Tallis Gomes

Fundador e mentor do G4 Educação. Fundador da Easy Taxi e Singu.

OPINIÂO

Cultura empresarial

Como uma cultura baseada em virtudes levou o G4 Educação a faturar mais de 200 milhões?

Tallis Gomes

A estratégia certa, um bom produto e uso de tecnologia. Quando falamos em resultados de uma empresa, normalmente as pessoas atribuem o sucesso a fatores como estes. Eles são importantes, fato. No entanto, para mim, apenas uma coisa determina o sucesso de uma companhia: as pessoas.

Eu venho de uma família de militares. Por conta disso, desde muito cedo na vida aprendi um conjunto de princípios e valores que carrego comigo até hoje, e que me fizeram chegar até aqui. Trabalhar duro, ser comprometido com resultados e ter sangue no olho para crescer são alguns deles. 

Desde o dia um do G4 Educação, eu decidi que queria trazer para o meu time pessoas com esses mesmos princípios, e assim o fiz. Formamos aqui o que chamo de contracultura

Olhamos para o mercado lá fora e o que vemos são empresas infectadas pela cultura woke – a cultura do "politicamente correto". É uma cultura onde as discussões na diretoria não são sobre como aumentar margem ou gerar mais valor para o cliente, e sim sobre como trazer mais "diversidade". Onde os funcionários não estão ocupados pensando em como melhorar o produto ou alcançar suas metas, mas sim conversando sobre “injustiças históricas” e “semana de trabalho de 4 dias".

As consequências disso já aparecem nos números: mais de 2 milhões de empresas fecharam as portas em 2023. Um aumento de 25,7% se comparado a 2022, segundo o Mapa das Empresas. Como se não bastasse, cerca de 6,6 milhões de empresas brasileiras fecharam o ano passado com as contas no vermelho, de acordo com o Indicador de Inadimplência das Empresas. E quando olhamos para produtividade, o Brasil fica entre os últimos do ranking, à frente da Mongólia e atrás da Venezuela. 

A resposta para mudar isso que estamos vendo está naquilo que já funciona há mais de 2.000 anos, desde muito antes de Cristo: valorizar o que realmente importa. Precisamos construir uma cultura empresarial baseada em aceitar responsabilidades e desenvolver virtudes. E quando falo em virtudes, isso vai muito além de incentivar alguém a ser bom. É desenvolver uma pessoa para buscar a excelência naquilo que faz.

O melhor exemplo dessa busca pela excelência vem de Alexandre O Grande (356 a.C-323 a.C.). Para começar, Alexandre foi aluno de Aristóteles, um dos maiores filósofos da História.

Os ensinamentos de Aristóteles enfatizavam o desenvolvimento do caráter moral e busca pela excelência (aretē), que ele chamava de ética das virtudes. Coragem, temperança, justiça e sabedoria eram consideradas essenciais para uma vida boa e plena.

Em sua trajetória, Alexandre demonstrou muitas das virtudes defendidas por Aristóteles. Ele era conhecido por sua coragem no campo de batalha, seu autocontrole diante da adversidade, seu senso de justiça ao administrar seu império e sua sabedoria em questões estratégicas e diplomáticas. Foi a junção de conhecimento e prática que levou Alexandre a derrotar o rei da Pérsia, Dario III, e ampliar sua conquista sobre os territórios do Oriente Médio, mesmo tendo apenas 24 anos.

O que funcionou para Alexandre O Grande funciona hoje e vai funcionar daqui a 100 anos. 

À medida que expandia seu império por meio de conquistas militares, Alexandre contava com um grupo de homens sábios para governar as regiões conquistadas. Eles eram chamados de aristocratas. Aristocracia é uma palavra de origem grega que significa literalmente “o governo dos melhores” (isso muito antes de ganhar o significado de um grupo com privilégios, como a nobreza).

Além de liderar pensando no bem comum, aquilo que era melhor para todos, os aristocratas eram geralmente escolhidos com base em sua lealdade, competência e adesão às virtudes valorizadas por Alexandre e seus conselheiros.

Aqui Alexandre deixa uma grande lição: a preocupação genuína em formar outros líderes, que deveriam ter os mais altos valores para governar os territórios, enquanto ele partia com seu exército para novas conquistas. 

A empresa deve funcionar como uma monarquia

Como Alexandre, se você é um líder tem que se cercar dos melhores em cada área. Precisa escolher a melhor estratégia e se posicionar à frente do seu time – e não na retaguarda, como o derrotado rei Dario fazia com seus exércitos. Estar no front permite sentir o pulso do negócio para virar o barco se for preciso, mudando a direção rapidamente e aproveitando oportunidades ou minimizando riscos. 

Ainda que você possa contar com aristocratas no seu board, lembre-se do seguinte: as grandes decisões são sempre suas. E é por isso que eu defendo que para uma ter sucesso, a empresa tem que funcionar como uma monarquia – e não como uma democracia.

Toda companhia nasce como uma “monarquia heroica”. O herói, no caso, é o fundador da empresa que tem um sonho e valores pessoais que quer refletir na cultura empresarial. Ele é o monarca.

Conforme a empresa vai crescendo, será preciso trazer uma aristocracia, ou seja, pessoas competentes e que querem seguir nesse caminho de construção da companhia. Como monarca, o fundador divide o poder com essas pessoas que conhecem tecnicamente várias áreas.

O que nunca pode acontecer é o dono da empresa deixar que vire uma república – em que tem um monte de oligarcas que só querem mandar.

Enquanto os aristocratas são homens virtuosos, que estão lá pelo legado e entendem do que estão falando, os oligarcas querem direitos sem deveres. Eles não aceitam pagar o preço por uma decisão errada. São pessoas que se aproveitam do sistema.

Percebe como, no fim das contas, é tudo sobre pessoas? De nada adianta você contratar os melhores PhDs de Ivy Leagues dos Estados Unidos, se essas pessoas não estão alinhadas com a cultura da empresa. Confiança, lealdade e os princípios corretos valem muito mais que um currículo extenso.  

Foi com pessoas como essas que eu construí o G4, e foi assim que entregamos R$ 200 milhões de receita em 2023. Todos os dias, focamos no resultado e não em discutir pautas diversas que não levam a lugar algum. Tínhamos – e seguimos tendo – clareza dos objetivos de negócio.

Meu time não gasta um dia sequer pensando em home office – que, inclusive, não seguimos –, modelo de cotas ou nada do tipo. Todo esforço é focado em como gerar mais valor para o negócio e, por consequência, crescer junto com a empresa. 

O trabalho duro, a dedicação e o comprometimento com a verdade. É isso que nos move. É isso que guia cada reunião, cada projeto e cada decisão tomada. 

O resultado que alcançamos em 2023 e até agora em 2024 é impressionante para uma empresa que só tem quatro anos de existência e não conta com investidores. A estratégia certa, bons produtos, uso de tecnologia…

Tudo isso nos ajudou, mas foram as pessoas e, principalmente, nossa cultura, que nos empurraram para ultrapassar continuamente as metas. 

Portanto, se você é empresário, foque nisso: trazer as pessoas certas – boas tecnicamente, e bem alinhadas culturalmente – e colocá-las nos lugares certos. Uma vez que você fizer isso, verá que todo o resto vai começar a se ajustar. No fim das contas, quem estará com você nas trincheiras importa mais do que a própria guerra.