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A Crise argentina – Entenda como a Argentina deixou de ser um país rico e hoje vive na pobreza

Argentina
Economia
História
Redação Brasil Paralelo

A crise argentina é um sinal de alerta. Se um país que já foi uma das potências econômicas mundiais atingiu elevados índices de pobreza, por que outros países estariam ilesos? As escolhas dos governantes, a corrupção, a desvalorização da moeda e todos os detalhes são abordados neste artigo.

A Queda Argentina é mais uma produção inédita da Brasil Paralelo. Assista-a gratuitamente e entenda melhor por que a Argentina foi à falência. Não é impossível que aconteça em nosso país o que aconteceu no país vizinho.

O paradoxo argentino

Antes um gigante econômico, a Argentina se tornou a pior economia da América Latina depois da Venezuela, e hoje é considerada uma das mais frágeis do mundo entre os países emergentes.

  • No início do século XX, a Argentina era um dos países mais ricos do mundo. Chegou a ter um PIB (Produto Interno Bruto) per capita maior que o da Alemanha e da França. Superou o Canadá e a Austrália em população, renda total e per capita. Hoje, vive uma crise econômica.
  • Italianos, espanhóis, franceses e alemães constituíam a maior parte dos imigrantes que buscavam melhores salários em terras argentinas. Hoje, os jovens buscam oportunidades em outros países.
  • Foi outrora um centro de excelência acadêmica e intelectual. Hoje, está abaixo do Brasil nos testes do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes.

A expressão riche comme une argentine (rico como um argentino) já foi popular. Aristocratas britânicos faziam planos de casar suas filhas com argentinos ricos. A crise na Argentina faz com que não pareça que o país já passou por tempos de riqueza, principalmente explorando as terras férteis dos pampas.

Alemanha, França, Bélgica e majoritariamente a Grã-Bretanha foram as nações que mais investiram na Argentina de forma livre e diversificada. O capital estrangeiro foi responsável por ferrovias e indústrias.

Agora, a Argentina é um dos países menos confiáveis para os investimentos estrangeiros.

A explicação para a crise argentina envolve anos de história, resumidos neste artigo.

O que você vai encontrar neste artigo?

As origens da crise argentina

A estabilidade econômica da Argentina começou a mudar com a Grande Depressão nos EUA, que afetou suas exportações. A instabilidade política levou a um golpe militar. Entre 1930 e 1983, foram 6 golpes de Estado, 5 dos quais resultaram em ditaduras. Uma essência foi mantida: o nacionalismo.

Sucessivamente, esses governos adotaram políticas protecionistas e de substituição de importações. O objetivo era tornar a Argentina autossuficiente.

Mas a troca das importações pelas produções locais trouxe consequências. As indústrias nacionais não eram competitivas. A população era forçada a pagar mais caro em produtos do próprio país e as indústrias eram impedidas de importar maquinário para aumentar e aprimorar a produtividade.

Em 1946, Juan Domingos Perón assumiu a presidência da Argentina e acrescentou o populismo ao nacionalismo. Perón quis compensar os problemas sociais argentinos aumentando os gastos públicos.

  • Perón foi semelhante a Getúlio Vargas em várias de suas ações. Já temos um artigo que explica a Era Vargas para que você entenda melhor este período da história brasileira.

Ele governou por sindicatos, instituiu direitos trabalhistas e aumentou amplamente as garantias aos trabalhadores. Os salários subiram 46% na década de 40.

Isso fez de Perón um líder aclamado. Mas o país entrou em uma espiral inflacionária e as pensões aumentadas pelo presidente chegaram a um total de 29% das riquezas produzidas na Argentina.

A experiência protecionista terminou oficialmente em 1976. Naquele ano, a junta militar comandada por Jorge Rafael Videla abriu um pouco a economia. Entretanto, as indústrias argentinas, acostumadas ao protecionismo, não conseguiram se manter diante da concorrência externa.

O governo teve que assumir as dívidas. Para fazer isso, imprimia mais dinheiro e gastava desmedidamente. As medidas populistas para aumentar os salários elevaram a inflação de preços, que chegou a 800% ao ano.

Em fevereiro de 1981, a taxa de inflação anual mais baixa era de 82%.

Em 1982, o endividamento argentino aumentou com a entrada do país na guerra das Ilhas Malvinas contra a Inglaterra.

Em dezembro de 1983, a ditadura militar terminou e Raúl Alfonsín foi eleito.

Os problemas econômicos no governo de Raúl Alfonsín

Presidente-argentino-Raul-Alfonsin

Raul Alfonsín assumiu a presidência e já no ano seguinte, 1984, a inflação chegou a 700%. Em 1985, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e outras instituições de crédito bloquearam os novos créditos para o país. Era a falência argentina.

Foi neste cenário que o Ministro da Economia renunciou e Alfonsín foi à televisão anunciar um plano econômico para tentar conter a crise argentina.

O que foi o Plano Austral?

O Plano Austral consistia na criação de uma nova moeda para conter a alta inflação. A moeda chamada austral foi criada em 1985.

Isso foi feito com o governo congelando preços das tarifas públicas e da cesta básica e controlando rigidamente os salários do setor privado.

No ínício, os preços estavam sob controle e a popularidade de Alfonsín aumentou. A melhor fase registrou uma inflação anual de preços de 50%. Paralelamente, a impressão de dinheiro continuou. Quando os preços começaram a descongelar, todo o problema anterior voltou.

Grupos de interesse tiraram vantagem da instabilidade política para disputar o poder. O funcionalismo público nas províncias cresceu. Em La Rioja, por exemplo, o número de funcionários públicos passou de doze para mais de quarenta mil entre 1983 e 1989.

Os sindicatos controlados pelos peronistas também dificultaram o governo do país. Durante a presidência de Alfonsín, o país foi paralisado por 13 greves gerais e mais de mil outras paralisações. Todos os esforços de Alfonsín em direção à austeridade fracassaram, e a nova moeda, o austral, entrou em queda.

O governo Alfonsín não só contraiu dívidas com o FMI, mas também comprou dólares usando o austral. O primeiro empréstimo do FMI à Argentina ocorreu em 1959, e desde então o país já recorreu 21 vezes à entidade monetária.

A prática de imprimir dinheiro tornou-se recorrente na Argentina, tornando necessária a importação de  cédulas, além do aumento da compra de papel para impressão. Isso levou a uma hiperinflação que chegou a 200% ao mês, em julho de 1989. Este mesmo ano foi encerrado com uma inflação de 5.000%.

Em maio de 1989, com uma inflação de 764%, o povo saiu às ruas em uma onda de saques e destruição. 14 pessoas morreram em confrontos com a polícia. No dia 29 de maio,ds o governo declarou estado de sítio por 30 dias, e a instabilidade política levou à renúncia de Raúl Alfonsin.

Cabia agora ao seu sucessor resolver os problemas.

O que o presidente Carlos Menem fez a respeito da crise argentina?

Em julho de 1989, Carlos Menem assumiu a presidência. O gastos público estavam em 36% do PIB e o déficit orçamentário do governo era de 7,6% do PIB.

Para acabar com a hiperinflação, Menem recebeu autoridade para efetuar várias reformas econômicas. Por exemplo:

  • Descongelamento e liberdade de preços;
  • Abertura da economia ao comércio internacional;
  • Recebimento de investimentos estrangeiros e de fluxo de capitais;
  • Reorganização do sistema tributário;
  • Redução da burocracia;
  • Privatização de várias estatais (Entel, Aerolíneas Argentinas, Yacimientos Petrolíferos Fiscales, Gas del Estado, trechos rodoviários, canais de televisão e redes ferroviárias).

Várias privatizações foram realizadas às pressas. As consequências foram irregularidades, corrupção e favorecimentos. Em março de 1990, o valor da inflação atingiu 20.000% e o ano terminou com uma inflação de 1.344%.

Em 1991, a principal reforma monetária foi adotada quando Domingo de Cavallo era Ministro da Economia, desempenhando um papel fundamental na crise argentina.

O regime de conversibilidade do Currency Board

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O regime de conversibilidade do Currency Board

Outra reforma monetária foi elaborada. O Banco Central argentino passou a funcionar como se fosse um Currency Board, que é um arranjo cuja função é adotar uma âncora cambial.

Em outras palavras, a função do Currency Board é trocar a moeda nacional por uma moeda estrangeira a uma taxa fixa. A moeda estrangeira é a âncora e quando ela varia, a moeda nacional varia também, exatamente na mesma proporção.

Primeiro, o austral foi substituído pelo peso. A moeda âncora escolhida foi o dólar. Por lei, foi definido que cada peso valeria um dólar e cada dólar valeria um peso.

Este é um sistema monetário inteiramente passivo, sem a presença de um Banco Central ou políticas monetárias. O Currency Board não compra ativos nacionais, nem títulos do governo.

A base monetária do país passa a variar apenas de acordo com as reservas internacionais. Neste sistema, as moedas nacionais não são impressas à vontade, mas emitidas apenas de acordo com um valor equivalente em moeda estrangeira.

No caso argentino, a quantidade de pesos nunca poderia ultrapassar a quantidade de reservas em dólar, variando de acordo com a quantia de dólares que entravam ou saíam do país.

O dólar passou a ser aceito como moeda corrente. Os argentinos eram livres para fazer transações livremente em dólares e pesos, trocando um pelo outro.

Isso trouxe segurança aos investidores estrangeiros. A equivalência em dólar eliminava o medo da desvalorização da moeda nacional, o que traria prejuízo na hora de repatriar os lucros.

Com isso explicado, pode-se compreender o agravamento da crise argentina mesmo com as tentativas de recuperar a economia com reformas monetárias.

Consequências iniciais

O Banco Central e o governo argentino estavam seguindo a ortodoxia do Currency Board e imprimiam dinheiro estritamente de acordo com a variação na quantidade de reservas internacionais. Os déficits foram reduzidos.

Queda da inflação:

  • 1990: 1.344%
  • 1991: 84%
  • 1992: 7,5%
  • 1993: 7,4%
  • 1994: 3,9%
  • 1995: 1,6%
  • 1996 – 2001: média aproximada de 0%

O governo conseguiu diminuir os gastos públicos:

  • 1989: 35,6% do PIB
  • 1995: 27% do PIB

Déficit fiscal:

  • 1989: 7,6% do PIB
  • 1990: 2,3% do PIB
  • 1991 – 1994: Próximo de 0% do PIB

As reservas internacionais somavam 3,81 bilhões de dólares no final de 1989 e foram para 17,93 bilhões até o final de 1994.

O efeito da política de abolição da inflação e de redução estatal levou à queda dos índices de pobreza. Em 1989 havia 47,3% de pessoas abaixo da linha da pobreza em Buenos Aires. Em 1994, o percentual era de 16,1%.

Crise no México em dezembro de 1994

Desde abril de 1991 as coisas estavam indo bem na Argentina. A economia crescia e os preços eram estáveis.

Desafortunadamente, em dezembro de 1994, a economia mexicana, atrelada à Argentina, sofreu um ataque especulativo. A súbita desvalorização do peso mexicano levou os investidores ao redor do mundo a retirarem seus capitais dos países emergentes. Este foi o fenômeno conhecido como Efeito Tequila.

Um número substancial estava sendo retirado da Argentina. Pesos estavam sendo trocados por dólares e enviados para o exterior. Esta fuga de capitl gerou um acentuado aumento das taxas de juros no mercado interbancário.

O crédito se tornou mais caro. A Argentina entrou em recessão, o desemprego subiu e os gastos sociais aumentaram. O governo voltou a apresentar déficits orçamentários, que nunca mais voltaram a zero.

A crise argentina entre 1996 e 1999

Quanto maior a dívida, maior o gasto com juros e maior o déficit fiscal. Desta forma, emite-se mais títulos da dívida para cobrir o déficit, aumentando o endividamento. É um ciclo.

Dívida pública argentina:

  • 1991: 61,4 bilhões de dólares;
  • 1995: 87 bilhões de dólares;
  • 1996: 97 bilhões de dólares.

Em 1997, a Argentina foi impactada peladf crise asiática, com fuga de capitais ao redor do mundo.

Em 1998, a Rússia entrou em crise financeira e houve mais uma rodada de fuga de capitais. O crédito tornou-se mais restrito na Argentina, levando-a a uma recessão em setembro.

Em 1999, a importação de produtos argentinos caiu por causa da depreciação do real e de várias outras moedas. Apesar deste cenário, Os preços dos produtos primários caíram no mercado mundial e o setor explorador encolheu.

As importações argentinas de produtos estrangeiros pelos argentinos também diminuíram, por causa da recessão. Apesar desse cenário, a Argentina ainda não tinha vivido a pior parte da crise.

Fernando de la Rúa e o agravamento da crise econômica

Em 24 de outubro de 1999, após 10 anos com Menem no poder, Fernando De la Rúa assumiu a presidência com 48,5% dos votos.

Ele baseou sua campanha no combate ao desemprego, à corrupção, e na garanti a lei de Conversibilidade do primeiro mandato de Menem.

No dia 1º de janeiro de 2000, de la Rúa anunciou um pacote fiscal de aumento de impostos. Em março, estourou a bolha tecnológica nos EUA gerando uma nova fuga de capitais. Por esse motivo, os juros do mercado interbancário voltaram a subir.

A recessão foi agravada, a receita prevista pelo governo foi reduzida e o déficit fiscal aumentou. O ciclo estava formado: o aumento dos juros aumentava os gastos do governo, que l de incertezas sobre sua capacidade de honrar as dívidas e continuar o regime de paridade cambial, mantendo um peso para cada dólar.

Além de tudo isso, a confiança que a Argentina recebia diminuiu ainda mais quando o vice-presidente Carlos Álvarez renunciou ao cargo por não se conformar com a intensa corrupção no governo.

  • Entenda melhor o assunto assistindo à trilogia A Queda Argentina. A produção é cinematográfica e tem cenas impressionantes.

A fuga dos dólares

Os próprios argentinos começaram a retirar seu dinheiro do banco, enviando dólares para fora do país. Em outubro de 2000, 789 milhões de pesos/dólares foram retirados dos bancos. O número chegou a 1 bilhão em novembro.

As taxas de juros interbancárias dispararam. Não havia mais confiança em deixar capital na Argentina.

Em uma tentativa de conter a fuga, o FMI anunciou um empréstimo de 40 bilhões de dólares para a Argentina repor suas reservas internacionais. Isso conteve a fuga de depósitos até março de 2001, quando a retirada de depósitos bancários recomeçou de forma mais intensa.

5,5 bilhões de dólares/pesos foram sacados dos bancos argentinos somente no mês de março. Foi a maior saída de dinheiro do sistema bancário na história do país.

Além desses problemas, o governo contrariou o funcionamento tradicional do Currency Board tradicional e determinou que o Banco Central poderia comprar títulos do governo e fazer injeções de dinheiro no mercado interbancário.

Isso aumentou a especulação de que o regime de conversibilidade seria abandonado e que o peso subitamente se desvalorizaria.

A fuga de capital aumentou ainda mais.

O retorno de Domingo Cavallo

De la Rúa ofereceu novamente o cargo de Ministro da Economia a Domingo Cavallo, que havia renunciado em 1996. Sua primeira medida, anunciada em 21 de março de 2001 foi aumentar as tarifas de importação e impor uma alíquota sobre as transações financeiras.

Em 17 de abril, Cavallo enviou ao Congresso um projeto de lei para alterar a âncora de conversão do peso. A ideia era que a moeda argentina pudesse ser trocada não apenas por dólares, mas também por euros, em uma proporção de 50% para cada.

Com esta medida, esperava-se estimular as importações.

Em junho, o regime de conversibilidade foi abolido.

A descredibilidade do peso argentino

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No dia 15 de junho, Cavallo anunciou que o governo adotaria um regime de câmbio preferencial para as exportações. Em 25 de junho, a lei que propunha o câmbio por uma variação de dólar e euro foi aprovada.

Esta atitude quebrou a confiança na garantia de que o regime de conversibilidade seria mantido. As taxas de juros para empréstimos feitos em peso dispararam. Os bancos esperavam a desvalorização do peso a qualquer momento.

Tanto o governo central como os governos das províncias passaram a não obter novos financiamentos dos bancos, que pressentiam um “calote”.

Em julho, três agências de classificação de risco reduziram a classificação da Argentina. Em outras palavras, elas informaram ao mercado internacional que investir na Argentina era muito arriscado.

As taxas de juros no mercado interbancário se aproximaram de 50% e o governo federal não conseguiu mais vender títulos de sua dívida no mercado internacional.

Incapaz de acessar o mercado de crédito, Cavallo anunciou o plano de déficit zero, incluindo aumento da alíquota sobre as transações financeiras e o arrecadamento mensal para o pagamento dos juros da dívida.

O que sobrasse seria usado para cobrir os gastos do governo.

Os salários e pensões do setor público foram reduzidos em 13%. Funcionários públicos do alto escalão passaram a ser pagos apenas com notas promissórias.

Assim, as greves eclodiram e a fuga de depósitos bancários continuava.

Em novembro, o governo apresentou um plano para um swap, isto é, adiar o pagamento e renegociar os termos da dívida que estava em 132 bilhões de dólares.

Temia-se a desvalorização iminente e o colapso do sistema bancário. Se o governo desse o calote na dívida, os bancos quebrariam. Por causa disso, os argentinos realizaram o segundo maior levantamento de saques bancários. Aproximadamente 3 bilhões de dólares foram retirados dos bancos, principalmente na última semana de novembro.

Como consequência, a liquidez do sistema financeiro desapareceu. Os juros do mercado interbancário chegaram a 689% em um dia. Para tentar resolver, o governo decidiu impor um limite ao valor máximo de juros do interbancário. O congelamento de preços foi crucial na crise argentina.

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Cambalache – O colapso de dezembro de 2001

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Em 1º de dezembro, sábado, Cavallo anunciou restrições aos saques bancários e transferências para o exterior.

Na segunda-feira, 3 de dezembro, entrou em vigor o corralito.

O que foi o corralito?

O corralito foi a medida em que todas as contas bancárias foram congeladas por 12 meses. Cada pessoa só foi podia sacar 250 pesos por semana e o saque de dólares foi totalmente proibida. As operações envolvendo cheques e cartões de crédito e débito continuaram.

Em 5 de dezembro, o FMI anunciou que deixaria de conceder empréstimos à Argentina. Por causa disso, o risco-país disparou e uma greve geral ocorreu no dia 13 de dezembro.

A população foi privada de seu próprio dinheiro por causa do confisco bancário. Com fome, os argentinos foram para as ruas. Entre os dias 16 e 18 de dezembro, ativistas e manifestantes desempregados exigiram que os supermercados distribuíssem comida.

Como isso não aconteceu, no dia 18 de dezembro, vários supermercados e lojas de conveniência foram saqueados em Buenos Aires e Rosário.

No dia 19, outra onda de saques aconteceu na capital argentina. Além dos supermercados, bancos e empresas estrangeiras (americanas e europeias) também sofreram saques.

Várias ruas de Buenos Aires foram palco de incêndios.

De la Rúa decretou estado de sítio em rede nacional e advertiu que a Política Federal, a Força de Segurança e a Prefectura Naval Argentina seriam acionadas para conter o tumulto.

O cacerolazo

Após o anúncio, os argentinos marcharam rumo à Casa Rosada para protestar batendo panelas. Isto ocorreu em várias regiões da Argentina simultaneamente.

A classe média, que na década anterior perfazia 63% da população, agora estava reduzida a 34%. Cerca de 40.000 pessoas recorreram à coleta de papelão para sobreviver, enfrentando uma taxa de desemprego de 21%, com 54% da população abaixo da linha da pobreza, e 27% na pobreza extrema.

A tensão explodiu nas ruas.

Na madrugada do dia 20 de dezembro, o ministro Domingo Cavallo renunciou ao cargo novamente após uma manifestação na frente de sua residência.

Na manhã do mesmo dia, os manifestantes se concentraram na Plaza de Mayo, apesar do país estar em estado de sítio.

A Política Federal tentou controlar os protestos de forma violenta. Quando outros manifestantes chegaram, tudo ficou fora de controle. O mesmo cenário se repetia em outras regiões do país.

Esta foi a ocasião do Massacre da Praça de Maio. Ao todo, 39 pessoas morreram, incluindo sete crianças.

A insatisfação popular levou à renúncia do presidente Fernando de la Rúa. E, em um período de 12 dias, a Argentina trocou de presidente 5 vezes.

5 presidentes em 12 dias?

20 de dezembro de 2001

O presidente argentino Fernando de la Rúa renunciou ao cargo dois anos após ter sido eleito. Ele não pôde deixar a Casa Rosada de carro e precisou fugir dos manifestantes usando um helicóptero.

21 de dezembro de 2001

O vice-presidente Carlos Álvarez já havia se demitido em outubro. O peronista Ramón Puerta, presidente do Senado, tomou posse como presidente temporário.

22 de dezembro de 2001

Adolfo Rodríguez Saá foi escolhido pela Assembleia Legislativa como o novo presidente provisório.

30 de dezembro de 2001

Sem apoio político, Adolfo Rodríguez Saá renunciou ao cargo. O presidente do Senado, Ramón Puerta, assumiu novamente a presidência, mas por apenas 15 minutos. Ele também renunciou.

31 de dezembro de 2001

O peronista Eduardo Camaño, presidente da Câmara, assumiu como presidente interino da Argentina.

1º de janeiro de 2001

A Assembleia Legislativa escolheu o senador peronista Eduardo Duhalde como presidente da Argentina. Em 2 de janeiro de 2002, Eduardo Duhalde assumiu a presidência. Em sua posse, garantiu que o corralito seria revogado e que todo o dinheiro seria integralmente devolvido à população.

Entretanto o corralito foi intensificado.

Em 6 de janeiro, o regime de conversibilidade foi oficialmente revogado. As operações de conversão monetária nas quais 1 peso equivalia a 1 dólar foram abolidas.

Sem a âncora cambial, o dólar disparou. No mercado negro, dólares foram vendidos acima de 3 pesos. Novamente, o governo arbitrariamente fixou uma nova taxa de câmbio: 1,40 peso por dólar.

Outra medida governamental foi a “pesificação” de todas as dívidas privadas de pessoas físicas e jurídicas. A taxa era de 1:1. Tudo deveria ser pago em pesos e não em dólares.

Para salvar os bancos, o governo assumiu parte da dívida. Mesmo assim, credores e poupadores foram dizimados. Em fevereiro, todos os depósitos feitos em dólar também foram “pesificados”.

O corralón

Todas as pessoas que depositaram dólares viram seu dinheiro ser confiscado pelo governo argentino. Tudo foi convertido em pesos, à taxa oficial de 1,40 pesos por dólar. Foi o corralón.

Em março, o governo também “pesificou” toda a dívida pública nacional, provincial e municipal, à taxa de 1,40 pesos por dólar. Deixou a taxa de câmbio flutuar mais livremente e, como consequência, o peso afundou. Em junho, a cotação do dólar alcançou 4 pesos.

A inflação dos preços após quase dez anos de estabilidade, alcançou 40%.

Os pobres estavam sem dinheiro e a classe média teve seu dinheiro desvalorizado e preso nos bancos.

Famílias que tinham poupado dinheiro uma vida inteira encontraram-se em uma situação em que pediam dinheiro para turistas na Calle Florida, uma das ruas comerciais mais importantes de Buenos Aires. Até mesmo a compra de itens básicos era difícil.

Milhares de destituídos e desempregados se tornaram cartoneros, catadores de papel. Entre 30 e 40 mil pessoas passaram a viver nas ruas de Buenos Aires em busca de material.

Em outubro de 2002, 54,3% da população estava abaixo da linha da pobreza em Buenos Aires. Nacionalmente, 57,5% estava nesta situação. O número de indigentes atingiu 27,5% e o desemprego chegou a 21,5%.

Resumo da crise argentina

O governo confiscou o dinheiro do povo, aniquilou sua poupança e estipulou as quantias máximas a serem utilizadas. Com os preços congelados e o peso desvalorizado, a economia foi dizimada.

A partir do momento em que o governo rompeu com o Currency Board e desequilibrou o orçamento, a dívida começou a aumentar de forma constante.

Isso gerou incertezas sobre a capacidade de financiamento e aumentou a propensão para um calote. A confiança no sistema começou a desaparecer.

A partir do momento em que o Banco Central passou a comprar títulos do governo e a injetar dinheiro no mercado interbancário, os investidores estrangeiros perceberam que a moeda seria desvalorizada.

A confiança foi completamente aniquilada quando o Ministro da Economia Cavallo anunciou que alteraria o regime cambial.

O corralito usado como uma tentativa de conter a vazão de capitais do país e o colapso do sistema bancário foi o que faltava para a ruína final na crise argentina.

  • Entenda melhor o assunto assistindo à trilogia A Queda Argentina. A produção é cinematográfica e tem cenas impressionantes.

Por que a Argentina está em crise?

Os principais motivos da crise econômica argentina são:

  1. Desvalorização da moeda e inflação crescente;
  2. Desvalorização do peso;
  3. Histórico de dívidas com o FMI;
  4. Finanças públicas desequilibradas;
  5. Hiperinflação;
  6. Aumento das taxas de juros.

As consequências são pobreza extrema, fome, violência, imigração e descrédito internacional.

Como a economia da Argentina está atualmente?

Em 2018, houve novos protestos e confrontos quando a inflação atingiu 47,6%.

Em 2019, o país ficou em terceiro lugar no índice inflacionário, perdendo apenas para a Venezuela e o Zimbábue.

A pobreza na Argentina já alcança 44,2% da população. Aproximadamente 18 milhões de pessoas. 34,9% das famílias são impactadas.

O índice da indigência também subiu para níveis preocupantes nos últimos dois anos, chegando a 10% da população: 3 milhões de pessoas.

Para piorar ainda mais a situação, a pandemia do coronavírus reduziu ainda mais os investimentos, o consumo e a disponibilidade de postos de trabalho, interrompendo a reativação e prejudicando especialmente as pequenas e médias empresas.

Em 6 de abril de 2020, a Argentina anunciou o adiamento até 2021 do pagamentos de juros e amortizações do principal da dívida pública em dólares emitidos no país, calculados em cerca de 9,8 bilhões de dólares, por causa do novo coronavírus.

A taxa de desemprego atingiu 13% e já há 1.440.000 pessoas sem emprego no país.

Um dos efeitos mais perversos da instabilidade econômica é a destruição da esperança. Em meio à crise argentina, não é possível fazer planos a longo prazo, porque para fazê-los é preciso poupar dinheiro.

Hoje isso é uma impossibilidade para a maioria da população.

A dívida externa total do país é de 311 bilhões de dólares, uma verdadeira bomba-relógio. Foram mais de 40 anos de crise econômica, sem sinais de melhoria à vista. Em 2020, a Argentina ainda estava congelando preços e anunciando a nacionalização de empresas.

Atualmente, o Banco Central ainda pode comprar títulos públicos e a inflação está acima de 50% ao ano.

Do orçamento total do governo, 60% já está destinado a gastos com subsídios e planos sociais de vários tipos. Uma grande parte dos argentinos depende do governo para sobreviver, e cortar os subsídios deixaria milhões na rua.

Não há limites para os gastos públicos.

Comente e compartilhe. Quem você acha que gostaria de ler sobre a crise argentina?

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