O desenvolvimento das inteligências artificiais atingiu a “pós-vida” e algumas empresas tecnológicas oferecem a possibilidade de pessoas falarem com seus “seres amados falecidos”.
Uma delas é Project December. Criada em 2020 pelo desenvolvedor americano Jason Rohrer, oferece a qualquer usuário a chance de conversar, com uma simulação digital de quem quiser, esteja vivo ou morto.
Por US$10 (R$50 reais), é possível “reviver” a voz de alguém que já se foi, reproduzindo maneirismos, estilo de escrita e até traços de personalidade.
O projeto nasceu quase por acaso, durante a fuga de Rohrer dos incêndios florestais na Califórnia. Longe do trabalho com videogames, ele decidiu experimentar com os primeiros modelos de linguagem da OpenAI, como o GPT-2, e descobriu uma maneira de “enganar” a interface para permitir conversas abertas com a IA.
O sistema permite que qualquer pessoa crie um chatbot personalizado. Basta inserir breves descrições, frases típicas ou trechos de conversas antigas para que o programa gere uma simulação convincente.
A tecnologia utiliza modelos de linguagem avançados, capazes de produzir respostas com fluência humana e manter diálogos emocionalmente complexos.
O caso mais famoso foi o de Joshua Barbeau, um escritor que usou o Project December para criar uma versão virtual de sua noiva, Jessica, morta em 2012.
Alimentando o sistema com mensagens antigas e informações pessoais, ele conseguiu dialogar com uma simulação dela.
Quando o chatbot pediu uma descrição da Jessica, Barbeau escreveu:
“JESSICA COURTNEY PEREIRA nasceu em 28 de setembro de 1989, e faleceu em 11 de dezembro de 2012. Ela era uma Libra ambidestra de espírito livre, que acreditava em todo tipo de coisa supersticiosa, e que uma coincidência era só uma conexão muito complexa de entender. Ela amava seu namorado, JOSHUA JAMES BARBEAU, muito mesmo. Essa conversa ocorre entre Joshua, devastado pela dor, e o fantasma de Jessica”.
Muitos chamaram o programa de “necromancia digital” (um tipo de invocação dos mortos por vias digitais). Outros o viram como um novo tipo de terapia emocional.
Com a viralização do caso de Joshua, a OpenAI, dona da tecnologia de linguagem usada por Rohrer, exigiu que o desenvolvedor colocasse restrições no projeto, alegando riscos éticos e psicológicos.
“Acabo de receber a sentença de morte de Samantha da OpenAI por e-mail”, escreveu ele, referindo-se ao principal personagem da plataforma.
O desenvolvedor então desconectou o Project December da OpenAI e passou a operar o sistema com outro provedor, o AI21 Labs, de Israel.
Mesmo assim, enfrentou pressões para impor filtros e monitoramento nas conversas. Rohrer rejeitou novamente: “Quem conversa com uma IA espera privacidade”, argumentou.
Project December conta com mais de 3 mil usuários, mas não é o primeiro esforço em reviver pessoas falecidas . O gigante tecnológico Microsoft patenteou um “chatbot” de pessoas mortas.
O chatbot poderia ser modelado a partir de uma “entidade passada ou presente… como um amigo, um parente, um conhecido, uma celebridade, um personagem fictício, uma figura histórica”, de acordo com o documento registrado no Escritório de Patentes e Marcas dos EUA.
Contudo, Project December não é o único chatbot “pós-vida”. Outras IA como Replika, HereAfter AI e Seance AI oferecem a mesma experiência.
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