Entenda o caso
A investigação em que Silas Malafaia foi incluído foi aberta por Moraes para apurar a atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos e uma possível obstrução de justiça do processo sobre a suposta tentativa de golpe.
O inquérito inclui o deputado Eduardo Bolsonaro e o ex-presidente Jair Bolsonaro, apontados como articuladores da tarifa de 50% estabelecida por Donald Trump sobre produtos brasileiros e das sanções diplomáticas contra ministros do STF, como a Lei Magnitsky.
Em resposta, o pastor nega ter atuado junto ao governo dos EUA pelas sanções a ministros do STF. Também afirma ter tomado conhecimento sobre sua inclusão na investigação pela imprensa:
“Primeiro, eu não falo inglês. Não conheço nenhuma autoridade e não tenho contato com nenhuma autoridade americana. Eu não recebi notificação nenhuma. Isso é uma vergonha! Eu não tenho medo. É livre a manifestação de pensamento e eu não vou me calar porque eu não tenho medo de vocês!”
Sobre o risco de prisão, ele desafiou a PF e Moraes dizendo que, se for preso, se tornará um mártir evangélico. A decisão do ministro do STF provocou forte reação de parlamentares, juristas e especialistas.
Eles apontam que as falas de Malafaia restringem-se apenas a declarações públicas contrárias ao STF e ao governo federal.
E acusam o magistrado de avançar sobre a liberdade de expressão e o direito à manifestação.
Também afirmam que Moraes transformou os inquéritos da Corte em instrumentos de intimidação política.
O advogado Alessandro Chiarottino, professor de Direito Constitucional e doutor em Direito pela USP, alerta que há risco evidente de extrapolação do conceito de crime:
“Não há, até agora, indícios claros de que Malafaia tenha atuado para obstruir qualquer investigação ou para coagir agentes públicos no exercício de suas funções. Tampouco se evidencia participação dele em qualquer plano articulado de ruptura institucional”
O advogado constitucionalista André Marsiglia aponta que essa decisão configura a "revogação" da liberdade de expressão no Brasil. foto Marsiglia
“Malafaia estaria sendo investigado por coação e obstrução no processo de Bolsonaro por falar o que pensa. Ou seja, qualquer pessoa que fale de Moraes, do STF ou saia em defesa de Bolsonaro, como fez o pastor, pode ser alvo da PF. A liberdade de expressão foi revogada”
A medida também gerou preocupação com o impacto sobre a comunidade evangélica, majoritariamente alinhada à direita. Líderes evangélicos de todo o país publicaram uma nota de repúdio sobre a ação contra Malafaia.
As bancadas evangélicas na Câmara e no Senado também se manifestaram com uma nota oficial. A Frente Parlamentar Evangélica manifestou “profunda preocupação” com a inclusão do pastor no inquérito.
Parlamentares e líderes da oposição como Flávio Bolsonaro, Nikolas Ferreira, Gustavo Gayer, Sóstenes Cavalcante, Marco Feliciano e Zucco vieram a público prestar seu apoio ao líder evangélico. Eles denunciaram o que consideram uma tentativa de criminalizar a fé e enfraquecer a atuação política dos cristãos.
Silas Malafaia, conhecido por seu discurso firme e atuação política intensa, transformou-se em símbolo para uma parcela significativa dos cristãos brasileiros.
Suas declarações públicas encontram eco entre milhões de fiéis, e geram incômodo em seus principais alvos: o governo Lula e o Supremo Tribunal Federal. cenas de fiéis ouvindo Malafaia no culto. Lula e STF quando citar.
O episódio recente envolvendo o pastor revela não apenas um embate jurídico, mas também um choque cultural profundo.
A força dos evangélicos
Hoje, mais de um quarto da população brasileira se declara evangélica.
Segundo dados do último Censo do IBGE, 26,9% dos brasileiros se identificam com essa denominação religiosa. pegar a tabela da reportagem anterior
Essa fatia da sociedade não apenas cresceu em número, mas também em organização política.
A Frente Parlamentar Evangélica, composta por mais de 100 deputados e senadores, tornou-se um dos grupos mais influentes do Congresso Nacional.
Esse poder político se traduz em capacidade de aprovação de pautas na Câmara e no Senado , mobilizações populares e capacidade de moldar eleições.
Em várias disputas presidenciais recentes, os evangélicos foram considerados força decisiva, determinando resultados em segundo turno.
É justamente nesse território que a esquerda encontra barreiras.
O discurso progressista, frequentemente associado à defesa de pautas identitárias e à relativização de valores tradicionais, esbarra nos princípios conservadores defendidos pelas igrejas.
Esses dados evidenciam a dificuldade do governo Lula em obter apoio político desse grupo.