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Lula quer devolver o relógio: Presidente acusa TCU de ter agido para apoiar Bolsonaro

A decisão de que Lula não precisa devolver Cartier à União pode ser utilizada como precedente jurídico no caso das joias sauditas atribuídas a Bolsonaro.

Por
Redação Brasil Paralelo
Publicado em
8/8/2024 13:56
Ricardo Stuckert/O Tempo

Lula se revoltou com a decisão tomada pelo Tribunal de Contas da União que o permitiu manter um relógio avaliado em R$60 mil. O presidente chegou a afirmar a interlocutores do governo que a medida foi produzida sob medida para ajudar Bolsonaro no caso das joias.

Lula teria destacado o papel de ministros ligados ao governo anterior na decisão, que estariam se alinhando aos interesses do ex-presidente para garantir sua absolvição.

  • O presidente também teria dito que está disposto a devolver o relógio, a Advocacia Geral da União (AGU) afirmou que vai recorrer da decisão.

O relógio foi um presente entregue pela própria Cartier em 2005, durante uma visita oficial de Lula a Paris para celebrar o ano Brasil-França. O item se somou à longa lista de presentes incorporados ao acervo pessoal do presidente.

Em 2016, uma decisão do TCU obrigou o chefe do Executivo a incorporar os presentes recebidos ao longo de seus primeiros mandatos ao acervo da União

Lula devolveu ao Estado mais de 500 objetos recebidos, porém a defesa afirmou que o relógio era um item personalíssimo e, portanto, deveria continuar no acervo privado. Na época, o TCU aceitou o argumento e permitiu que Lula mantivesse posse da peça.

A oposição, no entanto, levantou uma ação sobre o relógio, o que levou a um novo julgamento.

A área técnica do TCU defendeu que Lula teria direito a manter o item, pois a Corte só estabeleceu o entendimento de que era necessária a devolução em 2023. Essa era a tese defendida pelo governo.

Segundo essa linha, o julgamento não poderia se basear em uma determinação posterior ao fato, já que o entendimento da época era diferente. Dois ministros defenderam esse posicionamento, Antônio Anastasia e Marcos Bemquerer Costa.

Caso essa linha argumentativa ganhasse no tribunal, Lula manteria o relógio e a decisão não favoreceria a defesa de Bolsonaro.

O ministro Jorge Oliveira, que atuou como Secretário-Geral da presidência no governo anterior, apresentou outra linha de defesa para que Lula continuasse com o relógio:

Até o presente momento, não existe norma que defina qual presente o presidente poderá ficar em seu patrimônio privado, ou qual ele tem que incorporar ao patrimônio público".

A nova interpretação destaca que não há uma lei clara sobre quais objetos podem ser considerados como personalíssimos e quais devem ser restituídos à União. 

Para o ministro, não caberia ao TCU determinar o limite, mas sim ao poder legislativo. O voto foi seguido pela maioria dos colegas.

A decisão do órgão foi muito bem recebida pela defesa de Bolsonaro, já que abre um precedente jurídico favorável ao ex-presidente, que poderá ser absolvido e até receber os itens novamente.

Já Lula se frustrou, pois mesmo que tenha mantido seu relógio, viu a defesa de seu adversário conseguir uma vantagem importante.

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