Nicholas Vital

Jornalista e escritor. Autor dos livros "Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo" e "Guia de Comunicação para o Agronegócio". Acompanha há 20 anos o dia a dia do setor.

Apesar das dificuldades, agronegócio ainda "carrega o Brasil nas costas"

Dados do IBGE apontam crescimento de 11,3% no PIB agro no primeiro trimestre. Setor deve desacelerar em 2024, mas seguirá como motor da economia brasileira

Nicholas Vital

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta semana os dados  referentes ao PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2024, com um crescimento de 0,8% no período. Olhando especificamente para o agronegócio, os números podem ser analisados sob a ótica do "copo meio cheio" ou do "copo meio vazio".

Iniciamos sob o viés pessimista. Na comparação com o primeiro trimestre de 2023, foi observada uma redução de 3% no PIB agro, um desempenho pior do que o da indústria, que se manteve praticamente estável (-0,1%), e do que o do setor de serviços, que registrou alta de 1,4%.

No entanto, quando comparamos os dados recém-divulgados com os resultados do trimestre anterior (de outubro a dezembro de 2023), o cenário se torna muito mais positivo para o agronegócio - um crescimento de 11,3%, superando com folga a indústria (+2,8%) e o setor de serviços (+3%).

É preciso lembrar que a barra do agronegócio está elevadíssima após anos de bonança. No ano passado, por exemplo, o setor registrou um crescimento de 15,1%, contribuindo de forma decisiva para a alta geral de 2,9% do PIB brasileiro. Sem o agro, o Brasil teria encolhido.

O peso do setor na balança comercial também é brutal. Em 2023, o setor foi responsável por praticamente metade de todas as exportações do país - 48,6%, para ser mais preciso. Foram nada menos do que US$165 bilhões em vendas externas, um crescimento de 4% em relação a 2022.

É preciso ressaltar que o bom desempenho do setor não é benéfico somente para os produtores e as agroindústrias. Os bilhões de dólares que entraram no país também contribuíram para fortalecer o Real. No ano passado, a moeda americana registrou queda de 8%, maior baixa desde 2016. Em 2024, porém, já recuperou essas perdas.

As perspectivas para as exportações do setor neste ano são positivas. Ainda que a previsão de desaceleração da economia chinesa se confirme, isso não deve impactar o agro. Isso porque o país asiático pode comprar menos minério, demandar menos petróleo, mas certamente não vai parar de comer - e nem de comprar soja e proteínas do Brasil.

É consenso que 2024 será um ano difícil para o agronegócio brasileiro, por diversos fatores. O primeiro é macroeconômico, com os custos de produção elevados e os preços internacionais em queda

As questões climáticas também vêm impactando a produção em várias regiões do país - não apenas no Rio Grande do Sul, onde as perdas serão computadas apenas no próximo trimestre.

Seja como for, o agro não terá um desempenho excepcional em 2024. Mas isso não quer dizer que será um ano ruim. Ele será apenas "menos bom" do que 2023. Caso consiga superar tais desafios e, ao menos, mantiver o ritmo, seguirá contribuindo de forma positiva para os resultados econômicos do Brasil neste ano.