A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quarta-feira (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), no inquérito sobre a tentativa de golpe após as eleições de 2022.
O relatório de 170 páginas, assinado pelos delegados Leandro Almada, Rafael Caldeira e Itawan Pereira, foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo os investigadores, pai e filho atuavam para pressionar julgamentos, influenciar decisões e até buscar apoio externo.
A PF também afirma que Bolsonaro descumpriu medidas cautelares diversas vezes. Mesmo proibido de usar redes sociais, ele teria acionado um novo celular depois da apreensão do anterior, retomando a produção e a circulação de mensagens.
Desde 4 de agosto, Bolsonaro cumpre prisão domiciliar. Ele já estava sujeito a restrições impostas por Moraes em julho: uso de tornozeleira eletrônica, veto ao acesso às redes (inclusive por intermediários), proibição de contato com outros investigados e impedimento de se aproximar de embaixadas ou manter diálogo com diplomatas estrangeiros.
A PF sustenta que Jair e Eduardo Bolsonaro agiram de forma conjunta e “subordinados a interesses de agentes estrangeiros”. Segundo os investigadores, o lobby do deputado federal nos Estados Unidos teria contribuído para a aplicação de tarifas de 50% do governo Donald Trump contra o Brasil e para a utilização da Lei Magnitsky contra Moraes. No momento, o ministro está impedido de utilizar serviços financeiros de empresas norte-americanas.
Além disso, os policiais encontraram no celular de Bolsonaro uma minuta em .docx, modificada dois dias após a Operação Tempus Veritatis, realizada em fevereiro de 2024. Nela, ele redigia um pedido de asilo político ao presidente argentino Javier Milei.
Para a PF, o arquivo demonstra que, desde então, o ex-presidente planejava fugir do país “com o objetivo de impedir a aplicação da lei penal”.
O relatório também afirma que Bolsonaro descumpriu repetidamente medidas cautelares, como a proibição de usar redes sociais. Após ter o celular apreendido, ele teria ativado outro aparelho e continuado a veicular mensagens.
Foram identificadas listas de transmissão no WhatsApp denominadas “Deputados”, “Senadores”, “Outros” e “Outros 2”. Cada uma delas teria sido usada para difundir conteúdos, inclusive vídeos que alertavam para um cenário “calamitoso” caso o Brasil desafiasse sanções impostas pela Lei Magnitsky.
Outro ponto importante é o uso de contas bancárias por Michelle e Heloisa Bolsonaro para o recebimento de valores altos. No inquérito, consta a transferência de R$2 milhões de Bolsonaro para a conta de Michelle Bolsonaro, que no dia seguinte foram repassados para Heloísa, esposa de Eduardo Bolsonaro. Segundo os investigadores, tratava-se de um modus operandi para esconder o envio de recursos e evitar.
A apuração também revelou compras de dólar pelo ex-presidente em ao menos seis operações de câmbio entre janeiro e julho de 2025.
O relatório também envolve diretamente o pastor Silas Malafaia. De acordo com o inquérito, ele “exerce influência direta sobre o modus operandi da família Bolsonaro”, validando postagens do ex-presidente e articulando estratégias para driblar restrições.
Mensagens apontam que Malafaia instruía Bolsonaro a “disparar vídeos” e repassá-los para listas de transmissão, incentivando o descumprimento das medidas judiciais. Ele também teria alertado sobre possíveis “retaliações” contra ministros do STF e suas famílias.
Em áudios que constam no inquérito, ele teria afirmado que ofendeu o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) após o tarifaço imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em julho.
“E vem o teu filho babaca falar mer***! Dando discurso nacionalista, que eu sei que você não é a favor disso. Dei-lhe um esporro, cara... mandei um áudio pra ele de arrombar. E disse pra ele, a próxima que tu fizer eu gravo um vídeo e te arrebento! Falei pro Eduardo”.
Na gravação, Malafaia elogiou a postura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em entrevista à GloboNews no dia 11 de julho, e voltou a criticar Eduardo:
“Falei pro Eduardo. Vai pro meio de um cac***, pô. O cara tá sendo contra você. Essa fogueira de merda de vaidade. Mas dá parabéns ao Flávio. Tá? Foi certinho, é isso aí. Vou dar parabéns a ele também. Vambora! A faca e o queijo tá contigo. Deus tá contigo, compadre! Eles tão é ferrado. Vão ter que sentar no colinho. Tá? Essa é a verdade. Um abraço.”
Na noite desta quarta-feira, Malafaia foi alvo de mandado de busca pessoal e apreensão ao desembarcar de Lisboa, no Aeroporto Internacional do Galeão (RJ). Agentes federais recolheram seus celulares e o passaporte. O pastor está proibido de deixar o país e de manter contato com outros investigados.
A investigação apontou que Jair Bolsonaro manteve contato com o ex-ministro Walter Braga Netto, preso desde dezembro de 2024, em violação às medidas cautelares. No dia seguinte à decisão de Moraes que proibia comunicação entre investigados, Braga Netto usou um número pré-pago para enviar mensagem ao ex-presidente:
“Estou com este número pré-pago para qualquer emergência. Não tem zap. Somente FaceTime. Abs Braga Netto”.
Para a PF, isso evidencia a “manutenção e fortalecimento do liame subjetivo” entre os dois.
Segundo o inquérito, também houve conversas entre Bolsonaro e o advogado Martin de Luca, ligado à Trump Media & Technology Group (TMTG) e à plataforma Rumble. O documento sustenta que o ex-presidente recebeu do advogado a íntegra de uma petição contra o ministro Moraes protocolada nos EUA. Uma versão traduzida foi encontrada na mesa de trabalho de Bolsonaro.
Segundo a PF, o ex-presidente chegou a pedir orientação a De Luca para elaborar uma nota pública, o que demonstra “ações previamente ajustadas” e “desvio de finalidade” para constranger o STF.
O indiciamento de Jair e Eduardo Bolsonaro, somado às medidas contra Malafaia, eleva a tensão entre a cúpula do Judiciário e a base conservadora do país. Para os investigadores, o trio atuou em sintonia para interferir no curso da Ação Penal 2668 do STF. Para críticos, trata-se de mais um capítulo da perseguição judicial contra lideranças religiosas e políticas alinhadas ao conservadorismo.
O processo agora está nas mãos da Procuradoria-Geral da República, que decidirá sobre a denúncia formal.
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