Tallis Gomes

Fundador e mentor do G4 Educação. Fundador da Easy Taxi e Singu.

OPINIÂO

A luta do empreendedor brasileiro contra a burocracia estatal

O Brasil é o país do "jeitinho", mas também é o país do "não pode". Aqui, ter um CNPJ ativo é um ato de resistência.

Tallis Gomes

O Brasil é o país do "jeitinho", mas também é o país do "não pode". Um território onde o empreendedor precisa ser tão criativo quanto resiliente para superar o verdadeiro labirinto burocrático que se impõe sobre aqueles que se dispõem a correr riscos para construir a nação. 

Segundo dados do Banco Mundial, o país ocupa uma posição desfavorável em termos de facilidade para abrir e operar um negócio: a 124ª de um ranking de 190 - atrás de Gana, Bahamas, Cisjordânia e Faixa de Gaza.

De fato, a luta de quem empreende por aqui contra o excesso de regulamentações, a complexidade fiscal e a inflexibilidade do Estado faz a Odisséia de Homero parecer um conto naive. Não é à toa que ter um CNPJ ativo pode ser considerado um ato de resistência.

Por exemplo, o processo de registro de uma companhia que deveria ser simples, pode demorar meses, com uma infinidade de licenças e alvarás necessários antes mesmo da operação começar a funcionar - uma morosidade que não apenas desestimula a construção de receita, mas também consome recursos que poderiam ser melhor utilizados. 

Além disso, somos submetidos a uma carga tributária absurda (2ª maior alíquota do mundo), o que se traduz em menos capital disponível para competir, reinvestir e crescer, especialmente nas pequenas e médias empresas (PME’s).

Pior, vivemos em um lugar onde não temos certeza do que vamos encontrar no próximo ano e em que um juiz pode mudar todas as regras do jogo com apenas uma canetada.  

Por falar em PME’s, ainda assim, elas são responsáveis por uma parte significativa da geração de empregos no país, representando cerca de 99% das empresas nacionais e aproximadamente 80% dos postos de trabalho formais. Portanto, quando elas encontram um ambiente hostil para novas ideias, toda a economia sofre as consequências.

Felizmente, somos muito bons em nos adaptar, mesmo com o Estado jogando contra. E, como gerador de riqueza, eu escolho ser bullish com o Brasil e olhar para além desses desafios. Afinal, temos uma população jovem, conectada e faminta por mudanças. 

Acredite, como alguém que morava na favela do Santo Amaro, posso dizer com propriedade que vale a pena focar no que podemos construir, no impacto que podemos causar e no futuro que queremos moldar, mesmo com todos esses contrastes.

O empreendedor brasileiro é um herói, mas não deveria ser

Sem dúvidas, o Brasil tem potencial ilimitado para ser um celeiro de inovação e competitividade, mas isso só será possível se conseguirmos vencer, de uma vez por todas, as amarras do Poder Público.

O Brasil não precisa de mais heróis, precisa de sistemas que funcionem. Um ambiente em que empreender não seja um exercício de sobrevivência, mas uma oportunidade de criar, impactar e crescer. É inaceitável que o Estado, em vez de proteger, funcione como um adversário do progresso.

Já parou para pensar no custo de inovar em um contexto opressor? Não falo apenas de custos financeiros, mas do desgaste psicológico de navegar por um emaranhado de leis e decretos que, muitas vezes, nem os próprios órgãos responsáveis conseguem interpretar. 

Estudos do Banco Mundial mostram que uma companhia no Brasil gasta, em média, 1.500 horas por ano apenas para lidar com obrigações fiscais. Enquanto isso, nossos concorrentes da América Latina e Caribe, por exemplo, levam cerca de 20% desse tempo. Já na Nova Zelândia, o mesmo processo gasta 140 horas. O que gera, para nós, um custo estimado em R$ 60 bilhões anualmente.

E os pequenos negócios? Esses são os maiores prejudicados. Enquanto grandes corporações têm equipes dedicadas a contornar os entraves jurídicos e burocráticos, o pequeno empreendedor enfrenta sozinho os leões do Estado. Ele é obrigado a se desdobrar entre ser gestor, contador, advogado e, se sobrar tempo, inovador.

Se quisermos realmente fomentar um ecossistema de desenvolvimento, precisamos de reformas profundas, e não apenas em normas, mas no mindset do brasileiro. Votar bem e investir em programas educacionais para aprender a navegar por esse sistema são as únicas armas capazes de empoderá-lo.

A solução é criar a sua própria sorte

No Brasil, esperar por políticas públicas é perda de tempo. Se você quer vencer, esqueça qualquer apoio ou facilitação. Aqui, ou você aprende a gerar caixa, criar conexões poderosas e jogar o jogo à sua maneira ou está fora antes mesmo de começar. 

Conecte-se com outros empreendedores tão casca-grossa quanto você. Crie uma rede de apoio que entende o jogo e está disposta a jogar duro. O G4 Gestão e Estratégia, por exemplo, é sobre isso: estar cercado por mentores e empresários com track record que sabem exatamente como se movimentar nesse tabuleiro. 

Lembre-se, o Brasil não é para amadores. Aqui, só quem tem sangue nos olhos e mente afiada sobrevive e prospera. Afinal, reclamar não paga boleto. Agir, sim. 

Se o sistema está contra você, lide com isso, mas não se acomode. O foco tem que estar no que você controla: vendas, lucro, escala. Esse é um poderoso ensinamento estóico e milenar que aplico em todas as minhas empresas: não perca energia com o que você não pode controlar e se concentre em agir apenas sobre o que está sob a sua influência. 

Sim, a velha política continuará tentando te esmagar, mas quem domina o jogo e constrói alianças certas sempre encontra brechas para vencer. Vá, faça, conquiste – mas não espere aplausos no final, pois embora esse seja um jogo de soma positiva, continua sendo tratado como um jogo de soma zero pelas instituições que deveriam nos incentivar.