipal João de Zorzi, em Caxias do Sul (RS), deixou cicatrizes profundas na comunidade escolar, especialmente entre os professores.
No dia 1º de abril de 2024, três adolescentes do 7º ano, armados com facas trazidas de casa, feriram uma professora de inglês com 13 golpes em um plano premeditado. O episódio, articulado via Instagram no grupo “Matadores”, espalhou medo coletivo e alterou a rotina dos educadores.
Uma estudante resumiu a nova realidade à BBC News Brasil:
“Os professores agora evitam escrever no quadro para não ficar de costas”, temendo novos ataques.
A professora Juliana (nome fictício), colega da vítima, descreve uma “insegurança constante” e dificuldades para retomar o trabalho em outra escola da cidade.
“Ainda tenho uma mistura de sentimentos que não consegui entender”, relata.
A desordem na educação brasileira é profundamente investigada em Pátria Educadora, superprodução da Brasil Paralelo que já atingiu mais de 5 milhões de visualizações. Este documentário premiado revela, em três episódios, a história, as ideologias e os desafios do sistema educacional do Brasil.
Assista gratuitamente ao primeiro episódio e embarque em uma jornada para entender um dos grandes desafios do ensino no Brasil.
Juliana aponta que a violência contra professores está naturalizada, agravando o trauma. Uma aluna, ao ser advertida por tentar pegar mais uma folha colorida em outra escola, justificou:
“É por isso que fazem o que fizeram na João de Zorzi”.
O vice-diretor Gabriel Jean Boff reforça:
“Sempre vai ter um sentimento diferente, em especial para quem estava aqui no dia do ataque”.
Professores de toda a rede municipal relatam mudanças de comportamento, evitando ações rotineiras como virar as costas aos alunos por receio de perder o controle visual. Aos poucos, a comunidade escolar tenta reconstruir a confiança enquanto lida com o medo e o trauma.
Na tarde abafada de 1º de abril, dois meninos, de 14 e 15 anos, e uma menina de 13, reuniram-se perto de uma parada de ônibus antes de entrar na escola sem resistência, carregando cinco facas em uma mochila.
Na sala 71, durante a aula de inglês, um deles desligou a câmera de segurança, outro fechou a porta, e a professora, enquanto distribuía materiais, recebeu o primeiro golpe. Em seguida, foi atingida por mais ferimentos, totalizando 13 lesões, conforme laudo médico. Camila, a aluna mais jovem, recebeu uma faca, mas não participou diretamente da agressão.
Após o ataque, os adolescentes fugiram para uma mata próxima; um foi apreendido na escola, os outros, quatro horas depois, pela Guarda Municipal e Polícia Civil.
A professora, socorrida por servidores de uma Unidade Básica de Saúde ao lado da escola, recebeu alta no dia seguinte, mas segue afastada, em tratamento médico e psicológico. Seu advogado destaca:
“Foi uma série de golpes que mostra ódio e raiva, o que é incompreensível”.
A investigação aponta que o ataque foi uma retaliação à direção escolar, inicialmente planejada contra o diretor, mas redirecionada ao primeiro professor encontrado.
Mensagens no grupo “Matadores” no Instagram revelam a frieza:
“Vamos matar quantos?”, perguntou um estudante.
“Quem estiver na frente”, respondeu outro.
A diretoria relatou que os adolescentes estavam envolvidos em episódios recentes de indisciplina, como uso indevido de preservativos como balões, o que levou a advertências e reuniões com responsáveis. No refeitório, testemunhas ouviram os jovens planejando o ataque em voz alta. Apesar de frequentarem aulas regularmente e serem descritos como calmos em casa, sem histórico de violência severa, a Polícia Civil analisa celulares para investigar possíveis influências externas, como grupos extremistas, embora não haja evidências concretas até o momento.
A Brasil Paralelo traz as principais notícias do dia e os melhores conteúdos com análises culturais para todos os inscritos na newsletter Resumo BP.
A escola fechou por dois dias, retomando as aulas em 3 de abril.
A Secretaria Municipal de Educação, liderada por Marta Fattori, reforçou o patrulhamento com a Guarda Municipal, instalou botões de pânico e portões com campainha na João de Zorzi, e retomou o programa Escolas de Paz, com equipes itinerantes e projetos de mediação de conflitos.
Psicólogos acolheram professores e funcionários logo após o ataque, mas os educadores reivindicam apoio psicológico contínuo.
Pais, como a mãe de uma aluna do 4º ano, passaram a acompanhar os filhos diariamente, antes uma prática ocasional.
“Ela ficou com medo e não entendeu bem o que aconteceu”, disse a mãe, que cogitou transferir a filha, mas decidiu mantê-la na escola por causa das amigas. Outros pais e professores também consideram mudanças de escola, refletindo a insegurança generalizada.
O caso reflete um cenário alarmante: o Brasil registrou 42 ataques a escolas entre 2001 e 2024, mais da metade entre 2022 e 2024, segundo o relatório do D3e.
A Unicamp aponta que 70% dos casos envolvem redes sociais, como no ataque de Caxias do Sul, onde a articulação ocorreu online.
Fragilidades em vínculos familiares, histórico de sofrimento escolar e radicalização digital são causas estruturais.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP