Advogado e professor, já foi juiz de direito e delegado de polícia. Fundador do Ser Mais Criativo, escola de comunicação, cultura e criatividade. Cofundador do CP Iuris, preparatório para concursos jurídicos. Compartilha reflexões sobre obras clássicas e comunicação.
Aeroporto de Brasília, quarta-feira, voo atrasado.
Depois de atravessar ofegante os 42 km até o portão 1 (é quase isso), descubro que a aeronave estava em manutenção.
Olho para o balcão da companhia e vejo duas coisas: gente irritada e atendente fazendo pose de servidor público municipal quando o sistema cai (já viu, né?).
Respirei, eram 19 horas, decidi tomar um drink. Achei uma gin tônica, um queijo e um pão. Mãos à obra.
Trinta minutos depois, chegou o Fernando. Ele é um conhecido meu com cara de bom moço. Perguntou se poderia se sentar, ofereceu um drink e eu tomei. Depois disso, não me lembro de nada.
Na quinta, às 06 horas, acordei em uma banheira de gelo. Do meu lado, um celular e um bilhete: não se apavore. Disque 192 - Samu.
Liguei. Expliquei a situação. A moça nem ficou surpresa. Ela apenas emitiu um comando: “verifique se há um tubo preso às suas costas”. Olhei. Sim, ela tinha razão.
Então, ela me disse:
“o senhor foi vítima de um roubo de rim. O senhor teve um rim subtraído na noite de quarta. Não se preocupe. Estamos indo para aí agora”.
Quem subtraiu meu rim foi o Fernando, o Fernando Haddad.
Depois de me engambelar com a historinha de que quem ganha 5 mil não irá pagar IR, ou seja, que o mercado será pujante, com mais dinheiro na economia, mais gente gastando, mais crescimento, ele me tirou o rim: o empresário é quem vai pagar a fatura.
Mas e o governo? O anúncio não era de corte de gastos? Era, mas foi de corte de rim. O governo, para diminuir o rombo, decidiu arrombar o empresário, o médico e o profissional liberal, e ainda meteu o discurso populista de isenção até 5 mil.
Eu amei a ideia de isentar quem ganha até 5 mil. Mas será que não dá para diminuir a gastança e nos poupar de mais uma taxação?
Eu fico pensando no americano. Ele olha para a bolsa brasileira: a pior entre as principais bolsas globais em 2024. Olha para o dólar: começou em 4,90 e tá em 6,01. E olha para a mensagem do governo:
“vamos taxar você”. Qual é a chance de alguém investir em uma economia assim?
A verdade é que, se você tivesse comprado dólar e escondido na cueca em janeiro, você teria experimentado 22% de valorização. Nem o tigrinho dá isso. Isso é um incentivo ao não trabalho.
Por fim, eu decidi não reclamar. Vamos olhar pelo lado positivo. Pelo menos, ainda temos um rim. Obrigado, Haddad. Posso beber.