Um cão que traz na boca uma tocha irradia luz por onde passa correndo: essa imagem foi escolhida para representar o que é o distributismo, uma teoria que se apresenta como uma alternativa para resolver os problemas deixados tanto pelo capitalismo quanto pelo socialismo.
No distributismo, a propriedade privada, a liberdade e a geração de riqueza unem-se naturalmente à vida das famílias.
O distributismo, distribucionismo ou distributivismo é uma teoria social e econômica que surgiu na Inglaterra, desenvolvida por Hilaire Belloc e por Gilbert Chesterton a partir da Doutrina Social da Igreja Católica.
A proposta distributiva pretende ser uma terceira via, uma alternativa ao capitalismo e ao socialismo, uma vez que esses dois formatos não conseguem resolver os problemas sociais vividos pelo trabalhador.
Respeitando a lei natural, na teoria do distributismo, considera-se a propriedade privada como a principal garantia de liberdade política e de sustento do homem.
Atualmente, esse tema não recebe muita importância e raramente é mencionado em grandes trabalhos econômicos: poucos estudiosos conhecem o distributismo. Mesmo assim, em alguns âmbitos das universidades americanas, figuram ainda algumas reflexões distributivistas.
Quando surgiu o distributismo?
Os fundamentos do distributismo aparecem com evidência na encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII, onde ele articulou teorias sociais e econômicas. Em resumo, o papa apontou os caminhos que devem ser seguidos nas transações econômicas, nas relações de trabalho, no pagamento do salário, na vivência da solidariedade e na difusão da propriedade.
Esse conjunto de princípios morais elencados a serem vividos, foi posteriormente compendiado como Doutrina Social da Igreja: o distributismo é a forma prática de aplicação desses valores no mundo político.
O problema do trabalhador
Antes da Revolução Industrial, o mundo dependia da produção agrícola para se desenvolver: a população vivia em função do campo.
Mas a industrialização trouxe o problema da jornada de trabalho, juntamente com uma nova dinâmica de mercado, o que trouxe problemas sociais. O trabalhador se viu sujeito a condições precárias, a uma desumana jornada de trabalho e a salários injustos.
Ao mesmo tempo, a expectativa de vida do trabalhador havia aumentado, já que não era mais necessário depender do campo, que poderia não dar o fruto conforme as reviravoltas da natureza.
A Rerum Novarum foi publicada para combater duas ideologias: o liberalismo, que não resolvia os problemas sociais vividos pelo trabalhador da época; e o socialismo, que tentava resolver esses problemas mas piorava a situação.
Foi por isso que Belloc e Chesterton buscaram descrever a melhor forma de aplicar na realidade os princípios morais contidos na carta do papa.
Hilaire Belloc foi um historiador francês que viveu na Inglaterra e se consagrou como grande escritor britânico. Ele foi o primeiro a sistematizar o pensamento sobre o distributismo, em seu livro The Servile State, de 1913.
Entretanto, o principal propagador dessas ideias foi o escritor inglês Gilbert Keith Chesterton. Ele foi um dos que mais escreveu ensaios acadêmicos defendendo o distributismo em oposição à plutocracia: os grandes capitalistas e os meios de comunicação de massa.
Juntos, nos anos 1907 e 1908, Belloc e Chesterton debateram com Bernard Shaw e H. G. Wells na revista New Age. Pela primeira vez, as ideais do distributismo foram expostas ao público.
A 1917, em Nova York, lançou-se o livro Utopia of usurers and other essays contendo nove artigos e 17 ensaios sobre o distributismo, escritos por Chesterton.
Outros autores que aderiram à proposta distributiva foram Arthur Penty, Cecil Chesterton, W. T. Titterton e Vincent McNabb.
No Brasil, o distributismo foi defendido por Gustavo Corção e Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde). Atualmente, é difundida pela Sociedade Chesterton Brasil.
Especialmente, o Corção é muito conhecido por sua obra Três alqueires e uma vaca, 1961. Nela, ele disserta sobre o que é Distributismo e suas críticas ao capitalismo e ao marxismo.
Em 1930, nos EUA, o distributismo foi tratado em inúmeros artigos no The American Review, publicado e editado por Seward Collins.
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Terra, trabalho e capital
No distributismo, o conceito de terra abrange o meio que será transformado pela ação do homem, incluindo as ferramentas e os maquinários a serem empregados.
Trabalho é a energia humana, mental ou física empregada na produção da riqueza. Como a geração de riqueza é um processo que demanda tempo, é prudente reservar parte do que foi produzido para atender às necessidades futuras. Parte do lucro da produção pode também ser reservado para novos investimentos.
Vale ressaltar também que o Distributismo herda os princípios econômicos escolásticos, visando não apenas gastar de forma utilitarista o que se produz ou o que se receba. Pensa-se na destinação final dos bens, levando-se em consideração a família e o bem comum.
A riqueza é toda a matéria inteligentemente transformada para atender às necessidades humanas.
A reserva de riquezas para se utilizar em novos investimentos recebe o nome de capital.
Belloc defendeu que a transformação inteligente, específica e necessária do meio, fruto da criatividade do homem, é produção de riqueza.
A importância do meio de produção no distributismo
A matéria prima encontrada na natureza precisa ser transformada para ser utilizada da melhor forma e por mais pessoas. Neste caso, os meios de produção são a própria terra e os equipamentos e ferramentas necessárias para trabalhar e transformar materiais brutos em bens ou serviços.
Quando o homem não possui o meio de produção por si mesmo, ele passa a depender da permissão de alguém que possui para conseguir gerar riqueza, já que não o faz por si mesmo.
Em outras palavras, se uma pessoa não tem terra nem capital para investir, terá de trabalhar para quem tem: assim, o proletário é o indivíduo que oferece seu trabalho em troca de parte dos lucros dos outros. Essa é a maior característica capitalista.
Considerando a teoria distributivista, a crítica feita por seus defensores não é direcionada à venda da força de trabalho, mas sim ao fato de que os meios de produção ficam muitas vezes limitados a um número pequeno de cidadãos.
No sistema capitalista, os meios de produção estão concentrados nas mãos de poucos.
No sistema socialista, os meios de produção estão concentrados na mão do Estado.