Tallis Gomes

Fundador, mentor e Presidente do G4 Educação. Fundador da Easy Taxi e Singu, sócio da CRM & Bônus e membro do conselho de administração do Grupo HOPE.

Esqueça a big idea e foque na execução se quiser resultado

Muitos aspirantes ao empreendedorismo acreditam que um grande insight é o ponto de partida para um negócio de sucesso. Se este é o seu caso, você está perdendo um timing valioso para lançar o seu produto ou serviço.

Tallis Gomes

Não caia na balela de “empreendedores“ sem CNPJ e investidores que nunca empreenderam na vida. 

Ninguém liga para isso. Meu avô costumava dizer que ideias valem 10 centavos a bacia e, de fato, nunca vi nenhum investidor pagar R$1 por uma baita big ideia

O que realmente importa é identificar um problema pelo qual as pessoas estão dispostas a pagar para resolver e, então, executar a solução de forma eficaz. 

É a execução do time que se propõe a construir um determinado business que transforma algo comum em um negócio extraordinário, e não o contrário. 

De acordo com Scott Belsky, cofundador da Behance e atual diretor de produtos da Adobe e vice-presidente executivo da Creative Cloud, não é sobre ideias, é sobre fazer as ideias acontecerem”.

No próprio Cristianismo, para se encontrar a salvação, as intenções são um começo valioso, mas não são suficientes por si só se não estiverem acompanhadas pelas boas obras.

Por isso, nunca feche os seus olhos e ouvidos para a realidade. O negócio está na rua. Eu comecei por baixo, fiquei com o saldo negativo, cometi vários erros, tive projetos que ninguém comprou de primeira, mas enquanto muitos se intimidaram com a falta de investidores iniciais e com o ceticismo do mercado, eu me concentrei em resolver um obstáculo real de maneira implacável

Hoje, meu radar para identificar problemas e oportunidades está sempre ligado e estou sempre observando algo que me incomoda ou incomoda alguém próximo a mim. 

No caso da Singu, por exemplo, foi assim, quase sem querer, que tudo começou. 

Mas transformar uma oportunidade em negócio não é sorte, é um processo científico de validação de hipóteses, coletando e analisando dados até achar o caminho certo. 

Como identificar iniciativas viáveis (e escaláveis)

Muitas iniciativas excelentes nunca sobrevivem ao campo de batalha devido às barreiras e dificuldades encontradas durante o seu desenvolvimento e implementação.

O processo de transformar algo abstrato em um modelo de negócios tangível requer esforço, recursos, planejamento, superação de obstáculos e, muitas vezes, pivotagens ao longo do caminho.

Mais que isso, envolve assumir riscos, lidar com a incerteza inerente à implementação de algo novo e requer não apenas criatividade, mas também persistência, determinação e a capacidade de gerar valor real, seja em termos de eficiência, conveniência, lucratividade, sustentabilidade ou resolução de um problema. 

Slack, Yelp e Netflix são alguns exemplos de companhias bem-sucedidas que passaram por isso no início até encontrarem a sua maturidade e ponto de equilíbrio. 

Sem dúvidas, é um erro acreditar que exista um único caminho para o sucesso. 

Segundo estudos, cerca de 40% das patentes registradas nos últimos 150 anos se encaixam na categoria de inovação arquitetônica, ou seja, são reconfigurações ou redesenhos de componentes principais sem alterar a sua função básica. 

Por isso, não é a sua ideia game changer, daquelas realmente disruptivas, que geralmente levam um mercado de 0 para 1. 

O caminho pode ser muito mais simples do que você imagina. É possível ter bons resultados, com ideias que já existem ou com pequenas adaptações a negócios existentes. 

Outro aspecto crucial que gosto de analisar para avaliar o potencial de longo prazo de qualquer iniciativa é a sua escalabilidade

Em linhas gerais, refere-se à capacidade de se crescer exponencialmente sem uma correspondente escalada nos custos operacionais

Esse potencial de expansão ajuda a entender se é possível transformar a teoria em um sucesso sustentável na vida real sem esbarrar em limitações de crescimento. 

Muita gente falha nesse momento, o que acaba se transformando no vale da morte do empreendedorismo. E os fracassos acontecem, na maioria das vezes, por simples falta de orientação

#1 - Dimensione o seu mercado 

Não dá para empreender apenas com base no feeling. Empresas que desejam crescer – ou até mesmo se manter relevantes no mercado - precisam de dados.

Tenho como referência de ideia grande o bastante para ser executada, aquela capaz de girar pelo menos 2 bilhões de dólares ao ano no mercado local. Se existe esse potencial, vale a pena arriscar. 

Claro que esse é um valor arbitrário que eu criei e não uma regra, mas o famoso “niche to win” com esses parâmetros tem dado certo para mim. 

#2 - Coloque tudo no papel

Depois de colher essas informações, o que você precisa fazer é organizá-las. Muitas pesquisas apontam para os efeitos negativos que a desordem pode ter sobre a mente e as emoções.

Hoje, um dos modos mais eficientes de colocar as ideias no papel é o Canvas. O conceito, criado pelo professor Alexander Cowan, é mais enxuto e flexível que o business plan tradicional e mostra, de uma só vez, tudo aquilo em que você precisa prestar atenção ao criar a sua empresa, focando mais em pontos qualitativos do que quantitativos.

Coloque uma lista de entregáveis em cima da sua mesa e se concentre nisso para ter o seu próprio framework de validação de ideias e parta para a ação.

Tenha a obsessão de testar, testar e testar mais uma vez a ideia que teve. Quem não faz isso se frustra – como eu me frustrei lá atrás.

Lembre-se de que todas as certezas na vida não passam de hipóteses até que se tornem fatos (verificados).

#3 - Externalize os seus pensamentos ao mundo 

Depois de ter uma ideia, não tenha medo de compartilhá-la com medo de que alguém possa roubá-la de você. Acredite, as pessoas têm mais o que fazer. 

Então, compartilhe. Quanto mais falar sobre o que deseja construir, mais feedbacks vai receber e aqui pode estar uma ótima oportunidade de amadurecer o modelo original. 

Uma boa solução não surge verticalmente da cabeça de um empreendedor nem é aceita pelos consumidores sem nenhuma crítica. Uma boa solução surge de uma construção coletiva constante.

Ouça quem usará. Converse com stakeholders e clientes em potencial para entender se a dor que você quer resolver é realmente a dor que eles têm. 

É isso que fará seu negócio crescer de maneira sustentável, com custo de aquisição baixo e crescimento orgânico alto. Sem essa confirmação, o esforço não serve para nada. 

No fim, existe uma linha muito tênue entre o delírio e a genialidade para se provar no tempo. 

Então, não se prenda a the next big idea. Na prática, o que precisa ser feito para sair da várzea e jogar a Champions League é uma execução impecável. Sempre foi e sempre será.