O professor Rodrigo Gurgel comenta os impactos da Semana de Arte Moderna na cultura brasileira
A Semana de Arte Moderna foi precursora da arte modernista no Brasil. Suas obras foram mal recebidas, mas tiveram grande importância na cultura brasileira.
O pintor Di Cavalcante, um dos artistas que expôs sua obra na polêmica Semana de Arte Moderna, assim a descreveu:
“Seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulista”.
A proposta dos artistas desde o início se mostrou clara: a afronta, o escândalo e o rompimento com os padrões estéticos vigentes. Conheça a Semana de 22.
A Semana de Arte Moderna foi um evento artístico e cultural que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 a 18 de fevereiro de 1922. A proposta era apresentar uma nova estética artística para todos os campos das artes.
O evento contou com apresentações de dança, música, recital de poesias, exposição de obras de arte, como pinturas e esculturas, e palestras.
Os artistas envolvidos na organização da Semana de 22 propunham novas visões de estética artística, baseadas nas vanguardas artísticas europeias.
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Assim, inauguraram a corrente do Modernismo nas artes brasileiras. Todavia, este não era o único objetivo dos artistas.
Qual era o objetivo da Semana de Arte Moderna?
O evento, que chocou grande parte da platéia presente, buscou implementar novos processos na confecção das artes e dar-lhe uma feição mais brasileira. Um dos principais objetivos era o rompimento com a estética da arte acadêmica, especialmente do parnasianismo.
A informalidade e o improviso, a liberdade de produção, tudo isso tornou-se regra da arte moderna, de modo a romper o formalismo das artes até então vigentes.
Os principais objetivos da Semana de Arte Moderna foram:
romper com o formalismo da estética artística;
criticar a arte acadêmica;
inaugurar o movimento modernista brasileiro inspirado nas vanguardas europeias;
criar uma arte que fosse autenticamente brasileira;
popularizar a arte.
Além dos objetivos, algumas características definem bem o que foi apresentado na Semana de 22.
Veja, na opinião do professor Rodrigo Gurgel, as principais características da Semana de Arte Moderna. Trecho disponível na nossa série “Brasil — A Última Cruzada”:
Principais características da Semana de Arte Moderna:
ausência de formalismo;
ruptura com o academicismo e o tradicionalismo artístico;
crítica ao modelo parnasiano;
influência das vanguardas artísticas europeias, sobretudo destas: futurismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo e expressionismo;
valorização da identidade e cultura brasileira;
fusão de influências externas aos elementos artísticos brasileiros;
experimentações estéticas;
utilização da linguagem coloquial e vulgar para aproximar-se da linguagem do povo;
temáticas nacionalistas e cotidianas.
A Semana de Arte Moderna e suas propostas inovadoras são frutos dos acontecimentos de seu tempo.
Qual o contexto histórico social da Semana de Arte Moderna?
A Semana de Arte Moderna ocorreu no ano de 1922, ocasião do centenário da Independência do Brasil. Esta festa motivou alguns dos artistas a repensarem a identidade nacional e a buscarem criar algo mais brasileiro.
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O Brasil nesse período passava por diversas mudanças políticas, econômicas e sociais. São elas:
o advento da industrialização;
o crescimento da urbanização;
a imigração estrangeira;
o clima do fim da Primeira Guerra Mundial.
Todas essas transformações motivaram os artistas a buscarem uma nova imagem para o país, que lhe acompanhasse a modernização.
Boa parte dos artistas precursores do modernismo, que pretendiam criar essa nova figura brasileira, tiveram sua formação em universidades europeias. É através destes círculos acadêmicos que eles se inspiram nas vanguardas e buscam implementar seus princípios na arte brasileira.
Apesar de procurarem criar uma arte autenticamente brasileira, a inspiração principal de suas ideias veio da Europa, assim como no parnasianismo.
Segundo o professor Rodrigo Gurgel:
“Aquele grupo de jovens estava lá em Paris decidindo porque o Brasil precisava de uma nova literatura brasileira. Os caras estavam lá estudando nas melhores universidades, comendo do bom e do melhor, servindo-se com talheres de prata, estabelecendo altas discussões filosóficas e literárias com a elite cultural francesa, mas achavam que eles tinham a solução para a literatura brasileira. É a mesma arrogância, é o mesmo tipo de comportamento, algo eminentemente populista, demagógico”.
Na opinião do professor, o movimento da Semana de 22 é extremamente elitista, posto que um pequeno grupo de artistas se reúnem e creem ter legitimidade para estabelecer como deve ser a arte nacional.
Assim, a burguesia paulista, que dominava o cenário político e econômico nacional, busca tomar a frente da cultura nacional.
Apesar do caráter burguês e paulista do movimento, as novas regras modernistas tomaram todo o cenário artístico nacional.
Quem foram os artistas da Semana de Arte Moderna?
A Semana de Arte Moderna de 1922 contou com a participação de alguns artistas, dentre os quais:
Mário de Andrade (1893-1945);
Oswald de Andrade (1890-1954);
Graça Aranha (1868-1931);
Victor Brecheret (1894-1955);
Plínio Salgado (1895-1975);
Anita Malfatti (1889-1964);
Menotti Del Picchia (1892-1988);
Ronald de Carvalho (1893-1935);
Guilherme de Almeida (1890-1969);
Sérgio Milliet (1898-1966);
Heitor Villa-Lobos (1887-1959);
Tácito de Almeida (1889-1940);
Di Cavalcanti (1897- 1976);
Guiomar Novaes (1894-1979).
E o que foi exposto na exibição?
Quais foram as principais obras apresentadas?
Realizado entre os dias 13 e 17 de fevereiro, no saguão do Teatro Municipal de São Paulo, o festival da Semana de Arte Moderna incluiu a exposição diária de cerca de 100 obras e três sessões literárias e musicais noturnas.
O evento foi inaugurado pela palestra do escritor Graça Aranha: “A emoção estética da Arte Moderna”, seguido de apresentações musicais e exposições artísticas.
No segundo dia, houve uma apresentação musical, a palestra do escritor e artista plástico Menotti del Picchia e a leitura do poema “Os Sapos” de Manuel Bandeira.
Ronaldo de Carvalho fez a leitura, pois Bandeira encontrava-se numa crise de tuberculose. Nesse poema, a crítica à poesia parnasiana era severa, o que causou indignação do público, que respondeu com muitas vaias e burburinhos.
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A agitação geral só aumentou ao longo da Semana. As obras e suas propostas contestadoras e irreverentes foram muito mal recebidas.
Por fim, no terceiro dia, o teatro já se encontrava bem mais vazio. Quem subiu ao palco para apresentação foi o maestro Villa Lobos.
Ele entrou no palco calçando num pé um sapato e noutro um chinelo. O público vaiou, pois considerou a atitude futurista e desrespeitosa. Depois, foi esclarecido que Villa-Lobos entrou desta forma porque estava com um calo no pé.
Apesar da péssima recepção do público, as obras da Semana de Arte Moderna tiveram grande impacto.