O papel de Bolsonaro
O documento acusa Bolsonaro de usar o cargo para manipular estruturas do Estado com fins autoritários. Teria mobilizado setores estratégicos das Forças Armadas, promovido campanhas de desinformação e incentivado ações de instabilidade social.
De acordo com a PGR, o então presidente se recusou a reconhecer a derrota nas urnas e trabalhou para manter o eleitorado mobilizado em clima de ruptura.
Essa atuação teria estimulado os atos de 8 de janeiro de 2023, descritos como “resultado de uma estratégia sistemática e persistente”.
“Com apoio do alto escalão do governo, Bolsonaro instrumentalizou o Estado contra o interesse público”, afirma Gonet.
Golpe falhou pela resistência das Forças Armadas
Segundo a PGR, o golpe não foi consumado graças à fidelidade da maior parte do Exército e da Aeronáutica à Constituição, apesar do envolvimento de alguns integrantes.
Para Gonet, há provas concretas do plano: reuniões documentadas, mensagens capturadas, falas públicas e registros de ações coordenadas para desacreditar as eleições e criar um ambiente propício ao rompimento institucional.
“Não há como negar fatos praticados publicamente, planos apreendidos, diálogos documentados e bens públicos deteriorados”, afirmou.
“Querem me eliminar por completo”
Horas antes do pedido de condenação, o ex-presidente afirmou, em sua conta na rede social X, que o sistema quer destruí-lo por completo.
“O sistema nunca quis apenas me tirar do caminho. A verdade é mais dura: querem me destruir por completo - eliminar fisicamente, como já tentaram - para que possam, enfim, alcançar você. O cidadão comum. A sua liberdade”.
Os crimes atribuídos
O parecer pede a condenação de Bolsonaro pelos seguintes crimes:
- Tentativa de golpe de Estado (pena de 4 a 12 anos);
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito (4 a 8 anos);
- Organização criminosa armada (3 a 8 anos, podendo subir até 17 com agravantes);
- Dano qualificado contra o patrimônio da União (6 meses a 3 anos);
- Deterioração de patrimônio tombado (1 a 3 anos).
Com todas as penas somadas e agravadas, o ex-presidente pode pegar até 43 anos de prisão.
Quem são os outros acusados
A PGR também pediu a condenação de outros sete integrantes do chamado “núcleo crucial do golpe”:
- Braga Netto (vice na chapa de 2022 e general da reserva);
- Augusto Heleno (ex-ministro do GSI);
- Anderson Torres (ex-ministro da Justiça);
- Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin);
- Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa);
- Almir Garnier (ex-comandante da Marinha);
- Mauro Cid (ex-ajudante de ordens).
A manifestação reconhece a delação de Mauro Cid, mas mesmo assim pede sua condenação. Segundo Gonet, ele participou de todos os encontros clandestinos descritos na denúncia.
Bolsonaro pode ser preso?
A possível prisão ou absolvição de Jair Bolsonaro e dos outros sete réus, ainda depende da deliberação dos ministros da Primeira Turma do STF, formada por Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin e Flávio Dino.
As alegações finais foram entregues. Agora, as defesas dos oito acusados têm prazo para apresentar suas contrarrazões. A partir daí, os ministros decidirão se aceitam ou não o pedido da PGR.
A análise será feita caso a caso. Se a denúncia for aceita, os réus seguirão para julgamento. Caso contrário, serão absolvidos.