É surpreendente o que se tornou o conteúdo feito para crianças pela grande indústria hollywoodiana. Vemos a grande e poderosa The Walt Disney Company comprometida com pautas progressistas, incluindo em seus filmes infantis relacionamentos homossexuais, personagens transgênero e personagens femininos no estilo Mary Sue para agradar a militância. Contar uma boa história não é o mais importante. Produzir algo bom para as crianças, menos ainda.
E aqui surge Super Mario Bros, produção da Universal Studios em parceria com a Nintendo. O filme se estrutura na clássica “jornada do herói”, em alguns detalhes lembrando O Mágico de Oz (1939), Alice no País das Maravilhas (1951) e tantos outros. Uma pessoa comum se encontra em ambiente desconhecido onde passa por desafios inusitados, um clássico! Por fim resolve o problema que tinha em seu mundo conhecido do início do filme, retorna, e se torna alguém melhor.
E há de se admitir que eles o fazem de maneira divertida em alguns momentos. Eles traduziram de forma literal o video game para uma história linear, sem se importar muito com a falta de lógica daquele mundo. Boa parte da esquisitice dessa adaptação é capitalizada como humor, de forma por vezes eficiente. Tartarugas são más e pinguins são bons. Gorilas usam blazer e gravata. O meio de transporte mais eficiente é, obviamente, o kart. Por que não?
O filme lembra a série infantil "Patrulha Canina", no sentido de que esta não tem, pelo menos nos primeiros episódios, nada que preocupe os pais logo de cara. Não se vê uma agenda ideológica escancarada, mas visivelmente se nota uma forte agenda comercial; o esforço concentrado em “capitalizar a propriedade intelectual”.
A série parece uma propaganda de brinquedo longa, abusando de cores e sons ultra-estimulantes em momentos chave, de forma quase hipnótica, de tal maneira que existe pouca dúvida de quais objetos que vemos na tela chegarão em breve às lojas de brinquedo. Super Mario Bros. me deu a exata mesma sensação.
No entanto, ele não é totalmente livre de pautas ideológicas como alguns sugerem. A cultura do Ocidente, e a mídia como parte desta, tem mudado tão velozmente que a impressão que fica é que este produto é algo muito diferente, quando certamente não é.
Há 10 anos, o fato do Mario não salvar a Princesa (pois esta não precisa ser salva, diga-se de passagem) e em seu lugar salvar seu irmão Luigi, chamaria atenção de maneira negativa. Hoje, nossa expectativa sobre produtos originados em Hollywood, em termos de moral e valores, é tão baixa que já nos acostumamos a ver ataques à família, à religião e a todo valor tradicional do Ocidente como normal. Quando algo não ataca estes valores frontalmente, mas o faz de maneira sutil ou menos intensa parece razoável, por comparação. E é mais neste campo onde vejo esse filme.
Muitos esquecem que o personagem Mario, e suas representações nos videogames, são propriedade da Nintendo, empresa japonesa fundada em 1889. Os japoneses são notórios por não se interessarem pela cultura progressista americana, a cultura “woke” e apenas a usam de forma superficial para vendas em territórios fora do Japão.
Uma possível consequência disso é o fato de 17 executivos japoneses da Nintendo serem creditados diretamente no filme, provavelmente supervisionando cada passo dos americanos que o produziram. Esta pode ser uma explicação para o filme ser mais contido, em relação ao padrão Hollywoodiano de hoje, na agenda progressista.
Talvez Shusaku Endo, autor de "Silêncio", tenha razão. Talvez o Japão seja de fato um pântano, onde tudo trazido de fora que é plantado murcha e morre, e se torna o próprio pântano. Se aconteceu com os missionários jesuítas no séc XVII, por que não aconteceria com ideólogos progressistas do séc XXI? Considerando a atual agenda cultural que as grandes universidades e a mídia americanas promovem mundo afora, isso não seria algo ruim.
Mesmo com a abertura do país na era Meiji, e tempos depois com a ocupação americana ao fim da 2ª Guerra Mundial, o Japão me parece na prática, em termos culturais, um país fechado. Claro, eles participam economicamente do mundo globalizado, adoram baseball e cometem muitos mais anglicismos que nós, mas me parece tudo superficial. Pela produção cultural que sai de lá, não parecem abrir mão das raízes de sua identidade.
Vivemos uma pequena amostra disso aqui na BP. O time de aquisições da BP, aqueles que negociam os contratos para a veiculação de filmes produzidos por outras empresas em nossa plataforma, ao tentar contato com um grande estúdio japonês, não recebia resposta alguma.
Pediram ajuda a um membro da nossa equipe que trabalha em outro setor, mas que fala fluentemente e escreve em japonês, para entrar em contato. Enfim retornaram, muito educadamente se recusando.
A Princesa Peach mostra nesse filme, a meu ver, sinais muito claros de afetação progressista, desviando-a de uma possível condução mais interessante, e talvez mais japonesa, da personagem e da história.
Especialmente em filmes de animação, os japoneses estão acostumados com boas protagonistas femininas, em histórias que fazem com maestria o trabalho de desenvolver uma heroína de maneira convincente e tocante. E ninguém o fez melhor que o mestre Hayao Miyazaki.
Em filmes como Viagem de Chihiro (2001), apesar do contexto fantástico, a questão da família, e o lugar que alguém possui em sua própria e a importância desta, são centrais na narrativa.
Em Meu Vizinho Totoro (1988), vemos uma exploração com tons autobiográficos do tema em minha visão muito alinhada com a de outro mestre; o grande Walt Disney.
Com frequência retorno à figura de Walter Elias Disney, o criador do Mickey Mouse e de tantos outros personagens e produções icônicas. É trágico o que se tornou a empresa que leva seu nome, a The Walt Disney Company. É a maior empresa de mídia do mundo, mas comprometida com pautas que promovem a destruição dos valores da família, algo que ele sempre defendeu em vida, e ao qual todo seu trabalho é dedicado.
Na história de sua própria família, pode-se dizer que ele viveu duas infâncias.
Uma delas, idílica, numa fazenda perto de uma pequena cidade chamada Marceline, no estado americano do Missouri. Lá a natureza abundava. Todos os animais que vemos nos seus filmes como amigos estavam lá; cavalos, esquilos, coelhos e pássaros eram parte da diversão.
Ele pescava e nadava na lagoa. Tornou-se amigo de um velho veterano da Guerra Civil que lhe contava antigas histórias. Marceline, além de seu charme interiorano, tinha em seus cidadãos uma comunidade muito unida e fraterna. Apenas por listar essas características daquele lugar naquela época, percebe-se de onde vem muito da matéria prima para seus filmes.
A outra infância, em Kansas City, era dickensiana; urbana, dura e difícil. Ele estudava e trabalhava para seu pai entregando o jornal. No inverno, quando a neve era alta, ele chegava a desmaiar de exaustão e frio em sua bicicleta enquanto entregava os jornais. Sua família, apesar de muito trabalhadora, vivia sempre a duras penas.
Uma maneira de sintetizar é dizer que tudo que ele fez em sua vida foi tentar recriar a primeira infância, integrando as duras lições aprendidas na segunda.
De todos os trabalhos desse mestre do cinema, um que revi recentemente é "O Meu Melhor Companheiro" (1957). Neste filme, um garoto numa fazenda dos EUA no final do séc XIX (sim, é um faroeste, assim como são os melhores filmes) adota um cão, Old Yeller. Isso à princípio é um problema, o cão se mostra desobediente, mas eles criam uma grande amizade após o cão salvar o garoto em diversos momentos.
No final, após o cão defender a família de lobos, ele contrai raiva. Não há cura e o garoto sabe disso. Com sofrimento e hesitação, a mãe da família pega o rifle, pronta para sacrificar o cão, pois não há outra saída. Mas o garoto protagonista do filme pede o rifle para si, e faz questão que seja ele que o faça, pois aquele cão era fiel a ele como ninguém nunca foi. Ele vai até o cão, mira e dispara.
Mesmo antes do início das filmagens, já havia controvérsias nos escritórios de produção. A equipe pressionava como podia a Walt Disney, chegando a lhe apresentar uma versão diferente do roteiro sem ele pedir, com um final feliz onde o cão vivia. Mas Walt Disney não abria mão de maneira alguma, e ao defender a versão que existe hoje do filme, ele simplesmente disse que assim deveria ser porque "a vida é difícil".
Super Mario Bros. está tão incrivelmente distante do que acabo de descrever que celebrá-lo como "anti-woke" ou como uma espécie de vitória contra a pressão progressista de Hollywood só nos mostra a deficiência imaginativa e o desespero cultural que vivemos.
Se nos deixarmos pautar apenas pelo que as grandes forças da Hollywood de hoje querem nos dizer ou permitem ser dito, dificilmente transmitiremos boas ideias, valores e sentimentos aos corações de nossos filhos.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP