O fascismo não dominou apenas pela violência nas ruas ou pela força militar. Sua arma mais poderosa foi o controle da informação.
Ao silenciar críticos e transformar a propaganda em espetáculo, regimes como o de Mussolini e Hitler criaram a ilusão de consenso popular e apagaram vozes discordantes.
Na Itália, jornais opositores tiveram seus diretores substituídos à força. Mussolini chegou a revisar pessoalmente manchetes e editoriais. O historiador Richard Bosworth lembra que, após a ascensão do Duce, “a autonomia política ou ideológica deixou de existir — estar fora do fascismo era estar contra a nação”.
Na Alemanha, o Ministério da Propaganda de Joseph Goebbels tornou-se quase onipresente.
Escritores, músicos e jornalistas eram obrigados a se registrar na Câmara da Cultura do Reich e dar detalhes de sua vida; judeus e opositores eram sumariamente excluídos. Como mostra Richard J. Evans:
“Até corais e clubes de futebol foram absorvidos pelo nazismo”.
A intenção era que nada escapasse ao partido, nem mesmo assuntos de foro individual.
Segundo o historiador Erik Kurlander, a propaganda nazista foi considerada:
“Mais essencial que a própria repressão para manter o regime”.
O nazismo não criou a mídia de massa do zero — ele ocupou e reconfigurou as estruturas já existentes. O ponto de virada veio em 27 de fevereiro de 1933, quando o prédio do Reichstag, sede do parlamento alemão, foi incendiado.
Hitler acusou imediatamente os comunistas de conspirar contra o Estado, explorando o pânico para pressionar o presidente Hindenburg a assinar o Decreto do Incêndio do Reichstag.
Esse decreto suspendeu liberdades civis — como a liberdade de imprensa, expressão e reunião — e autorizou prisões sem ordem judicial. Na prática, a oposição foi desarticulada em questão de dias: jornalistas críticos foram presos, redações invadidas e jornais fechados.
A partir dali, Hitler pôde moldar o espaço público sem resistência, colocando a imprensa sob controle do Partido Nazista.
Editorias inteiras foram substituídas por jornalistas alinhados ao regime. O resultado foi que, em pouco tempo, a imprensa alemã falava quase em uníssono, repetindo as narrativas oficiais.
O passo seguinte foi o controle do rádio. O governo lançou o Volksempfänger (“rádio do povo”), um aparelho barato e de alcance nacional.
A ideia era simples: eliminar barreiras técnicas e financeiras para garantir que toda casa alemã tivesse acesso à voz de Hitler. O rádio deixou de ser apenas um meio de entretenimento para se tornar o canal central de doutrinação diária.
No campo do cinema, a estratégia foi dupla. Primeiro, restringir qualquer produção considerada “degenerada” ou crítica. Depois, investir pesado em filmes que transmitissem estética de ordem, disciplina e grandeza nacional.
A cineasta Leni Riefenstahl, com obras como O Triunfo da Vontade (1935), transformou comícios nazistas em verdadeiras epopeias visuais, projetando a imagem de um povo unido sob o Führer.
Segundo o historiador Richard J. Evans, essa hegemonia foi construída não só pela criação de novos conteúdos, mas pela absorção sistemática de todas as associações culturais: desde editoras e rádios regionais até clubes de música, teatro e até futebol:
“Nada escapava ao Partido”, escreve Evans.
A mídia deixou de ser um espaço plural para se tornar uma engrenagem a serviço do Estado. O nazismo não precisava convencer todos os alemães; bastava garantir que só uma narrativa chegasse até eles.
Como resume Erik Kurlander:
“A propaganda foi mais essencial que a própria repressão para manter o regime”.
A propaganda fascista e nazista não apenas divulgava ideias — ela fabricava devoção. Mussolini foi apresentado como o “pai incansável da pátria”, enquanto Hitler era retratado como a própria encarnação da Alemanha. Cartazes, filmes e jornais exaltavam cada gesto, cada palavra, cada aparição pública dos dois líderes.
O historiador Richard Golsan, professor em Oxford, lembra que Mussolini recebia milhares de cartas por semana de cidadãos italianos pedindo conselhos sobre problemas pessoais, como se o Duce fosse uma figura quase sagrada, capaz de orientar não apenas a política, mas a vida íntima de cada um.
Na Alemanha, essa idolatria foi ainda mais longe. O Partido Nazista cultivou o “culto ao Führer”, que transformou Hitler em objeto de veneração cotidiana. Havia orações escolares que substituíam o Pai-Nosso por invocações ao Führer, retratos obrigatórios em todas as salas de aula e repartições públicas, e até saudações nazistas que substituíam cumprimentos tradicionais.
Segundo o historiador Richard J. Evans (PhD por Cambridge), crianças aprendiam desde cedo a ver Hitler como guia espiritual e protetor da pátria. Em muitas casas, o retrato do Führer dividia espaço com crucifixos, simbolizando a fusão entre fé e política.
Esse culto pessoal foi essencial para sustentar a unidade e a obediência. Como observa Stanley Payne, o fascismo não se contentava em ser apenas um partido político — ele queria ser uma religião civil, na qual a lealdade ao líder se confundia com a própria identidade nacional.
A ascensão eleitoral de Hitler foi marcada por avanços rápidos, mas também por altos e baixos.
Em 1930, durante a crise da Grande Depressão, o Partido Nazista saltou de uma força quase irrelevante para conquistar 18,3% dos votos e 107 assentos no Reichstag, tornando-se a segunda maior bancada da Alemanha.
O auge veio em julho de 1932, quando alcançou 37,3% dos votos e 230 cadeiras, transformando-se no maior partido do parlamento, embora ainda sem maioria absoluta.
Poucos meses depois, em novembro do mesmo ano, sofreu uma queda para 33,1%, perdendo mais de dois milhões de votos. Ainda assim, com Hitler nomeado chanceler em janeiro de 1933, a máquina nazista já estava em posição de explorar o poder.
Nas eleições de março de 1933, após o incêndio do Reichstag e sob forte repressão à oposição, os nazistas conquistaram 43,9% dos votos.
Foi esse resultado, combinado ao apoio de partidos conservadores, que permitiu a aprovação da Lei de Plenos Poderes — o passo definitivo para transformar uma vitória eleitoral em uma ditadura totalitária.
A Brasil Paralelo percorreu as principais universidades e centros de pesquisa pelo mundo — de Cambridge a Berlim, de Oxford a Milão — para entrevistar nomes como Richard J. Evans, Donald Sassoon, Stanley Payne e Heike Görtemaker, alguns dos maiores especialistas vivos sobre o tema.
O resultado é um épico inédito que revela em detalhes como o fascismo nasceu, cresceu e ainda ecoa no debate contemporâneo.
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