A expansão dos canais de comunicação trouxe a todo povo e a toda gente a possibilidade de emitir suas percepções sobre os mais diversos assuntos da vida pública (e daquelas vidas não tão públicas assim). Na arena comum, toda sorte de tema virou alvo das mais distintas opiniões, emitidas com tamanha avidez e pressa, fazendo parecer que por trás de tais veredictos não houve tempo suficiente para um raciocínio mais acurado. Certos ou errados, os pontos de vista ganharam protagonismo no centro das discussões, apagando do horizonte próximo a ideia de verdade.
É por essas e outras que na era de relativismos intensos, dos quais nem a biologia consegue escapar ilesa, o verbo “achar” passou a ser empregado para questões em que a resposta apropriada não é exatamente uma opinião, mas expressar uma adequação entre o pensamento e a realidade.
À primeira vista, pareço estar sendo rigorosa demais com a simples escolha de um verbo, pois - alguns podem pensar - trata-se de uma mera mudança de palavra, que em nada impacta em nossas vidas. No entanto, entre opiniões e fatos habitam as raízes para muitos sofrimentos humanos, porque indiferentes a essa diferenciação, vamos nos tornando insensíveis para nossas potencialidades e limitações.
Essa reflexão não é uma novidade para mim, mas ressurgiu recentemente quando fui participar de um programa na Jovem Pan para divulgar o documentário “A face oculta do feminismo”. Na entrevista, fui questionada se não achava que uma CEO pode ser também uma mulher dedicada ao cuidado do lar e da família. Veja, determinar se as duas atividades são (in)conciliáveis não é exatamente uma opinião, não é a expressão de um desejo ou de uma escolha. É o reconhecimento de que o tempo é escasso e de que ambas as funções, para serem executadas com maestria, demandam esse mesmo recurso limitado. Achar ou não achar, neste caso, não é o que importa. O fundamental é saber se, para além do meu desejo, é viável agregar a maternidade com uma carreira de liderança em uma grande empresa.
E por que isso importa? Importa porque, sem refletir sobre essa diferença, vemo-nos impelidos a executar aquilo que é impossível, vemo-nos dispostos a apoiar empreendimentos inexequíveis. Confundir um e outro nos aparta da verdade e, por conseguinte, impede-nos de gerenciar adequadamente as situações. Quando aceitamos que as coisas são, apesar do nosso querer, damos mais um passo em direção à capacidade de administrá-las sadiamente, porque passamos a compreender mais o mundo.
Mas enquanto continuarmos confundindo opiniões e fatos, estaremos fechados para a verdade, tentando sempre sem sucesso converter a luz em escuridão, o impossível no possível, a ilusão em realidade.