Conheça a Filosofia Patrística e descubra o que acontece quando o cristianismo se junta à filosofia
A filosofia patrística une cristianismo e filosofia grega. Esses primeiros filósofos eram principalmente bispos e deixaram um legado vivo até hoje. Entenda fácil!
Foto: ícone oriental representando Jesus Cristo e seus Apóstolos.
A Filosofia Patrística gerou diversos avanços para a humanidade, especialmente na psicologia, na antropologia e na filosofia. Seus pensadores, os primeiros cristãos, são considerados como os principais intelectuais de vários campos do conhecimento humano. Segundo Rudolf Allers, psiquiatra e filósofo, um dos fundadores da psicanálise e mestre de Viktor Frankl:
“[...] As palavras de Santo Agostinho, traduzidas à linguagem menos impressionante da caracterologia, querem dizer o seguinte: primeiro, que as ações e o comportamento de um homem são a manifestação de uma vontade; e, segundo, que a vontade, escondida por detrás desse comportamento real, pode ser desconhecida para o homem de que se trata.
[...] Essa passagem das Confissões é a primeira a introduzir o conceito de inconsciente [...] e é também onde pela primeira vez aparece representada a interpretação da conduta humana finalista”.
A Patrística foi um movimento filosófico cristão desenvolvido na transição da Idade Antiga para a Idade Média, a partir do século I d.C. até aproximadamente o século V d.C. Os primeiros cristãos eruditos, especialmente os Padres (por isso o nome Patrística), desenvolveram pensamentos filosóficos para defender a Fé Cristã contra ataques externos (pagãos) e internos (hereges).
O movimento se iniciou com os discípulos dos Apóstolos de Jesus. Os principais Padres Apostólicos foram os Bispos e Sacerdotes ordenados pelos 12 Apóstolos de Cristo.
Qual era o objetivo da filosofia patrística?
O objetivo destes autores era demonstrar que Jesus Cristo é o único salvador da humanidade, o único caminho de felicidade.
Seus escritos demonstram, também, que não há contradição entre razão e fé.
Para tanto, os Padres Apostólicos valeram-se do arcabouço intelectual desenvolvido pelos maiores filósofos já conhecidos em sua época: Sócrates, Platão e Aristóteles.
A filosofia da Patrística seguiu uma linha predominantemente platônica, embora também hajam escritos relacionados ao pensamento aristotélico.
O pensamento de Aristóteles só se torna predominante entre os cristãos após o movimento filosófico da Escolástica.
No início do movimento Patrístico, a doutrina Cristã já estava plenamente revelada, o trabalho dos filósofos patrísticos limitou-se a apenas explicá-la segundo a razão natural.
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Principais teorias e ideias da Filosofia Patrística
As principais teorias e ideias elaboradas pela Filosofia Patrística são:
Explicação do livre-arbítrio e do mal;
Psicologia;
Eclesiologia;
Necessidade da graça para a felicidade.
Estes temas foram trabalhados pela filosofia patrística de maneira ostensiva. Veja abaixo a explicação de cada um deles.
O livre-arbítrio e a questão do mal
Santo Antão lutando contra demônios.
“Todavia, perturba-nos o espírito uma consideração: se o pecado procede dos seres criados por Deus, como não atribuir a Deus os pecados, sendo tão imediata a relação entre ambos?” (Santo Agostinho, Do livre arbítrio)
Nos primeiros anos do Cristianismo, muitas visões de mundo influenciaram alguns fiéis cristãos, sendo duas das principais: o maniqueísmo e o gnosticismo. Para o Cristianismo, são heresias.
Segundo esses autores, se Deus é o criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, ele deveria ser o criador do mal.
Assim, para justificar a existência do mal, eles afirmaram que Deus não criou todas as coisas, mas apenas algumas delas.
Os maniqueus defendiam a existência de um Deus bom e um Deus mau, duas entidades sustentadoras da realidade, possuidoras de igual poder.
Já para os gnósticos, o mundo material é criação de um ser espiritual (o demiurgo) poderoso e maléfico, que buscava aprisionar as almas dos homens criadas por Deus.
Para escapar do mal, eles defendiam ser necessário apartar-se da matéria para alcançar a divindade — mas apenas para alguns homens que, segundo eles, possuem a centelha divina, pois os demais não podem se salvar.
As duas crenças são semelhantes em muitos pontos, mas diferentes em sua essência e práticas.
Essas correntes já existiam antes do Cristianismo; porém, nos primórdios da expansão da Fé, muitos grupos de fiéis passaram a unir essas crenças antigas com o Catolicismo.
Os chefes da Igreja, por sua vez, nunca adotaram tais crenças. A doutrina Cristã sempre afirmou que Deus é o próprio bem, sem poder fazer algo que seja mal.
Santo Agostinho resolveu a questão que ainda não estava clara.
Segundo o Doutor da Igreja, o mal não foi criado por Deus.
De acordo com ele, Deus criou as criaturas para terem liberdade, deu-lhes o livre arbítrio.
Caso as criaturas que possuem consciência (anjos e homens) não pudessem escolher entre o bem e o mal, elas seriam meros fantoches de Deus, seriam como manequins, não possuiriam vida genuína.
A possibilidade de escolher o bem ou mal com as próprias forças é o que garante o livre-arbítrio.
Dessa forma, para que os seres humanos tenham plena posse da sua vida, é necessário que Deus permita o mal como consequência da existência da liberdade.
Segundo os filósofos patrísticos, Deus não deseja o mal, sua vontade é que todos alcancem o bem, mas o mal pode existir para que os homens alcancem o bem de forma livre, verdadeira.
Santo Agostinho tratou essa questão de forma mais aprofundada, utilizando conceitos metafísicos.
Conheça a vida e as 5 principais ideias de uma das figuras mais importantes de toda a história do pensamento humano: Santo Agostinho.
Em seus estudos, ele afirmou que o mal não possui ser. Para ele, o mal é apenas a ausência do bem, não possui uma existência própria.
Assim como as trevas, que são apenas a ausência da luz, o mal é a ausência de bem nas criaturas que decidiram viver nas trevas do mal.
Psicologia
A Filosofia Patrística trouxe avanços enormes no ramo da psicologia. Os Padres Apostólicos se apossaram e desenvolveram a psicologia dos filósofos gregos.
Entenda a psicologia elaborada pelo fundador da Filosofia Grega: o andarilho de Atenas, Sócrates.
Uma vez que Jesus ordenou que seus discípulos buscassem ser perfeitos assim como Deus é perfeito, é obrigação do Cristão buscar se desenvolver da melhor maneira possível, em todos os aspectos da vida, de maneira hierarquizada.
São Cipriano, Padre Apostólico, escreveu que o homem não foi criado nem imperfeito, nem perfeito, devendo se aperfeiçoar para se elevar cada vez mais em direção ao bem, o próprio Deus.
Em seu livro Contra as Heresias, no capítulo IV, ele escreveu:
“Esta é a ordem, o ritmo, o movimento pelo qual o homem criado e modelado adquire a imagem e a semelhança do Deus incriado: o Pai decide e ordena; o Filho executa e forma; o Espírito nutre e aumenta; o homem paulatinamente progride e se eleva à perfeição, isto é, aproxima-se do Incriado, do Perfeito por não ser criado: e este é Deus.
Era necessário que primeiramente o homem fosse criado, depois crescesse, depois de crescido se fortalecesse, depois de fortalecido, se multiplicasse, depois de multiplicado se consolidasse, depois de consolidado fosse glorificado, depois de glorificado visse seu Senhor: pois é Deus que deve ser visto um dia, e a visão de Deus causa a incorruptibilidade e a incorruptibilidade produz o estar junto de Deus” (Adv. haer. IV, 38,3).
Nas Confissões de Santo Agostinho, no livro VIII, capítulo 10, o renomado psiquiatra, Rudolf Allers, encontrou o que segundo ele é a verdadeira descoberta do inconsciente humano, muito anterior à psicanálise.
Um dos primeiros psicanalistas, Szondi, criou um teste que pode revelar o que há de mais profundo na sua alma. Faça o teste por aqui.
Santo Agostinho alertava que as ações e o comportamento do homem são a manifestação de uma vontade interior, e, essa vontade, escondida por trás das ações concretas do homem, podem ser desconhecidas até mesmo pelo seu próprio agente.