A liberdade de imprensa vive sua pior crise em meio século. É o que revela o Relatório Global sobre o Estado da Democracia 2025, divulgado pelo Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral (IDEA).
Segundo o estudo, a liberdade de imprensa piorou em um quarto dos países avaliados, alcançando o nível mais baixo desde 1975.
As quedas mais graves foram registradas no Afeganistão, Burkina Faso e Mianmar, países marcados por conflitos e instabilidade política.
Na Coreia do Sul, o ex-presidente Yoon Suk Yeol usou processos de difamação e intimidações contra jornalistas críticos antes de ser deposto em 2025.
Na Palestina, quase 200 jornalistas foram mortos desde outubro de 2023, enquanto Israel impôs restrições à entrada da imprensa internacional em Gaza.
Na Nova Zelândia, o problema não é a censura, mas a concentração do mercado. Hoje, 80% dos jornalistas trabalham para apenas cinco empresas, o que reduz a diversidade de vozes na imprensa.
Para o advogado e professor André Marsiglia a queda na liberdade de imprensa se deve a busca dos governos para o controle de poder. Para o jurista, onde há concentração de poder por parte do governo há também controle da mídia.
“A ambição dos governos de concentrar as mídias tem relação com a ambição de concentrar o poder. Nos locais em que os poderes são separados e, portanto, há uma democracia sólida, não existe essa obsessão pela concentração da mídia. Já nos países onde há a intenção de concentrar o poder em alguém ou em um determinado órgão, há também a ambição de concentrar a mídia para exercer controle”.
O relatório cita alguns sinais positivos. O Chile aprovou uma lei para ampliar a segurança dos jornalistas e de suas famílias, registrando a maior melhora desde 2021.
Na África, Botsuana e África do Sul estão entre os países que apresentaram avanços.
Para Pierluigi Allotti, professor de História do Jornalismo na Universidade Sapienza de Roma, o problema vai além de governos autoritários.
“A informação livre é ‘inconveniente’ tanto para regimes autocráticos quanto para democracias”, disse à Rádio Vaticano.
Ele lembrou que, em emergências, democracias também restringem direitos, como ocorreu durante a pandemia de COVID-19, mas de forma temporária. Já regimes autoritários tendem a tornar tais medidas permanentes.
Allotti destacou ainda a diferença entre liberdade de expressão e liberdade de imprensa:
“Na Europa, geralmente há liberdade de expressão quase absoluta, porque todos podem ir às ruas ou às redes sociais. A liberdade de imprensa, porém, é diferente. É a independência dos jornalistas de escrever e reportar notícias de forma ética, sem pressões externas.”
Já Marsiglia associa a queda global na percepção da democracia à redução da liberdade de expressão e à concentração de poder pelos governos. Ele aponta ainda o impacto das redes sociais, que dificultam o controle estatal sobre o fluxo de informações.
“Isso tem a ver diretamente com a redução da liberdade de expressão e com a concentração de poder por parte do Estado, e muito provavelmente com uma relação com as redes sociais, que tornaram as informações muito difíceis de serem controladas pelo Estado”.
O relatório também denunciou o uso de spyware por agências de inteligência em países da União Europeia, incluindo a Itália, contra jornalistas e ativistas. Para Allotti, esse tipo de prática compromete diretamente a independência da mídia:
“A imprensa deve ser absolutamente livre para exercer sua função sem interferência de agências de inteligência, governamentais ou estrangeiras.”
O relatório da IDEA aponta que a liberdade de imprensa vive seu pior momento em meio século.
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Em 12 de maio, em Roma, o papa Leão XIV dirigiu-se a jornalistas e comunicadores. Na ocasião, recordou o papel e os desafios da profissão e fez um apelo em favor dos profissionais perseguidos.
“Permiti-me, então, que hoje reitere a solidariedade da Igreja para com os jornalistas presos por terem procurado relatar a verdade. Reconhecemos nestes testemunhos a coragem de quem defende a dignidade, a justiça e o direito dos povos a serem informados, porque só os povos informados podem fazer escolhas livres”.
O pontífice afirmou ainda que o exemplo dos jornalistas serve de alerta para a preservação da liberdade de imprensa.
“O sofrimento destes jornalistas presos interpela a consciência das nações e da comunidade internacional, chamando-nos a todos a salvaguardar o bem precioso da liberdade de expressão e de imprensa”.
Para o papa Leão XIV, a defesa dos jornalistas não é apenas uma causa profissional, mas um dever em favor da dignidade, da justiça e do direito dos povos a serem informados.
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