O gramático, professor e filólogo Evanildo Cavalcante Bechara morreu nesta quinta-feira, 22 de maio, no Rio de Janeiro, aos 97 anos. A informação foi confirmada pela Academia Brasileira de Letras (ABL), instituição na qual ocupava a cadeira número 33 desde 2001. A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos.
Bechara estava internado no Hospital Placi, em Botafogo, e enfrentava problemas de saúde desde 2023, quando sofreu uma fratura no fêmur. Desde então, lidava com complicações decorrentes do acidente.
Nos últimos anos, ele enfrentava problemas de vista e, por isso, havia se afastado progressivamente das atividades na ABL, onde presidia a Comissão de Lexicologia e Lexicografia, responsável por obras de referência como o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) e o Dicionário da Língua Portuguesa (DLP).
Sua contribuição à gramática normativa do português permanece central na formação de gerações de professores e estudantes. Em janeiro deste ano, a editora Nova Fronteira lançou uma edição comemorativa pelos 40 anos de Moderna Gramática Portuguesa, sua obra mais conhecida e uma das mais adotadas em escolas e universidades do país. Desde 2023, a editora vinha relançando títulos importantes de sua autoria, como Lições de Português pela Análise Sintática, clássico voltado ao estudo prático da sintaxe.
Além da Moderna Gramática, Bechara é autor de livros como Gramática Escolar da Língua Portuguesa, Bechara para Concursos, Gramática Fácil e diversos manuais que conciliam rigor técnico com clareza didática, uma das marcas de seu trabalho.
Ex-professor titular e emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), Bechara teve papel de destaque também no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ), onde atuou como diretor-geral e docente.
Era membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Galega da Língua Portuguesa, além de ocupar a cadeira 16 da Academia Brasileira de Filologia.
Ao longo de quase oito décadas de produção intelectual, teve papel decisivo na sistematização do conhecimento gramatical.
“Havia muita informação separada, mas não havia um trabalho de conjunto. Minha preocupação foi estabelecer um relacionamento entre a pesquisa científica e os resultados dessa pesquisa na orientação dos livros didáticos”, declarou em sua última entrevista, concedida ao jornal O Globo em dezembro de 2023.
Nascido no Recife em 26 de fevereiro de 1928, Bechara mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro após a morte do pai. Acolhido por um tio-avô, mergulhou nos estudos e, aos 15 anos, teve contato com o professor Manuel Said Ali, figura central nos estudos linguísticos brasileiros. A convivência com Said Ali moldou sua formação. Dois anos depois, aos 17, Bechara publicou seu primeiro ensaio, Fenômenos de Entonação, marco inaugural de uma carreira acadêmica sólida e duradoura.
Na Academia Brasileira de Letras (ABL), Bechara assumiu a cadeira que fora de Afrânio Coutinho. Sua atuação na instituição foi marcada pelo fortalecimento dos estudos linguísticos, além do exercício dos cargos de diretor, tesoureiro e secretário-geral.
Foi o idealizador da Coleção Antônio de Morais Silva e integrou comissões voltadas à lexicografia e à valorização da língua portuguesa. Por sua contribuição à educação e à cultura, recebeu inúmeras homenagens, como o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra, além de medalhas e publicações comemorativas, como os volumes Entrelaços entre textos e 80 anos Homenagem: Evanildo Bechara.
Nos anos de 2004 e 2005, foi eleito uma das dez personalidades educacionais mais influentes do Brasil. Autor de dezenas de livros e centenas de artigos, consolidou-se como um dos maiores especialistas em língua portuguesa do país, com impacto duradouro na educação, na pesquisa e na valorização do patrimônio linguístico nacional.
Mesmo afastado da sala de aula, era presença constante nos debates sobre norma culta, ensino da língua e reformas ortográficas. O filólogo Ricardo Cavaliere, colega de ABL, relembrou com humor uma viagem em que Bechara ironizou o modo como o aplicativo Waze usava o termo reportado, um anglicismo inadequado que o aplicativo insistia em repetir:
“Será que ela não vai parar de falar nunca?”, comentou, bem-humorado.
Com a morte de Evanildo Bechara, o Brasil perde uma de suas maiores autoridades na língua portuguesa. Seu legado segue vivo nas gramáticas, nos livros didáticos e na formação de incontáveis profissionais da educação. Ainda não há informações sobre o velório ou cerimônia de despedida divulgadas pela ABL.
O jornalismo da Brasil Paralelo existe graças aos nossos membros
Como um veículo independente, não aceitamos dinheiro público. O que financia nossa estrutura são as assinaturas de cada pessoa que acredita em nossa causa.
Seja também um membro da Brasil Paralelo e nos ajude a expandir nosso jornalismo Clique aqui.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP