Delegado e agentes investigavam assassinatos de membros do PCC
O delegado Baena e os agentes presos eram encarregados das investigações dos assassinatos de Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”, e Antonio Corona Neto, apelidado de “Sem Sangue”, ambos integrantes do PCC. Gritzbach era considerado o principal suspeito de ter ordenado esses assassinatos, que ocorreram em 2012 na região leste de São Paulo.
“Cara Preta” foi o principal interlocutor de Gritzbach dentro da organização criminosa. De acordo com as investigações, foi vendendo imóveis para ele que o ex-corretor se envolveu com o grupo, auxiliando-os a lavar dinheiro.
Áudios revelavam envolvimento de Gritzbach com investigadores da Polícia Civil
Uma reportagem do Estadão expôs um áudio comprometedor de Vinicius Gritzbach, delator do PCC. Na gravação, ele conversa com membros do DHPP da Polícia Civil, revelando proximidade com "Edu”, o investigador Eduardo Monteiro. Gritzbach admitiu ter auxiliado na lavagem de dinheiro, mas sempre negou ter mandado matar “Cara Preta” e seu motorista. O inquérito sugere que ele desapareceu com R$100 milhões de Cara Preta investidos em criptomoedas.
No áudio em que conversa com Edu, Gritbach diz: “Contra vocês eu não tenho nada. Vocês Só me ajudaram”.
Na gravação, também conversa com um delegado, aparentemente Fábio Baena, que promete ajudá-lo:
"Na audiência, se precisar de mim, a gente vai conversar com o advogado. Eu te ajudo lá, fica tranquilo", diz o delegado.
Em sua delação, Gritzbach mencionou também problemas na investigação de seu sequestro pelo PCC em 2022, incluindo o apagamento de evidências em seu celular. Ele implicou agentes da Polícia Civil de várias unidades e acusou empresários e um advogado de envolvimento com o PCC.
A defesa do delegado já havia dito que os áudios comprovam apenas que os agentes acreditavam na possível inocência de Gritzbach.
Os advogados de Baena e do investigador Monteiro classificaram as prisões como "arbitrárias", criticando a "banalização do direito à liberdade" e questionando a credibilidade do depoimento de Gritzbach. Eles afirmaram que seus clientes se apresentaram voluntariamente e não obstruíram as investigações.
Programa de TV havia denunciado carros da Polícia Civil com placas adulteradas
O programa Fantástico, da Rede Globo, obteve imagens exclusivas que mostram a presença de um carro da Polícia Civil no aeroporto de Guarulhos no dia do assassinato de Vinicius Gritzbach. As câmeras de segurança registraram, às 15h, uma viatura com placa adulterada passando pela área de desembarque do terminal 2.
O veículo era conduzido pelo agente Alfredo Alexander Raspa da Silva, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC).
Ele alegou à Corregedoria ter feito uso particular do carro oficial e adulterado a placa para não ser descoberto. Apesar de alegar ter perdido um voo, Alfredo permaneceu no aeroporto por horas após o crime, inclusive tirando fotos com seu celular 40 minutos depois do assassinato. Em nenhum momento ele contatou os investigadores do caso.
Ao Fantástico, Alfredo justificou sua presença no aeroporto como uma tentativa de remarcar um voo para Porto Alegre, onde faria um curso. Depois, afirmou que as fotos do crime eram de "interesse profissional". Ele negou conhecer Vinicius ou ter envolvimento com o crime.
O DEIC é o mesmo departamento onde trabalham policiais delatados por Gritzbach. A Corregedoria da Polícia Civil está investigando a presença de Alfredo no aeroporto e o uso irregular do veículo oficial.
Alfredo Alexandre Rapa da Silva não está entre os agentes presos na recente operação conjunta do Ministério Público e da Polícia Civil.
A operação Tacitus
A operação Tacitus cumpriu 13 mandados de busca e apreensão em Bragança, Igaratá, Ubatuba e São Paulo. A operação conta com 130 policiais federais e o apoio da Polícia Civil. Na manhã desta terça-feira, eles cumpriram oito mandados de prisão e 13 de busca e apreensão.
O objetivo da Tacitus era desarticular a organização criminosa dedicada à corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro. Os policiais civis são suspeitos de colaborar com o PCC, garantindo proteção e facilitando a lavagem de dinheiro por meio da compra de imóveis através de intermediários ou empresas de fachada. Eles também são suspeitos de desviar bens que deveriam ser apreendidos.