Início da aversão aos judeus - gnósticos, cristãos e linchamentos
Para a antropóloga Marta Francisca, o antissemitismo começou com as seitas gnósticas e maniqueistas que surgiram aproximadamente no século II. Eles afirmavam que o Deus do Antigo Testamento, o Deus dos judeus, era mau, diferente do Deus do Novo Testamento, que seria o Deus bom.
Com essa convicção, os membros destas seitas passaram a ver os judeus como servos do Deus mau, como agentes de suas más obras. Outra origem da aversão aos judeus está relacionada a perseguição dos judeus contra os cristãos e a certas interpretações dos textos de São Paulo.
A relação entre cristãos e judeus foi conflituosa desde o início. Logo após a morte e ressurreição de Jesus, os judeus passaram a perseguir e matar os cristãos. O cristianismo era considerado pelos fariseus como uma seita idólatra, levando a punição com a pena de morte.
Dependendo da interpretação do Rabino local, a Talmud autoriza a morte dos gentios (não-judeus), como defende o Rabino Yitzhak Shapira em seu livro The King of Torah (O Rei da Torá), publicado em 2009.
O historiador Thomas Madden aponta que os conflitos entre membros das duas religiões duraram séculos. Madden apresenta o assassinato de judeus a cristãos em Alexandria, em 414, e outros linchamentos ocorridos na Síria no mesmo século.
Em contrapartida, muitos cristão do período medieval utilizaram passagens das Sagradas Escrituras para afirmar que os judeus eram um povo mau e amaldiçoado, linchando-os em seus vilarejos. Tais atitudes aconteciam em desarmonia com o posicionamento da Igreja Católica.
Pensadores da Patrística, como São Justino - o Mártir, Tertuliano, Orígenes, Santo Eusébio e outros teólogos importantes, escreveram tratados contra a religião judaica, mas não defendiam a perseguição aos judeus.
No final do século V, Santo Agostinho rejeitou as alegações de alguns cristãos de que os judeus eram servos do diabo.
No cerne do pensamento agostiniano sobre os judeus estavam as palavras do Salmo 59: “Não os mates, para que meu povo não se esqueça: espalha-os pelo teu poder; e derruba-os, ó Senhor, nosso escudo”.
Para ele, a existência do judaísmo era errada, mas eles poderiam lembrar os cristãos de que Deus fala com o povo desde a Antiguidade.
Antissemitismo na Idade Média
O historiador judeu Nachum Tim Gidal afirmou que os judeus da Europa viveram em relativa paz do século V até o século XIII, no livro Jews in Germany: From Roman Times to the Weimar Republic.
A partir do século XIII, o antissemitismo passou a crescer na Europa junto com superstições da época, levando a determinados vilarejos a considerarem os judeus como culpados pelas muitas das epidemias e desastres naturais da época.
Esse fenômeno medieval foi amplamente descrito no livro Bode Expiatório, do sociólogo francês René Girard, também se aplicando às perseguições ocorridas durante a Idade Moderna. Para ele:
"A multidão tende sempre a perseguição, pois as causas naturais daquilo que a perturba, daquilo que a transforma em turba, não podem interessá-la. A multidão, por definição, procura a ação, mas não consegue agir sobre as causas naturais. Procura, então, uma causa acessível e que satisfaça seu apetite de violência".
Muitas vilas realizavam linchamentos públicos contra as comunidades judias, exilando-os de seu convívio. Esse fenômeno ficou conhecido como pogrom, uma palavra russa que significa "causar estragos, destruir violentamente".
Antissemitismo russo
A Rússia ficou marcada como um dos países mais antissemitas, por isso a palavra pogrom é uma das mais utilizadas para se referir ao linchamento de judeus.
Em 1772, a imperatriz da Rússia Catarina II forçou os judeus a entrar numa zona de assentamento especial, localizada nas atuais Polônia, Ucrânia e Bielorrússia.
Eles eram obrigados a permanecer em seus shtetls (vilas), sendo proibidos de retornar às cidades que ocupavam antes da partição da Polônia, afirmou o historiador Paul Johnson no livro A History of The Jews.
Após 1804, os judeus foram banidos das aldeias e começaram a ingressar nas cidades. Entre 1881 e 1884, parte da população russa cometeu um massacre contra os judeus que moravam na Rússia.
Dados do governo americano mostram que mais de 2 milhões de judeus emigraram da Rússia para os EUA, afirma a Enciclopédia dos Judeus na Europa Oriental, produzida pelo Instituto Para Pesquisa Judia (YIVO).
Antissemitismo alemão
Do século XIII adiante, o antissemitismo foi crescendo na sociedade alemã. A República de Weimar foi um dos únicos momentos em que os judeus não foram marginalizados no país.
Martinho Lutero foi um dos principais promotores do antissemitismo na Alemanha. Ele escreveu um livro intitulado Sobre os Judeus e suas Mentiras, no qual afirma: