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História do Brasil
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Entenda agora como surgiram as favelas no Rio de Janeiro

O surgimento das favelas no Rio de Janeiro remete a 1903, época em que a cidade passou por reformas. Os responsáveis queriam europeizar a capital brasileira.

Por
Redação Brasil Paralelo
Publicado em
25/2/2022 14:56
As favelas cariocas ocupam grande parte dos montes da cidade.

Há até hoje muito debate sobre a origem das favelas no Rio de Janeiro. Para entender de onde vieram é necessário voltar ao período em que um presidente e um prefeito tentaram transformar a cidade do Rio de Janeiro em Paris e acabaram promovendo à força teses eugenistas. Pelo caminho derrubaram inúmeras casas no centro da cidade o que levou a uma verdadeira desordem social.

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Mas afinal, como surgiram as favelas no Rio de Janeiro?

As favelas do Rio de Janeiro surgiram devido a 2 fatores principais, explica o historiador Nireu Oliveira Cavalcanti: a tentativa de reformar o Rio para parecer Paris e o desenvolvimento dos cortiços, especialmente devido ao fluxo migratório de ex-escravos e de moradores de Canudos.

As favelas cariocas começaram a surgir no início do século XX. O Brasil se aproximava do seu centenário da independência e o presidente Rodrigues Alves, junto do prefeito Pereira Passos, buscaram reformar a capital do país.

O presidente levantou recursos para que a reforma fosse feita. Em 1903, Pereira Passos a iniciou e ela foi inspirada em uma reforma feita na cidade de Paris. Entre 1853 e 1870, a capital francesa adquiriu novos traços.

  • As favelas com seus altos índices de criminalidade ocupam a paisagem das grandes cidades do Brasil. Elas são apenas um dos elementos que escancaram a crise de segurança pública que o país vive. No nosso próximo documentário, Entre Lobos, iremos apresentar um panorama geral sobre a falta de segurança no Brasil. Cadastre-se gratuitamente para assistir.

Como a reforma de Paris influenciou o Rio de Janeiro?

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Foto histórica da cidade de Paris antes de sua reforma.

Para entender melhor as favelas no Rio de Janeiro, primeiro é necessário ir ao continente europeu, na cidade de Paris, França.

Paris é uma das cidades mais visitadas no mundo hoje. Muitos elementos turísticos que possui remetem à reforma que a cidade passou no século XIX. O imperador Napoleão 3º confiou o projeto a seu chefe de departamento George-Eugène Haussmann.

Napoleão 3º, imperador francês, é sobrinho do grande general Napoleão Bonaparte. Sob seu governo, regiões inteiras da cidade foram demolidas e substituídas por avenidas largas e arborizadas. “Era a reconstrução de Paris”, escreveu Haussmann, orgulhoso, em seu livro de memórias.

Mesmo sendo administrador público, e não engenheiro ou arquiteto, Haussmann deu andamento à reforma. A cidade de Paris se tornou um grande canteiro de obras por mais ou menos 20 anos.

O plano foi concebido em três fases:

  1. demolição de 19.730 prédios históricos;
  2. substituição de antigas e estreitas ruas por avenidas largas;
  3. construção de 34.000 novos prédios mais modernos.

Era a demolição de vários elementos que compunham a memória tradicional da cidade de Paris.

As novas construções contemplaram:

  • quarteirões mais amplos;
  • parques, inspirados no Hyde Park, de Londres;
  • sistema de esgoto que abrangesse toda a cidade;
  • aquedutos para ampliar o acesso à água doce;
  • encanamentos de gás subterrâneos para iluminação de toda a cidade;
  • fontes;
  • banheiros públicos;
  • fileiras de árvores.

A reforma mobilizou inúmeros trabalhadores entre pedreiros, arquitetos, engenheiros e paisagistas.

Alguns dos pontos turísticos mais visitados em Paris hoje são frutos da reforma de Haussmann. Locais como: a Ópera de Paris, o mercado de Les Halles e as várias avenidas radiais que saem do Arco do Triunfo na Place Charles de Gaulle.

Nenhuma outra cidade na história sofreu uma transformação tão radical quanto Paris. O Rio de Janeiro tentou seguir seu exemplo, mas algo não deu certo no projeto de reforma.

O ano em que o Rio de Janeiro quis ser uma Paris

Em 1903, o Brasil se aproximava do centenário da independência. A capital, na época o Rio de Janeiro, ainda carregava aspectos arquitetônicos semelhantes ao período colonial: ruas estreitas, um estilo barroco e uma cidade que sofria problemas sérios de higiene.

Pereira Passos, o prefeito da época, se aliou ao presidente Rodrigues Alves para levantar fundos para a modernização do Rio de Janeiro.

A capital do país ainda não tinha nem saneamento básico. Muitas casas recolhiam seus dejetos em baldes e os atiravam nas ruas. As estreitas ruas eram locais cheios de sujeiras e doenças.

Para a reforma, o prefeito contou com a ajuda do médico sanitarista Oswaldo Cruz. Este foi o responsável pela vacinação obrigatória contra a Varíola no Rio. O que levou à famosa Revolta da Vacina, em 1904.

A reforma do Rio de Janeiro tinha como objetivo modernizar a capital, torná-la semelhante à moderna Paris e melhorar as condições de higiene.

Em sua gestão, Passos criou a Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, a Avenida Beira-Mar e a Avenida Maracanã.

A reforma se inspirou tanto no exemplo da capital francesa, que o Rio de Janeiro passou a ser conhecido como “Paris dos trópicos”, uma cidade cartão-postal.

Para alargar as ruas e criar avenidas, foi necessário lidar com o problema dos cortiços do centro da cidade. É justamente essa a situação que está ligada ao surgimento das favelas no Rio de Janeiro.

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Os Cortiços do centro do Rio de Janeiro

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Foto de cortiços do centro sendo demolidos

O centro da cidade do Rio de Janeiro era tomado por cortiços. Grandes e velhos casarões que abrigavam inúmeras famílias de baixa renda, além de pessoas consideradas indesejáveis.

Os cortiços alugavam quartos por preços baixos no centro. Todo o tipo de gente morava amontoada nestes locais. As condições de vida não eram boas. Aluísio Azevedo retrata essa situação em sua obra O Cortiço. 

Para criar avenidas largas, arborizadas e que permitissem a passagem de carros no centro da capital, era necessário derrubar os casarões.

Durante a reforma, o prefeito Pereira Passos não hesitou: expulsou os pobres moradores que moravam amontoados nos velhos casarões e demoliu os cortiços  para implementar seus planos de reforma.

A população foi obrigada a procurar refúgio em subúrbios afastados na capital. A expulsão deu início ao processo de favelização do Rio de Janeiro. Os moradores expulsos nem sequer receberam indenização ao perder suas casas.

E o pior: as ideias higienistas e modernizadoras não eram o principal motivo da reforma do Rio de Janeiro.

Como o desejo de europeizar o Rio de Janeiro promoveu um grande caos social

No século XIX, Herbert Spencer ganhou notoriedade por aplicar a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin à realidade das sociedades. Seu pensamento ficou conhecido como Darwinismo Social.

Para os pensadores dessa corrente, há uma hierarquia entre as sociedades e somente as mais desenvolvidas física e intelectualmente são capazes de sobreviver.

Um dos desenvolvimentos dessa teoria foi o surgimento de ideias eugenistas. O eugenismo é a crença na superioridade de uma raça a partir de seus traços fenotípicos.

Na Europa do século XX, essas ideias ganharam força e influenciaram diversos pensadores brasileiros.

A reforma do Rio de Janeiro serviu ao propósito de higienizar e modernizar o Rio de Janeiro, mas, acima de tudo, fazia parte de um plano maior: a europeização da sociedade.

O eugenismo estava presente em grupos da classe política republicana. E é a partir dessas ideias segregadoras que surgem as favelas no Rio de Janeiro.

Para que o Rio de Janeiro, capital do Brasil, fosse apresentado ao mundo como uma cidade moderna no centenário da independência, o centro não poderia ser tomado por pessoas consideradas inferiores.

Isto explica a expulsão arbitrária e a força promovida por Pereira Passos. Se a situação das favelas durante estes era de abandono e descaso, um político gaúcho nos anos 80 apareceu com uma promessa de mudar o desenho do Rio de Janeiro.

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