Vida sob disfarce
Segundo a revista The Atlantic, o CEO da HavenX, Alec Harris, é praticamente um personagem saído de um filme de espionagem.
Vive com a família numa casa que oficialmente pertence a um truste e usa métodos sofisticados para manter sua identidade protegida. Mesmo os brinquedos de cachorro no jardim são cenográficos — pura distração.
Pedidos da Amazon? Vão para a UPS, uma conhecida empresa de logística.
Uber? Ele indica um cruzamento próximo.
A TV da sala? Conectada com e-mails e senhas temporárias criadas só para isso.
191 cartões e 10 números de telefone
Harris também divide sua vida em camadas invisíveis: tem mais de 190 cartões de débito digitais, cada um vinculado a um fornecedor diferente. Sua navegação online passa por múltiplos IPs, e o celular carrega vários números — todos separados por função. Em casa, guarda celulares descartáveis, chips internacionais, uma bolsa Faraday e um passaporte que não revela o endereço. Tudo parte de um sistema pensado para não deixar rastros.
Clientes que não podem aparecerA clientela é variada: executivos que enfrentam chantagens, famílias ricas que temem sequestros, e investidores de criptomoedas que não confiam em bancos.
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Cansativo, mas necessário
Mas viver assim não é só caro. É complexo. Cada decisão cotidiana vira um cálculo de risco. Harris já teve que improvisar mentiras para cadastrar serviços de água e luz, convencer funcionários de que é administrador de imóveis e até montar desculpas para o endereço da escola dos filhos. Ele chama isso de “logística da privacidade”.
Uma família discreta
A esposa, Ellyn, demorou a se adaptar. Psicoterapeuta, ela inicialmente achava tudo exagerado — até perceber a paz de espírito que o anonimato trazia. Hoje, a família inteira vive dentro de um protocolo: nomes fictícios para entregadores, códigos para amigos, explicações prontas para vizinhos.
“Aos poucos, a paranoia dele virou minha”, brinca.
O guru que sumiu
Boa parte desse sistema foi inspirado em Michael Bazzell, ex-policial que virou referência global em estratégias para “desaparecer”. Após ensinar milhares a fazer o mesmo, Bazzell sumiu da internet e hoje atende apenas por aplicativos criptografados, usando pseudônimos. Seus livros e podcasts viraram bíblias entre os obcecados por privacidade.
O luxo de não ser encontrado
E o mercado só cresce. Empresas como a HavenX se especializam em resolver “casos exóticos” — quando a segurança tradicional não dá conta. Um cliente, por exemplo, pediu que dois jatos iguais fossem posicionados lado a lado na pista de um aeroporto. Só no último minuto escolheria em qual embarcar. Em um mundo onde o risco está em todos os cantos — físicos e virtuais —, cada detalhe conta.
Sumir custa tempo, dinheiro e equilíbrio emocional. Mas para quem tem muito a perder, não é exagero. É prevenção. Como resume Harris: “A verdadeira privacidade não é um direito. É um trabalho em tempo integral.”
No Brasil, o anonimato pode esbarrar em impedimentos legais
No Brasil, a maior parte das práticas descritas no texto, como o uso de múltiplos números de telefone, celulares descartáveis, ou estratégias para proteger a privacidade pessoal, não são ilegais em si, desde que não envolvam fraude, falsidade ideológica ou obstrução à Justiça.
No entanto, há limites legais claros: utilizar nomes falsos em cadastros, criar cartões de crédito com identidades fictícias ou fornecer informações enganosas a órgãos públicos (como concessionárias ou escolas) pode configurar crimes como falsidade ideológica (art. 299 do Código Penal), uso de documento falso (art. 304) e até lavagem de dinheiro (Lei 9.613/98), caso haja ocultação de patrimônio com finalidade ilícita.
Além disso, impedir intencionalmente o cumprimento de ordens judiciais pode ser interpretado como obstrução à Justiça. Assim, embora medidas de proteção à privacidade sejam permitidas, “sumir” completamente — como propõe o modelo da HavenX — exige cuidados para não ultrapassar os limites da lei brasileira.