Na década de 1970, um caso ocorrido no interior da Alemanha dividiu opiniões, mobilizou a Justiça, abalou a Igreja e inspirou um dos filmes mais impactantes do cinema moderno.
Anneliese Michel, jovem católica da Baviera, morreu aos 23 anos após se submeter a 67 sessões de exorcismo.
Para alguns, ela sofria de distúrbios psiquiátricos graves. Para outros, sua história foi marcada por uma possessão demoníaca autêntica.
O que se sabe com certeza é que sua trajetória saiu dos consultórios médicos e chegou aos tribunais e posteriormente às telas dos cinemas.
Anneliese cresceu em um ambiente religioso rigoroso. Aos 16 anos, foi diagnosticada com epilepsia após episódios de convulsão. Anos depois, também recebeu o diagnóstico de depressão profunda.
Mesmo medicada, Anneliese apresentava sinais que sua família considerava inexplicáveis:
Chegou a se mutilar, recusar alimentação e andar nua pela casa.
A medicina apontava para psicose. Mas os pais, amigos e dois padres, Ernst Alt e Arnold Renz, passaram a acreditar que se tratava de uma possessão.
“Anneliese, sua família e os sacerdotes envolvidos acreditavam que as soluções médicas e psicológicas não haviam sido eficazes”, escrevem Pe. José Antonio Fortea e Lawrence LeBlanc no livro que documenta o caso.
Após muitas tentativas, a família obteve do bispo Josef Stangl autorização para realizar sessões de exorcismo, conforme os rituais da Igreja Católica. Os ritos começaram em 24 de setembro de 1975 e duraram dez meses.
Ao todo, foram 67 sessões, algumas com mais de quatro horas de duração. Algumas dessas sessões foram gravadas.
Nas fitas, ouvem-se vozes alteradas, gritos, insultos e declarações atribuídas a entidades malignas.
“Ela dizia estar possuída por Judas, Hitler, Lúcifer, Nero e outros”, relatam os autores.
Alguns trechos impressionam:
“Eu estou condenado, porque não quis servir a Deus. Quis dominar o mundo, quis reinar eu mesmo, embora eu não seja o Criador.”
“O ódio... o ódio não permite descanso. A inveja contra os outros anjos... Nunca há descanso. Descanso só existe onde há amor.”
Segundo padre Fortea, que estudou o caso anos depois, “o que vemos em seu comportamento não vem de uma doença mental, mas da possessão demoníaca que a acometia”.
Em 1º de julho de 1976, Anneliese morreu em casa, pesando cerca de 30 quilos. A autópsia apontou desnutrição e pneumonia como causas da morte.
Seus pais e os dois sacerdotes foram processados por homicídio culposo. Em 1978, todos foram condenados a seis meses de prisão, convertidos em liberdade condicional.
A sentença não contestou a fé dos envolvidos, mas afirmou que “mesmo convencidos de que o problema fosse espiritual, eles deveriam ter procurado assistência médica”.
O tribunal alegou que, se ela tivesse sido alimentada à força até uma semana antes da morte, poderia ter sobrevivido.
O episódio teve forte repercussão pública e, segundo observadores, praticamente encerrou a prática de exorcismos na Alemanha.
Durante os rituais, Anneliese dizia ter visões de Jesus, Maria e santos. Repetia genuflexões até romper os ligamentos dos joelhos.
Aceitava o sofrimento como forma de reparação espiritual: “Ela sofreu bastante e ofereceu esse sofrimento por Jesus Cristo”, afirmam Fortea e LeBlanc.
Segundo relato dos que eram próximos à Anneliese, ela teria recebido, em uma visão, uma proposta da Virgem Maria: se aceitaria oferecer sua vida como expiação. Anneliese teria dito sim e morreu exatamente na data que previu.
Padre Fortea conclui:
“A morte de Anneliese não representou de modo algum o fracasso do exorcismo. Deve ser entendida da mesma forma que a morte de Cristo. O que pode parecer fracasso aos olhos do mundo pode ser um triunfo aos olhos de Deus.”
O caso inspirou o filme O Exorcismo de Emily Rose, lançado em 2005, que trouxe à tona o drama vivido por Anneliese, ainda que adaptado para o público americano.
Diferente da ficção, a realidade envolve fé, sofrimento, psiquiatria e decisões morais que até hoje provocam debate.
O túmulo de Anneliese, em Klingenberg, se tornou um local de peregrinação.
Sua mãe, em entrevista, declarou: “Ela salvou muitas almas”. E sua história continua a ser lembrada como símbolo do embate entre fé e razão, ciência e espiritualidade, dor e esperança.
O caso de Anneliese Michel, que segue inspirando debates até hoje, escancara uma questão que ultrapassa os limites da medicina ou da Justiça: O bem e o mal agem apenas no plano simbólico ou também operam, de modo invisível, na vida concreta das pessoas?
O caso de Anneliese Michel continua a ser objeto de discussão entre estudiosos, médicos, teólogos e fiéis, ao expor os limites entre a psiquiatria moderna e a compreensão espiritual do mal.
A abordagem religiosa da possessão demoníaca, presente na tradição cristã, será aprofundada no curso Entre Anjos e Demônios, produzido pela Brasil Paralelo.
A formação, que estreia no dia 15 de julho, explora os fundamentos da doutrina católica sobre o mundo angélico, a queda de Lúcifer, a ação dos demônios no cotidiano e os critérios que orientam a prática dos exorcismos.
Tais conteúdos fornecem elementos importantes para compreender como a fé cristã interpreta casos como o de Anneliese Michel, à luz de sua tradição teológica e espiritual.
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