Entenda como foram os primeiros contatos entre portugueses e indígenas. Curiosamente, as escolas não ensinam assim
Em 1500, com a chegada da frota de Cabral, houve os primeiros contatos entre portugueses e indígenas. Entenda de uma vez por todas como foi esse encontro.
Violência, extermínio e submissão. Ainda hoje vigora a narrativa de que o primeiro contato entre portugueses e indígenas foi assim. Será que essa narrativa está realmente alinhada a todos os fatos?
Os índios nunca tinham visto pessoas como aquelas e com tais roupas. Nunca tinham visto tantos utensílios nem animais diferentes. Por outro lado, os portugueses tiveram uma primeira reação inesperada.
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Como foi o primeiro contato dos portugueses com os índios?
O primeiro contato entre portugueses e índios foi marcado pelo espanto diante do novo, do diferente. Inicialmente, não houve violência, mas sim um contato amistoso e movido por boa disposição.
Os próprios índios, ao avistarem as caravelas no mar, algo completamente novo, tomaram suas embarcações e navegaram ao encontro dessa novidade. Os portugueses se depararam com um povo completamente diferente, que trajava poucas roupas e falava uma língua estranha.
Não foi a violência da dominação portuguesa, nem a agressividade do indígena. A curiosidade foi a marca deste evento. Os diferentes povos buscaram maneiras de se comunicar e se fazer entender.
Em 22 de abril de 1500, a frota de Pedro Álvares Cabral aportou na Bahia, em um local ocupado pelas tribos Tupi-Guarani. Esse fato foi importante e singular. Pois nessa região, as tribos tinham um caráter menos violento, facilitando a primeira conversa entre portugueses e índios.
A história seria outra se os portugueses tivessem desembarcado perto de tribos como a dos Aimorés ou dos Botocudos, conhecidos pela violência e instinto guerreiro.
No encontro, os índios se interessaram pelos adornos e trajes portugueses, seus pingentes de ouro e rosários pendurados no pescoço. Muitos trocaram cocares por esses objetos.
Devido à recepção amigável e à curiosidade face a uma nova cultura, o olhar atento e interessado estava presente nos dois lados, tanto portugueses, como indígenas.
Dois animais que foram trazidos pelos portugueses despertaram a curiosidade dos indígenas: o cachorro e a galinha. Nenhum deles era uma espécie encontrada no território sul americano.
Pero Vaz de Caminha relata a cômica cena de índios fugindo de uma pequena galinha. Os índios igualmente ofereceram objetos raros na troca, como penas de araras, que adornavam o cocar de membros mais imponentes da tribo.
Outros objetos portugueses foram oferecidos: machados, facões e espelhos. Em troca, os índios entregaram o Pau-Brasil, árvore que atendeu uma grande demanda financeira dos europeus.
Contexto do Reino de Portugal
Portugal foi pioneiro nas Grandes Navegações europeias do século XV. Os principais fatores que explicam seu pioneirismo são:
Localização geográfica litorânea;
Centralização precoce do Estado;
Financiamento do rei e da burguesia;
Desenvolvimento de técnicas e tecnologias navais.
Você pode ler sobre o início da aventura portuguesa no mar. Antes deles velejarem, lutaram por séculos contra os muçulmanos. Leia o artigo com a história da Reconquista da Península Ibérica.
Em 1415, Portugal empreendeu sua primeira grande navegação no Oceano, alcançando a ilha de Ceuta, no norte da África. O desejo português era encontrar uma nova rota para o oriente, já que o Império Otomano havia fechado as portas do comércio oriental para a Europa.
Era necessário atravessar todo o contorno do continente africano, o chamado Périplo Africano, para se alcançar a Ásia.
Porém, o caminho não era tão simples. Na parte sul da África havia uma corrente marítima que afundava qualquer caravela que tentasse atravessá-la: o Cabo das Tormentas.
Somente em 1488, Portugal conseguiu atravessar o Cabo e alcançar a Ásia. A frota de Bartolomeu Dias protagonizou esse grande feito. E assim o Cabo das Tormentas passou a ser o Cabo da Boa Esperança.
Enquanto Portugal enfrentava o contorno da África, a Espanha também entrou na corrida marítima. Em 1492, a frota de Cristóvão Colombo descobriu o novo continente.
A grande teoria que explica a travessia portuguesa é a de que os navegantes utilizaram da circum-navegação. Ao invés de traçar a rota em linha reta, a embarcação descrevia círculos para alcançar seu destino.
Alguns historiadores supõem que, na circum-navegação da África, os navegadores podem ter avistado terra a oeste, quando esperavam avistá-la somente a leste.
Os Principais Tratados de Navegação entre Portugal e Espanha
Portugal e Espanha disputavam os domínios ultramarinos.
Para evitar confrontos, os dois reinos optaram por firmar um acordo de divisão dos territórios além-mar. Com a mediação do Papa Alexandre VI na Bula Inter Caetera, dividiram o mundo em duas partes: o leste para Portugal e o oeste para a Espanha.
O traço firmado na divisão de 1493 estava a 100 léguas da ilha de Cabo Verde. Mas Portugal, sabendo da possibilidade de terras a oeste da África no Hemisfério Sul, elaborou um novo tratado com a Espanha: o famoso Tratado de Tordesilhas.
Assim, a divisória passaria a 372 léguas a oeste da ilha de Cabo Verde. O que foi o suficiente para Portugal ter direito à posse do litoral brasileiro.
No dia 22 de abril de 1500, Pedro Álvares Cabral, Grão-Mestre da Ordem de Cristo, conduziu 13 caravelas portuguesas que chegaram ao Brasil.
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Descobrimento do Brasil? Invasão? Achamento?
Quando se discute como foram os primeiros contatos entre portugueses e indígenas, outro tema sempre vem à tona: Qual o termo adequado para a chegada dos portugueses?
Quem defende o descobrimento, é bombardeado por defensores da tese que o Brasil já havia sido descoberto pelos índios. Nesse caso, os portugueses tomaram as terras que pertenciam aos indígenas por direito.
Para outros, a opção de invasão é adequada à visão de violência e genocídio português. Alguns grupos de historiadores ensinam que os índios viviam tranquilamente quando o europeu chegou semeando a desordem.
E, por fim, existe a opção neutra, a de um achamento. Os portugueses acharam um território novo que já era habitado por outro povo.
Dois pontos são necessários entender para bem considerar essa questão:
Os índios não tinham compreensão de posse ou de propriedade da terra;
Tanto o português quanto o índio experimentaram um grande descobrimento em 1500.
Os índios habitavam uma pequena parcela de um território vasto. Uma grande floresta de vegetação alta e densa. O horizonte parecia ser infinito e os povos preocupavam-se apenas em demarcar a área de suas tribos.
Muitos povos eram até seminômades, tendo ainda menos apego à terra. Portanto, invasão é um termo apropriado apenas para ataques a tribos, quando estes ocorriam.
A ideia de achamento, apesar da neutralidade, traz um erro na sua formulação, como se o território no continente americano fosse um grande fruto do acaso e que os portugueses um dia tiveram a sorte de encontrar.
Essa tese do acaso, em muitas escolas, ainda é ensinada.
Como há um momento de encontro de dois povos que nunca se viram, o termo descobrimento é adequado. Os índios encontraram um homem novo, que portavam objetos, roupas, armas e até animais que nunca viram antes.
Os europeus também se depararam com um território completamente novo, um povo nativo com uma língua nunca ouvida e com hábitos peculiares, além de uma fauna e flora ainda não conhecida.
Desse modo, tendo-se em vista o encontro entre duas culturas desconhecidas, é possível nomear o encontro entre europeus e indígenas de descobrimento.