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Filosofia
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min de leitura

Teoria das quatro causas segundo Aristóteles – Como entender porque cada coisa existe

Essa teoria da metafísica de Aristóteles está presente em toda a Filosofia Ocidental, antiga, moderna e contemporânea. Saiba mais.

Por
Redação Brasil Paralelo
Publicado em
1/9/2021 16:54

A compreensão da teoria das quatro causas aristotélicas é necessária para o estudo da Filosofia Ocidental. Estes conceitos são indispensáveis para aprender a metafísica e a própria realidade.

Como Aristóteles teve seus tratados comentados por filósofos medievais, grandes nomes como Santo Alberto Magno e São Tomás de Aquino, e também no Renascimento e na modernidade, seus conceitos são fundamentais.

Uma das principais partes é a distinção entre as quatro causas.

Além deste artigo, leia os outros conteúdos de filosofia que já foram escritos.

O que você vai encontrar neste artigo?

Introdução à teoria das quatro causas de Aristóteles

Comumente, o que se costuma pensar quando se diz “causa”? Nos noticiários ouvimos dizer que a causa de um acidente foi a imprudência do motorista. Muitos filhos ouvem suas mães dizerem que se feriram porque correram, sendo a queda a causa da ferida.

Se alguém se molhou, a causa foi a água. Se se queimou, a causa foi o fogo. Em geral, pensa-se em causa e consequência de forma binária, pensando-se em uma consequência definida para uma causa específica.

Aristóteles observou este assunto de forma mais ampla em seus escritos em que pensa a filosofia natural.

O que é metafísica?

Para responder a esta pergunta, de fato, são necessários livros e mais livros. O que está condensado aqui é apenas um resumo orientador. Basicamente, a metafísica de Aristóteles está além da física, no sentido de que precede a física e a explica.

Aristóteles teve uma série de tratados organizados após sua morte. Seu aluno, Andrônico Rodes, organizou 14 de seus livros e atribuiu este nome, afinal, Aristóteles mesmo nunca chegou a usar usou o termo “metafísica”.

Ele, por sua vez, escreveu sobre a filosofia primeira, sobre o ser em si. O objeto de estudo da metafísica não é um ser qualquer, mas o ser enquanto ser. Procura-se saber o que pode ser afirmado de qualquer coisa, independentemente do atributo que tenha, apenas por existir, ter ser, ser.

O ser é aquilo que é (existe), opondo-se ao que não tem ser, aquilo que não é (não existe).

Neste conjunto de tratados metafísicos, Aristóteles fala sobre as quatro causas.

O que é a teoria das quatro causas de Aristóteles?

Aristóteles pensou quatro tipos de causas para as coisas. São elas:

  • Causa formal: o que dá forma ao objeto?
  • Causa material: de que o objeto é feito?
  • Causa eficiente: o que fez o objeto?
  • Causa final: para que serve o objeto?

As duas primeiras, causa material e causa formal, concentram-se em explicar a constituição dos seres. As duas últimas, causas eficiente e causa final, concentram-se em explicar o movimento, a mudança.

Cada uma delas será detalhada na sequência. A compreensão destes conceitos é uma necessidade para quem deseja aprender mais sobre quem foi Aristóteles e sobre a filosofia de São Tomás de Aquino, que resgatou grande parte do conteúdo aristotélico.

Causa formal

Causa-formal-no-exemplo-da-formato-a-estatua

A causa formal é a responsável pela coisa ser o que é. Uma cadeira é reconhecida como cadeira por causa da forma de cadeira. Uma mesa é reconhecida como tal por causa de sua forma e assim com todas as coisas.

Algo é o que é por causa de sua forma e isto é o oposto da matéria.

Uma estátua é o exemplo tradicional para que isto seja bem compreendido. Grandes artistas olharam para blocos de mármore e viram, dentro do bloco, a forma que queriam esculpir.

Assim, com o cinzel e o martelo, eles tiraram os excessos do bloco, de modo que restasse em seu interior somente a forma que tinham visto.

As disposições que um escultor introduz no mármore são a causa da estátua, segundo a forma. Esta escultura se torna uma obra de arte e não um simples bloco por causa da forma pensada pelo artista. O mármore, por sua vez, é a causa material.

O exemplo explica bem, mas é apenas uma analogia. Para refletir de forma mais profunda, antes que a estátua existisse, o mármore já existia, reconhecido como tal. Ora, o mármore também possui sua forma; portanto, é mármore e não granito.

O escultor que usa a pedra para criar algo, na verdade, introduziu uma forma acidental à forma que já existia, dita substancial.

Forma substancial e forma acidental

Como visto acima, a forma acidental é aquela que é acrescentada a um sujeito já existente. A forma substancial, por sua vez, é aquela que já existe, sendo a primeira a se unir à matéria. Neste caso, não é uma forma que é acrescentada a um sujeito, mas a forma do próprio sujeito.

Na doutrina das quatro causas aristotélicas, todos os seres corpóreos da natureza (todos os objetos, todas as coisas, todos os entes, todos os seres vivos ou inanimados) são compostos de matéria e forma. Isto é chamado hilemorfismo.

Quando percebemos que os seres mudam, estamos vendo uma transformação. A matéria primeira é privada de sua forma substancial para outra e vice-versa. Um sujeito pode passar pela privação de uma forma acidental para outra e vice-versa.

Pode parecer confuso, mas são as formas que a “matéria-prima” vai ganhando. Um tronco pode se tornar uma cadeira, a cadeira um banco, o banco um artefato de decoração.

Causa material

Causa-material-exemplo-do-marmore-que-recebe-a-forma

Ao contrário da forma, a causa material é a própria matéria que constitui todos os seres corpóreos, todos os objetos, todas as coisas na natureza.

No exemplo da estátua, o mármore é a causa material de sua existência.

Como esta é apenas uma analogia, a continuação da reflexão exige um pouco mais: o próprio mármore é um sujeito que possui sua própria matéria.

O mármore, como qualquer pedra da qual se queira esculpir uma estátua, é uma composição de uma matéria primeira com uma forma substancial. Em seguida, recebe formas acidentais.

O que é a matéria primeira?

A matéria primeira é o que constitui todos os corpos e não possui qualquer forma. Portanto, é chamada de pura indeterminação, pois a forma não a determina.

A matéria pura, sem forma, ainda não é algo. Não é sujeito, nem objeto, nem coisa, nem ser, em suma, não é. É apenas é alguma coisa potencialmente, porque quando receber a forma será algo e, portanto, será identificada. A forma substancial será aquilo que a determinará.

Tal matéria não existe na natureza, pois tudo o que identificamos já possui forma, ou não identificaríamos. Para existir, é necessário que a matéria receba uma forma. Quando isto acontece, podemos conhecê-la pelos sentidos.

Qual é o papel dos 5 sentidos?

Com nossos cinco sentidos, aprendemos apenas as formas acidentais. Portanto, a visão, a audição, o olfato, o tato e o paladar não são capazes de perceber a matéria primeira dos corpos existentes.

A utilização de instrumentos de laboratório também não resolve, pois eles apenas amplificam os sentidos, conduzindo à percepção de novas formas acidentais.

A forma substancial dos corpos também não é aprendida pelos cinco sentidos ou pelos instrumentos.

No caso do mármore, a forma substancial é a que o trouxe ao ser, à existência. Percebemos apenas as formas acidentais que o fazem ter extensão, cor, temperatura e afins.

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A inteligência pode aprender a forma substancial e a matéria primeira?

Seguindo o raciocínio da teoria das quatro causas aristotélicas, a resposta é não.

Em tese, a inteligência poderia, se fosse dirigida diretamente a seres existentes fora do homem. Mas, como ela está unida a um corpo e depende dos sentidos, só trabalha com as formas acidentais.

A inteligência humana opera a partir da imaginação, com o conteúdo que foi fornecido pelos sentidos. A partir das formas acidentais, a inteligência pode deduzir indiretamente a existência da forma substancial e a matéria primeira.

Causa-eficiente-exemplo-do-artesa-o-que-passa-a-materia-da-potencia-para-o-ato

A causa eficiente é o princípio do movimento e do repouso dos seres.

Qualquer mudança, alteração, é considerada movimento de acordo com a definição acima. Diz-se que há movimento sempre que a forma muda, adquirindo ou perdendo qualidades.

Isto ocorre de forma substancial para substancial e de forma acidental para acidental.

Um carro que se desloca movimentou-se porque deslocou-se de um lugar para outro. Uma pessoa que envelhece movimentou-se, neste sentido, porque perdeu certas formas e recebeu outras.

Para entender isto da melhor forma, é preciso acrescentar à explicação da teoria das quatro causas de Aristóteles a noção de ato e potência.

O que é ato e potência?

  • Estar em potência: aquilo que pode ser algo, mas que ainda não é;
  • Estar em ato: aquilo que de fato já é.

Um exemplo simples é o de uma semente. É de fato uma semente, mas potencialmente é uma árvore, porque pode sê-la.

A matéria, ou um sujeito privado de uma forma acidental qualquer, é potencialmente outra coisa. O bloco de mármore já é um bloco de mármore; uma pedra, é assim em ato. No entanto, pode ser uma estátua de mármore, embora ainda não a seja.

Neste caso, a pedra está em potência em relação à escultura. Quando for uma escultura de fato, pode-se dizer que ela mudou ou se moveu.

Todo movimento envolve passar algo em potência para algo em ato, isto é, mudança.

A matéria primeira, como é indeterminada e ainda pode receber uma forma, é pura potência. Ainda não é nada em ato, mas pode vir a ser. Já a forma, princípio que determina a matéria, também pode ser dita ato.

Todas as formas possuem operações próprias, por exemplo:

  • O fogo aquece;
  • O peso cai;
  • A inteligência aprende;
  • A luz ilumina.

A matéria pura ainda não possui operações próprias. Se tivesse, estaria determinada por uma forma e não seria mais pura. Compete à forma definir as operações próprias dos seres.

Este é o entendimento básico de ato e potência, mas por que é necessário para entender a causa eficiente como Aristóteles a concebe?

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