República Popular da China - saiba mais sobre um dos países mais poderosos do mundo

A história da República Popular da China

A Guerra Civil Chinesa, que deu origem a República Popular da China, tem suas raízes na queda da última dinastia imperial do país, a Dinastia Qing, mostra o livro The Search for Modern China de Jonathan Spence.

No início do século XX, a China estava em um estado de crise. A dinastia Qing governou o país por séculos, mas começou a se enfraquecer devido aos casos de corrupção, ineficiência administrativa e incapacidade de resistir às potências estrangeiras que exploravam o país.

Em 1911, revolucionários republicanos deram origem ao movimento que ficou conhecido como a Revolução Xinhai. O grupo buscava acabar com o governo dinástico e estabelecer uma república moderna. 

Devido a guerra e a insatisfação de parte da população, o imperador Qing Puyi abdicou do trono em 1912. Sun Yat-sen, um dos líderes mais influentes da revolução, tornou-se o primeiro presidente provisório. No entanto, a nova república estava longe de ser estável, afirma Edwin E. Moise no livro Modern China: A History. 

Em 1916, o país se fragmentou após a morte do presidente Yuan Shikai. Líderes militares regionais começaram a competir pelo poder, mergulhando o país em uma série de conflitos internos. Esse período ficou conhecido como Era dos Senhores da Guerra.

O caos instalado na China provocou reações adversas. Durante esse período, um partido que buscava reunificar a China e acabar com a dominação dos senhores da guerra ganhou força: o Kuomintang (KMT - em português, Partido Nacionalista Chinês).

Em 1923, numa tentativa de consolidar o poder e fortalecer o movimento, o KMT formou uma aliança com o Partido Comunista Chinês (PCC), conhecida como a Primeira Frente Unida.

O acordo foi incentivado pela União Soviética, que forneceu apoio financeiro e militar, mostra o livro Origins of the Chinese Revolution, 1915-1949, de Lucien Bianco. Juntos, o KMT e o PCC lançaram a Expedição do Norte em 1926, uma campanha militar para derrotar os senhores da guerra e unificar o país.

No entanto, a aliança tinha um problema: o KMT e o PCC tinham profundas diferenças ideológicas.

Diferenças de pensamento

O PCC defendia:

• Marxismo-Leninismo: a base ideológica principal do PCC enfatiza o materialismo histórico, a luta de classes e a ditadura do proletariado. Mao Tsé-Tung desenvolveu a teoria para incluir a importância do campesinato na revolução;
• Reforma Agrária: o PCC defendia a total redistribuição de terras dos proprietários rurais para os camponeses;
• Guerra Popular Prolongada: o PCC buscava praticar uma estratégia militar de guerrilha, enfatizando a mobilização e apoio das massas rurais contra forças superiores.
• Autossuficiência Econômica: promoção da independência econômica, reduzindo a dependência de influências estrangeiras e desenvolvendo a indústria pesada e a agricultura coletivizada.

Diferente do PCC, o Kuomintang (KMT) tinha ideias contraditórias, como:

• Três Princípios do Povo: nacionalismo, democracia e bem estar do povo. O KMT não aceitava ideias autoritárias como a ditadura do proletariado.
• Reforma Agrária Moderada: implementação de políticas de reforma agrária sem a radical redistribuição de terras promovida pelo PCC.
• Apoio Militar e Alianças Estrangeiras: busca de apoio militar e econômico de potências estrangeiras, especialmente dos Estados Unidos, para combater o comunismo e modernizar a China.
• Anti-Comunismo: oposição ao comunismo e ao PCC, buscando estabelecer um estado republicano baseado em princípios democráticos e capitalistas.

Guerra civil e a ascensão da República Popular da China

Em 1927, o líder do KMT, Chiang Kai-shek, decidiu purgar os comunistas da China, rompendo a Primeira Frente Unida e iniciando a Guerra Civil Chinesa.

Chiang e o KMT controlavam as áreas urbanas e o governo central, enquanto o PCC, liderado por Mao Tsé-Tung, se retirou para as áreas rurais, onde começou a organizar uma resistência baseada em estratégias de guerrilha, mostra o autor John E. Schrecker no livro The Chinese Revolution in Historical Perspective.

Durante os anos 1930, a luta entre o KMT e o PCC continuou de forma intermitente, com o PCC consolidando sua base de apoio nas áreas rurais e desenvolvendo estratégias de guerrilha eficazes.

Em 1934, o PCC foi encurralado no sudeste da China, mas eles conseguiram escapar com uma estratégia que ficou conhecida como a Longa Marcha. O sucesso da iniciativa trouxe combustível para o movimento comunista, voltando a se desenvolver pelo país.

Em 1937, a China foi invadida pelo Japão. A invasão trouxe uma trégua temporária na guerra civil. O KMT e o PCC formaram uma Segunda Frente Unida para combater o inimigo comum, mas as tensões entre os dois partidos continuaram. 

A guerra sino-japonesa foi devastadora para a China, mas também permitiu que o PCC aumentasse seu poder e influência, especialmente nas áreas ocupadas pelo Japão, onde os comunistas ganharam o apoio popular através de suas políticas agrárias e de resistência ao invasor.

Com a rendição do Japão em 1945, a guerra civil entre o KMT e o PCC recomeçou com intensidade renovada. O PCC, beneficiado pelo apoio popular e pela experiência de guerrilha, começou a ganhar terreno rapidamente. 

Fundação da República Popular da China

Entre 1946 e 1949, as forças comunistas conseguiram derrotar as tropas nacionalistas em uma série de batalhas decisivas, culminando na tomada de Pequim e na fuga de Chiang Kai-shek para Taiwan, onde até hoje o território se mantém como uma República separada da China do PCC.

• Saiba mais sobre os conflitos modernos entre China e Taiwan.

Em 1º de outubro de 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a fundação da República Popular da China, marcando o fim da Guerra Civil Chinesa. A vitória comunista estabeleceu um novo regime comunista na China continental, enquanto o KMT manteve um governo separado em Taiwan, uma divisão política que persiste até hoje.

A vitória do PCC trouxe mudanças radicais na estrutura política, econômica e social do país, iniciando um novo capítulo na história chinesa, que moldaria o futuro da nação e influenciaria a dinâmica global por décadas.

Políticas e crises da República Popular da China

Alguns dos principais momentos que forjaram a atual República Popular da China são:

• Reforma Agrária e Campanha de Supressão dos Contra-Revolucionários (1950-1953): ao chegar no poder, o PCC iniciou uma reforma agrária e a execução de uma campanha para eliminar opositores políticos.
• Grande Salto Adiante (1958-1962): segundo o historiador Frank Dikkoter, Mao Tsé-Tung queria tornar a China em um país industrializado a todo custo. Para acelerar a industrialização e coletivização da agricultura, ele instituiu jornadas de trabalho forçado, campos de trabalho e punições severas, resultando em uma crise de fome e assassinatos que gerou aproximadamente 45 de milhões de mortes.
• Revolução Cultural (1966-1976): para ganhar a fidelidade da população, o governo iniciou um movimento para reforçar os princípios maoístas. As escolas e as instituições do país foram obrigadas a venerar símbolos e figuras do Partido Comunista Chinês. 
• Reformas Econômicas de Deng Xiaoping (1978-1992): Deng Xiaoping, líder da introdução de reformas econômicas que abriram a economia chinesa para o mercado e incentivaram o investimento estrangeiro. Os EUA investiram bilhões de dólares na República Popular da China esperando que a economia de mercado levasse ao fim do governo comunista.
• Eventos na Praça da Paz Celestial (1989): no final da década de 80, milhões de chineses foram às ruas pedir o fim do autoritarismo do comunismo chinês. No entanto, o governo reprimiu violentamente as manifestações, gerando mortes e prisões.
• Crescimento Econômico e Integração Global (1990-presente): período de rápida expansão econômica e tecnológica da República Popular da China. Nesse período a China consolidou sua presença internacional emprestando dinheiro para países pobres e comprando terrenos e estruturas estratégicas.

A história da China possui aspectos únicos:

• um império tradicional milenar se tornou uma república comunista em menos de um século;
• mesmo se beneficiando de investimentos dos EUA, seu maior opositor político, a China preservou a sua visão comunista;
• a China consegue manter sua estrutura de controle ditatorial mesmo possuindo a maior população do mundo.

Compreender essa história é essencial para entender a geopolítica moderna e suas consequências na vida particular.

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