Há até hoje muito debate sobre a origem das favelas no Rio de Janeiro. Para entender de onde vieram é necessário voltar ao período em que um presidente e um prefeito tentaram transformar a cidade do Rio de Janeiro em Paris e acabaram promovendo à força teses eugenistas. Pelo caminho derrubaram inúmeras casas no centro da cidade o que levou a uma verdadeira desordem social.
As favelas do Rio de Janeiro surgiram devido a 2 fatores principais, explica o historiador Nireu Oliveira Cavalcanti: a tentativa de reformar o Rio para parecer Paris e o desenvolvimento dos cortiços, especialmente devido ao fluxo migratório de ex-escravos e de moradores de Canudos.
As favelas cariocas começaram a surgir no início do século XX. O Brasil se aproximava do seu centenário da independência e o presidente Rodrigues Alves, junto do prefeito Pereira Passos, buscaram reformar a capital do país.
O presidente levantou recursos para que a reforma fosse feita. Em 1903, Pereira Passos a iniciou e ela foi inspirada em uma reforma feita na cidade de Paris. Entre 1853 e 1870, a capital francesa adquiriu novos traços.
Para entender melhor as favelas no Rio de Janeiro, primeiro é necessário ir ao continente europeu, na cidade de Paris, França.
Paris é uma das cidades mais visitadas no mundo hoje. Muitos elementos turísticos que possui remetem à reforma que a cidade passou no século XIX. O imperador Napoleão 3º confiou o projeto a seu chefe de departamento George-Eugène Haussmann.
Napoleão 3º, imperador francês, é sobrinho do grande general Napoleão Bonaparte. Sob seu governo, regiões inteiras da cidade foram demolidas e substituídas por avenidas largas e arborizadas. “Era a reconstrução de Paris”, escreveu Haussmann, orgulhoso, em seu livro de memórias.
Mesmo sendo administrador público, e não engenheiro ou arquiteto, Haussmann deu andamento à reforma. A cidade de Paris se tornou um grande canteiro de obras por mais ou menos 20 anos.
O plano foi concebido em três fases:
Era a demolição de vários elementos que compunham a memória tradicional da cidade de Paris.
As novas construções contemplaram:
A reforma mobilizou inúmeros trabalhadores entre pedreiros, arquitetos, engenheiros e paisagistas.
Alguns dos pontos turísticos mais visitados em Paris hoje são frutos da reforma de Haussmann. Locais como: a Ópera de Paris, o mercado de Les Halles e as várias avenidas radiais que saem do Arco do Triunfo na Place Charles de Gaulle.
Nenhuma outra cidade na história sofreu uma transformação tão radical quanto Paris. O Rio de Janeiro tentou seguir seu exemplo, mas algo não deu certo no projeto de reforma.
Em 1903, o Brasil se aproximava do centenário da independência. A capital, na época o Rio de Janeiro, ainda carregava aspectos arquitetônicos semelhantes ao período colonial: ruas estreitas, um estilo barroco e uma cidade que sofria problemas sérios de higiene.
Pereira Passos, o prefeito da época, se aliou ao presidente Rodrigues Alves para levantar fundos para a modernização do Rio de Janeiro.
A capital do país ainda não tinha nem saneamento básico. Muitas casas recolhiam seus dejetos em baldes e os atiravam nas ruas. As estreitas ruas eram locais cheios de sujeiras e doenças.
Para a reforma, o prefeito contou com a ajuda do médico sanitarista Oswaldo Cruz. Este foi o responsável pela vacinação obrigatória contra a Varíola no Rio. O que levou à famosa Revolta da Vacina, em 1904.
A reforma do Rio de Janeiro tinha como objetivo modernizar a capital, torná-la semelhante à moderna Paris e melhorar as condições de higiene.
Em sua gestão, Passos criou a Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, a Avenida Beira-Mar e a Avenida Maracanã.
A reforma se inspirou tanto no exemplo da capital francesa, que o Rio de Janeiro passou a ser conhecido como “Paris dos trópicos”, uma cidade cartão-postal.
Para alargar as ruas e criar avenidas, foi necessário lidar com o problema dos cortiços do centro da cidade. É justamente essa a situação que está ligada ao surgimento das favelas no Rio de Janeiro.
O centro da cidade do Rio de Janeiro era tomado por cortiços. Grandes e velhos casarões que abrigavam inúmeras famílias de baixa renda, além de pessoas consideradas indesejáveis.
Os cortiços alugavam quartos por preços baixos no centro. Todo o tipo de gente morava amontoada nestes locais. As condições de vida não eram boas. Aluísio Azevedo retrata essa situação em sua obra O Cortiço.
Para criar avenidas largas, arborizadas e que permitissem a passagem de carros no centro da capital, era necessário derrubar os casarões.
Durante a reforma, o prefeito Pereira Passos não hesitou: expulsou os pobres moradores que moravam amontoados nos velhos casarões e demoliu os cortiços para implementar seus planos de reforma.
A população foi obrigada a procurar refúgio em subúrbios afastados na capital. A expulsão deu início ao processo de favelização do Rio de Janeiro. Os moradores expulsos nem sequer receberam indenização ao perder suas casas.
E o pior: as ideias higienistas e modernizadoras não eram o principal motivo da reforma do Rio de Janeiro.
No século XIX, Herbert Spencer ganhou notoriedade por aplicar a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin à realidade das sociedades. Seu pensamento ficou conhecido como Darwinismo Social.
Para os pensadores dessa corrente, há uma hierarquia entre as sociedades e somente as mais desenvolvidas física e intelectualmente são capazes de sobreviver.
Um dos desenvolvimentos dessa teoria foi o surgimento de ideias eugenistas. O eugenismo é a crença na superioridade de uma raça a partir de seus traços fenotípicos.
Na Europa do século XX, essas ideias ganharam força e influenciaram diversos pensadores brasileiros.
A reforma do Rio de Janeiro serviu ao propósito de higienizar e modernizar o Rio de Janeiro, mas, acima de tudo, fazia parte de um plano maior: a europeização da sociedade.
O eugenismo estava presente em grupos da classe política republicana. E é a partir dessas ideias segregadoras que surgem as favelas no Rio de Janeiro.
Para que o Rio de Janeiro, capital do Brasil, fosse apresentado ao mundo como uma cidade moderna no centenário da independência, o centro não poderia ser tomado por pessoas consideradas inferiores.
Isto explica a expulsão arbitrária e a força promovida por Pereira Passos. Se a situação das favelas durante estes era de abandono e descaso, um político gaúcho nos anos 80 apareceu com uma promessa de mudar o desenho do Rio de Janeiro.
Leonel Brizola, que já havia sido prefeito de Porto Alegre e governador do Rio Grande do Sul, muda-se para o Rio de Janeiro e, em 1983, torna-se governador do Rio de Janeiro com uma promessa: tratar o morador da favela de igual para igual com o morador da área central da cidade.
Sua visão era a de que a polícia era truculenta apenas nas favelas, e a descriminação era a verdadeira responsável pelos crimes na capital carioca.
Um nacionalista com ideário populista herdado do ditador Getúlio Vargas, Brizola foi governador nos últimos anos da ditadura, quando ela ainda enfrentava focos da guerrilha armada.
Um dos principais presídios a abrigar criminosos da ditadura era o presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande. Muitos destes presidiários cometiam violentos crimes de guerrilha, mas costumavam vir da classe média, mesmo com formação universitária e ideais de esquerda.
Brizola e seu igualitarismo aprofundou uma crise que já havia começado nos anos 70: a união entre os criminosos comuns e os presos políticos da ditadura.
Os primeiros davam armas, coragem e violência às vanguardas de esquerda. Os segundos ensinaram os traficantes a terem organização política e hierárquica, além de um discurso social.
Ao contrário do que esperava, a violência no Rio não diminuiu com as políticas sociais de Brizola. Pelo contrário: o crime agora era organizado, tinha até mesmo estrutura jurídica, era defendido como uma ferramenta revolucionária por professores universitários e, o principal: tinha armamentos mais pesados e a proteção territorial das favelas, financiados com o dinheiro do narcotráfico.
O Numbeo é um ranking que mede o índice de criminalidade por cidade na América. De acordo com ele, o Rio ocupa a 4ª posição entre as 142 cidades mais criminosas do continente americano. Com uma taxa de criminalidade muito alta de 77,68. O Rio de Janeiro é mais perigoso que Los Angeles, México, Cancún, Bogotá e Medellín.
Entre julho de 2016 e 2017, o Rio de Janeiro registrou ao menos 3.829 tiroteios, uma média de 319 trocas de tiros por mês.
São dados levantados pela Anistia Internacional, no seu aplicativo Fogo Cruzado. Os tiroteios vitimaram 706 pessoas e ainda deixaram outros 976 feridos.
A favela no Rio de Janeiro do Complexo do Alemão lidera os rankings dos tiroteios e registrou nesse período ao menos 1 tiroteio a cada um dia e meio.
A partir dos dados de 2018, a média fica 1 para um.
Em janeiro de 2018, o aplicativo Onde Tem Tiro (OTT) registrou 500 tiroteios no primeiro mês do ano. As favelas que lideram o ranking são:
Em geral, quando se questiona qual a favela mais perigosa do Rio de Janeiro, a resposta é Complexo do Alemão e Jacarezinho. A primeira registra os maiores números de ocorrência de tiroteios e a segunda é comandada por uma das maiores facções criminosas do Rio.
Os índices apontam o problema da violência e da pobreza nas favelas no Rio de Janeiro. Mesmo assim, algumas são consideradas mais tranquilas, sendo até feitas de ponto turístico.
Hoje, a cidade do Rio de Janeiro conta, segundo algumas estimativas, com quase mil favelas.
Segundo o Censo de 2010 do IBGE, o Rio de Janeiro conta com 763 favelas na cidade, que abrigam 22% da população total. A capital fluminense é o município brasileiro com o maior número de moradores em favelas: 1.393.314 habitantes.
A região metropolitana reúne 1.702.073 pessoas morando em favelas, o que corresponde a 14,4% da população da região.
As favelas no Rio de Janeiro se diferenciam do restante do país. Existem os chamados complexos que aglomeram diversos assentamentos. Algo raro no restante do país.
Ainda de acordo com o censo, entre os seis maiores aglomerados do Brasil, com mais de 50 mil habitantes, dois são cariocas e ocupam a primeira e a terceira posição:
Apesar de hoje muitas favelas do Rio de Janeiro serem consideradas destinos turísticos, elas são locais perigosos.
Com a pacificação dos morros da cidade, o turismo nas favelas tem atraído cada vez mais visitantes. E a Rocinha está entre os destinos mais procurados, desde que recebeu a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
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