Davi Laranjeira

Gastrólogo com Especialização na Le Cordon Bleu Paris. Professor com mais de 40 mil alunos. Empresário e especialista em marketing, inovação e estratégias para redes sociais.

OPINIÂO

Sua Saúde em Risco: O Lado Oculto do Café

Muitos dos cafés comercializados podem estar repletos de impurezas, como paus, pedras, cascalho e sedimentos.

Davi Laranjeira

Quando você saboreia seu café extremamente amargo, ao qual precisa adicionar toneladas de açúcar, como se sente depois? Azia, má digestão, náuseas, dor de cabeça, enxaqueca, mal-estar, dor de estômago, possível diarreia, refluxo? Já se perguntou por que essas reações ocorrem e se realmente são provocadas pelo café?

No dia 14 de abril, o Dia Mundial do Café celebra uma das bebidas mais queridas globalmente. Contudo, poucos se questionam sobre o verdadeiro conteúdo da xícara que erguem em brinde. A qualidade do café que consumimos diariamente pode estar por trás dessas desagradáveis sensações.

De acordo com as normas estabelecidas pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) e as diretrizes do Ministério da Saúde, muitos dos cafés comercializados, principalmente aqueles categorizados como "tradicional" e "extra forte", podem estar repletos de impurezas, como paus, pedras, cascalho e sedimentos.

A Origem do Café e suas Impurezas

A história do café é tão rica quanto seu sabor, mas o que muitos consumidores desconhecem são os padrões de qualidade que diferenciam um bom café de um potencial perigo para a saúde.

A normativa da ABIC, por exemplo, classifica os cafés em quatro categorias distintas, baseadas em características que vão desde a presença de impurezas até a qualidade do sabor e aroma.

O café "tradicional" e "extra forte", frequentemente encontrado nas prateleiras a preços acessíveis, é torrado quase ao ponto de se assemelhar ao carvão. Esse processo de torra intensa não apenas mascara o sabor amargo das impurezas, mas também oculta a presença de elementos estranhos que jamais aceitaríamos em outros alimentos.

Segundo a legislação brasileira, este café pode incluir uma percentagem significativa de defeitos primários, o que infelizmente inclui contaminantes que são visíveis apenas antes do processo de moagem.

Qualidade e Efeitos na Saúde

Essas impurezas podem provocar uma série de problemas de saúde. A azia e a má digestão são frequentemente associadas ao excesso de acidez no café, exacerbada pela presença de tais contaminantes.

A longo prazo, o consumo de café de baixa qualidade pode levar a inflamações no trato gastrointestinal, contribuindo para sintomas como náuseas, refluxo e até mesmo condições mais graves como gastrite.

Categorias de Café: Do Inferior ao Especial

  1. Tradicional e Extra Forte: Estes cafés são frequentemente criticados por suas qualidades organolépticas indesejáveis. O excesso de torra, utilizado para disfarçar impurezas e defeitos, gera sabores e aromas que lembram cinzas, cinzas de cigarro, e pneu queimado. Além disso, notas de remédios, bolor, mofo e madeira molhada são comumente detectadas, o que contribui para uma experiência gustativa geralmente desagradável e áspera. O amargor predominante muitas vezes exige grandes quantidades de açúcar para tornar o café palatável.
  1. Superior: Um avanço em relação às categorias mais básicas, o café superior ainda apresenta desafios. Embora tenha menos defeitos visíveis e algumas impurezas, seus sabores podem incluir leves nuances de terra e ervas, com um corpo um pouco mais equilibrado que o tradicional e extra forte. No entanto, esses cafés ainda não alcançam a plenitude de aroma desejada por muitos consumidores, permanecendo uma opção intermediária.
  1. Gourmet: Representando uma qualidade significativamente melhor, os cafés gourmet são cuidadosamente selecionados para garantir a mínima presença de impurezas. Ainda podem apresentar alguns defeitos menores, mas os sabores são geralmente mais complexos e agradáveis, com notas de nozes, chocolate e frutas suaves. O aroma é mais rico e o corpo do café apresenta uma textura mais suave e aveludada, o que proporciona uma experiência de degustação mais refinada.
  1. Especial: O café da categoria especial é notavelmente distinto. Ao contrário do que muitos podem imaginar, este café não é preto, mas apresenta tons de caramelo, marrom e, às vezes, um tom levemente avermelhado devido ao grau ideal de torra. Livre de impurezas e defeitos, os grãos desta categoria revelam uma complexidade de sabores e aromas que podem ser apreciados sem adições. Na boca, a sensação é suave e plena, com uma acidez equilibrada e uma doçura natural destacando notas sensoriais de frutas cítricas, chocolate, caramelo e, ocasionalmente, toques florais e herbáceos. A experiência é comparável à degustação de um bom vinho, onde cada gole oferece uma descoberta de nuances e notas subtis.

Riscos dos Alimentos Carbonizados

A questão dos alimentos carbonizados vai além do café. Assim como evitamos comer pizza ou bifes queimados, devemos questionar por que aceitamos café excessivamente torrado.

A carbonização não apenas destrói nutrientes, mas também forma substâncias potencialmente cancerígenas. Se rejeitamos alimentos visivelmente queimados, por que fazer uma exceção com o café?

Um Convite à Reflexão

A qualidade do café que consumimos pode afetar diretamente nossa saúde e bem-estar. Como consumidores, é essencial questionar e entender o que realmente estamos colocando em nossos corpos.

Será que é hora de reavaliar nossas escolhas e optar por cafés de melhor qualidade, que ofereçam não apenas prazer, mas também benefícios à saúde?

Este Dia Mundial do Café, enquanto levantamos nossas xícaras, que não seja apenas em celebração, mas em um compromisso com a qualidade e a saúde. Porque, afinal, um verdadeiro amante do café merece o melhor, não apenas em sabor, mas também em pureza.

Receita do Café Perfeito

Ingredientes

  • Água filtrada
  • Café moído fresco (preferencialmente de categoria especial ou gourmet)
  • Filtro de papel (nunca use filtro de pano)

Equipamentos

  • Chaleira ou bule para ferver água
  • Cafeteira de filtro ou suporte para filtro
  • Jarra ou xícara para servir

Modo de Preparo

1. Prepare o filtro

Abra o filtro de papel e encaixe-o corretamente no suporte ou na cafeteira. Certifique-se de que ele esteja bem ajustado para evitar que o café escape pelas laterais.

2. Limpe o filtro

Aqueça um pouco mais de água do que a necessária para fazer o café. Despeje a água quente sobre o filtro de papel até que esteja completamente umedecido. Isso ajuda a eliminar o sabor residual de papel e pré-aquece o suporte ou cafeteira. Descarte a água utilizada para essa limpeza.

3. Adicione o café

Coloque o café moído no filtro. A quantidade ideal depende do seu gosto, mas uma boa regra geral é usar uma colher de sopa de café para cada 180 ml de água.

4. Pré-umedeça o café

Com a água ainda quente (idealmente entre 90°C e 96°C), despeje um pouco sobre o café moído, apenas o suficiente para umedecer todo o pó. Deixe o café "florescer" por cerca de 30 segundos. Esse processo libera os gases e óleos essenciais do café, melhorando a extração dos sabores.

5. Despeje a água

Após o período de floração, continue despejando a água lentamente e de maneira uniforme sobre o café. Faça isso em etapas, permitindo que a água filtre através do café antes de adicionar mais. Mantenha o nível de água bem acima do café e tente manter um fluxo constante e lento para uma extração uniforme.

6. Deixe filtrar

Permita que toda a água passe pelo filtro. Não apresse esse processo, pois a paciência é chave para um café saboroso e bem extraído.

7. Descarte o filtro usado

Assim que toda a água tiver passado, remova o filtro de papel e descarte-o juntamente com o café usado. Filtros de papel são preferíveis porque não retêm resíduos nem sabores, ao contrário dos filtros de pano, que podem acumular óleos e impurezas ao longo do tempo.

8. Sirva imediatamente

Despeje o café fresco em uma xícara ou jarra e sirva imediatamente para saborear todo o seu aroma e nuances de sabor.