A morte enigmática de Teori Zavascki, relator da Lava Jato. Erro do piloto ou sabotagem?
Conheça as 2 possíveis teorias a respeito da morte de Teori Zavascki, importante figura nacional que iria julgar políticos corruptos através da operação Lava Jato.
No início de 2017, Teori Zavascki desistiu de suas férias e voltou ao trabalho. O motivo: os acordos de corrupção milionários entre a empreiteira Odebrecht e membros do governo seriam julgados.
A gravidade do caso não deixou Teori descansar, pois ele era ministro do Supremo Tribunal Federal, indicado pela presidente Dilma. Suas decisões na Lava Jato haviam sido duras com políticos corruptos, e tudo indicava que ele continuaria nessa linha.
De repente, um dia antes de julgar os acordos da Odebrecht, o avião de Teori Zavascki caiu em Santos durante o pouso, sem nem mesmo ter conseguido chegar no aeroporto. Diante do contexto político e dos problemas do avião, restou a dúvida: o acidente decorreu de sabotagem ou de erro do piloto?
Este artigo foi baseado no programa Investigação Paralela, série de investigações criminais exclusiva da Brasil Paralelo.
Diante da queda do avião de Teori Zavascki, 2 teorias foram formuladas:
perda de controle do voo;
sabotagem.
As duas teorias possuem fortes indícios, e serão apresentadas agora.
Perda de controle do voo
O corpo de bombeiros que fez o resgate do avião informou que ele havia caído no mar, próximo à Ilha Rasa, e ficou parcialmente submerso. Na hora do acidente, as condições de voo não eram as melhores: chovia forte e a região estava em estado de atenção.
Desde o início, parte da mídia e dos profissionais de resgate diziam que a queda teria sido fruto de um acidente, justamente por conta das condições climáticas.
De acordo com o relatório oficial disponibilizado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), a aeronave particular estava com a manutenção em dia. As análises dos motores indicam que estes funcionavam normalmente no momento do impacto.
O piloto, Osmar Rodrigues, voava há trinta anos e contava com aproximadamente 7464 horas de voo. Delas, 2924 foram em aeronaves do modelo em questão. No aeródromo de Paraty, especificamente, realizou 33 voos no ano anterior ao acidente, utilizando o mesmo jatinho.
Era um piloto visto como referência entre os colegas. Antes de sair do Campo de Marte, as análises de voz, fala e linguagem indicaram que não havia nenhum indício de fadiga, sonolência ou até mesmo alterações compatíveis com o uso de substâncias entorpecentes do sistema nervoso central.
Após exames toxicológicos, não se evidenciaram alterações, do ponto de vista médico, que pudessem resultar no comprometimento do desempenho do piloto em voo.
Em relação às condições meteorológicas no momento em que o avião saía de São Paulo, Rafael, pesquisador da Brasil Paralelo, disse:
“Temos que para a região de Paraty o clima era favorável ao voo visual — e é importante distinguir os dois tipos de voos existentes: voo visual e voo por instrumento.
Visual é o voo que o piloto se utiliza das referências visuais externas ao avião, enquanto que voo por instrumento é aquele em que, por condições climáticas adversas, o piloto perde as referências visuais externas ao avião e se localiza via instrumentos da cabine interna do avião e comunicação por rádio com os aeródromos.
Havia, porém, a possibilidade de degradação por chuva e presença de nuvens. Para termos uma noção da situação crítica do aeródromo de Paraty, saiba-se que ele não opera por instrumento”.
Uma aproximação para pouso só poderia ser feita por voo visual. Além disso, as referências meteorológicas vinham do aeródromo de São José dos Campos, a uma distância aproximada de 180 km.
No momento da aproximação, as condições meteorológicas estavam degradadas e o avião teria que realizar um desvio da chuva. O trem de pouso foi baixado, ocasionando um aumento significativo da razão de descida. Isso acionou o alerta de Sink Rate.
Nesse momento, o piloto reportou:
“Sierra Oscar Mike, setor eco de Paraty, aguardando um pouquinho até a chuva passar, melhorar a visibilidade”.
Cerca de dois minutos depois do recolhimento do trem de pouso, ele foi baixado novamente e o piloto reportou que tentaria uma nova aproximação para pousar.
Por que logo após reportar que esperaria as condições melhorarem, o piloto procurou fazer uma nova tentativa de pouso? O perfil do piloto pode auxiliar a compreender as razões da perda de controle do voo.
O piloto era uma pessoa rígida, com um senso de fiel cumprimento do dever muito forte. Em situações como essa, era comum que se impusesse a si mesmo uma alta pressão. Ele teria que concluir o voo a qualquer custo.
Por conta da rigidez, também, tinha se incomodado com o atraso de um dos tripulantes que fez com que o voo saísse de São Paulo pouco mais de uma hora depois do previsto.
Momentos antes do impacto com a água, a análise de voz, fala e linguagem indicou que o piloto estava tenso. Mostrava claros sinais de ansiedade, apreensão e temor.
Destroços do avião de Teori Zavascki.
Ao fim da segunda tentativa de aproximação para pousar, que resultou no acidente fatal, o avião se encontrava a 82 metros de altura, numa velocidade de aproximadamente 222 km/h. Sem referências visuais à frente, o piloto realizou uma curva à direita.
Por conta da curva, sofreu com uma força de 2G — o que causou uma ilusão de diminuição de ângulo. O piloto aplicou uma inclinação maior do que o necessário na curva, resultando no impacto com a água.
De acordo com o CENIPA:
“As condições de baixa visibilidade, de curva à baixa altura sobre a água, somadas ao estresse do piloto e, ainda, às condições dos destroços, os quais não evidenciaram qualquer falha que pudesse ter comprometido o desempenho e/ou a controlabilidade da aeronave, levam à conclusão de que o piloto muito provavelmente teve uma desorientação espacial que acarretou a perda de controle da aeronave”.