Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Deputado federal | Cientista político | Escritor | Empreendedor | Executivo internacional

Ideologia - Conceito e Importância Civilizacional

Existem vários tipos de ideologias que requerem diferentes tipos de força para serem aplicadas e se manterem. As que exigem menos força para sua aplicação são as mais legítimas, estão mais em sintonia com a sociedade.

Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Ideologias são ideias. As Ideias brotam daquilo que tem dentro do conhecimento e da capacidade de pensamento humano. Existem diferentes maneiras de se organizar uma sociedade, mas temos sempre que entender que na base disso tudo está um ser humano pensando essas ideias. 

Não é uma coisa externa à realidade ou à condição humana. E, geralmente, quanto mais uma ideologia é completamente externa e distante da realidade humana, mais elas tendem a falir mais cedo. 

As ideologias que estão mais próximas da realidade humana tendem a continuar e talvez serem chamadas de outra coisa, morfarem para outra coisa, mas sempre mantendo algum aspecto que faz parte da natureza humana. 

Então, por que entender as ideologias? 

É importante entender o quão distante uma ideologia pode estar da realidade humana e a energia necessária para manter a organização proposta por ela.

Existem vários tipos de ideologias que requerem diferentes tipos de força para se manter de uma maneira sustentável. As que exigem menos força são as mais legítimas, estão mais em sintonia com a sociedade.

As ideologias que exigem mais força para serem aplicadas são as mais utópicas, as mais distantes da realidade da sociedade. Por mais justas que apareçam, ou aparentam, elas são geradoras de conflitos sociais. É isso que nós precisamos discutir.

Quais ideologias são efetivas, quais ideologias não são efetivas, quais devemos nos focar para realmente empregar nossa força naquilo que vai de fato trazer estabilidade, trazer longevidade para a sociedade.

Entender as ideologias também é importante para ficarmos longe daquelas que radicalizam, daquelas que levam a gente para um embate social, conflitos entre cidadão e Estado, conflitos entre partes e parcelas da sociedade, conflitos com outras nações e outros povos.

As origens das ideologias e suas manifestações nos dias de hoje

Dentro da formação de cidades, cidades-Estado, nações, há vários ciclos de surgimento de novas civilizações e ciclos de esfacelamentos das premissas fundadoras da mesma civilização. 

Ao longo dos últimos 10 mil anos, houve ciclos de criação e degeneração de vários tipos de civilizações diferentes, diferentes maneiras de se organizar. Algumas das principais ideologias são:

  • modelo monárquico;
  • modelo democrático;

Além dessas ideologias iniciais, que apresentaram variações de aplicação na Antiguidade, a idade moderna trouxe diversas ideologias modernas que abordaremos mais adiante.

Modelo monárquico

O modelo monárquico é o modelo de concentração de poder em um líder. O líder distribuía poder ou separava seus poderes entre outros poderes. 

Diversas sociedades por milênios viveram entre modelos de concentração total de poder e descentralização de poder executivo entre outras esferas de poder. Poder dos anciãos, poder de assembleias, poder dos nativos, e aí foram se criando vários tipos de organização e separação de poder, isso desde o início desses modelos tribais até hoje, com o Estado moderno. 

O que enxergamos na presente história do Estado moderno é que estamos vivendo o último ciclo, o ciclo do fim das narrativas que criaram os grandes impérios. Vamos voltar um pouquinho atrás aqui para entender o que eu quero dizer com isso. 

Um dos primeiros ciclos civilizacionais do qual se tem registro, voltando 3 mil anos atrás, está na região do Peloponeso, da Grécia Antiga. Dali surgiram mitos e ideias formativas de nações e sociedades. Dentro do Peloponeso criaram-se vários sistemas de governo. 

Um deles foi o modelo espartano, com dois reis, separação absoluta de poderes, parlamentos. Outro foi o de Atenas.

Modelo democrático

Em Atenas surgiu o modelo democrático, especialmente devido à derrocada do modelo tradicional. Outras cidades-Estado em volta do Peloponeso eram variantes entre esses dois modelos, ou ditaduras tirânicas, ou tentativas de democracia. 

Depois que Roma conquistou o Peloponeso, uma nova série de valores tomaram conta. Os valores romanos tomaram conta, valores marciais, bélicos, mas a organização do Estado romano tinha reflexos do pensamento do Peloponeso. 

A tocha civilizatória deixou de ser a Grécia. A região do Peloponeso chegou a até mesmo ser invadida pela Turquia e outras tribos regionais. 

O novo ciclo de Roma também teve fim, acabou com o fim da República Romana. A República Romana termina porque os valores iniciais que formaram a República Romana, que foram extremamente poderosos para substituir até as ideias que criaram a Grécia Antiga, ruíram. 

As ideias iniciais de formação da Roma Antiga ruíram por completo. E surge aí um novo líder, que era o César Augustus, Otaviano, como ele foi chamado, o primeiro imperador de Roma. Ele nem se via como imperador, ele se via como um grande republicano. 

Não usava um título que auferia poder de fato. Mas ele gostava de ser chamado de príncipe, ou seja, primeiro cidadão. É nesse conceito de primeiro cidadão que ele vem para resgatar as ideias formativas da República Romana. 

Mas na verdade ele estava criando ali um novo sistema, um novo grupo de mitos e valores. E aquilo durou mais 500 anos. 

O Império Romano substituiu a República Romana e criou novos sistemas, novos códigos sociais. Tudo isso contaminou de uma maneira positiva toda a Europa, mas o germe da nova ideia que iriam criar, a derrocada do Império Romano, já estava fermentando: o Cristianismo.

O Cristianismo como novo modelo civilizacional

O Império Romano começou a ruir em função dos seus vícios, em função de uma série de problemas internos também, de manutenção até dos mitos fundadores, e o cristianismo começa a brotar, já nos primeiros séculos.

O cristianismo surge como maneira de libertar os escravos. E claro, quando há a derrocada de Roma, em meados do século 400, o que acontece nesse período? Começa a ser substituído por reis cristãos.

Reis cristãos começam a substituir o Império Romano, muitos deles absorvem uma série de temas organizacionais. Mas continua sendo um modelo tradicional. Veja que nós estamos revertendo de novo ao modelo tradicional que existia há praticamente 10 mil anos. Existem sempre tentativas de se reorganizar e sair fora do modelo tradicional. 

Pode durar até 500 anos, como foi a questão da República Romana. Pode até durar mais 500 anos dentro de um sistema imperial, como foi o Império Romano. Mas essas são organizações extremamente distantes daquilo que é, de fato, uma organização mais orgânica, mais social. E o cristianismo, de certa maneira, resgata isso. 

Resgata isso na visão de reis cristãos, que defendiam uma nova série de crenças, uma nova série de valores e uma nova maneira de se organizar. Agora, a organização era por herança, por vitalidade, por tradição, por valores, cristãos. 

E o território era daquele rei que protegia aquele território em nome da fé, em nome da sua herança. Ele não tinha legitimidade se não fosse pela unção papal e a igreja aparecia como o grande poder "global", capaz de legitimar todos esses poderes. O Império Cristão durou mais de um milênio. 

Ocorreu do final do Império Romano até praticamente o final do século XIX. 

Temos aí uma vasta experiência de reinados cristãos. E claro, esses reinados cristãos, à medida que vão evoluindo, se transformam em Estado moderno. Começam a se formalizar dentro do contexto constitucional. E aí é que nós entramos. 

As ideologias modernas 

E aí é onde está o contexto do que estamos tratando aqui. Estamos tratando de ideologias que vêm para substituir o final dos reinos cristãos. Essa é a origem da maioria das ideologias que brotam no final, durante o século XVI, XVII, XVIII. Elas se maturam no século XIX em grandes revoltas e são implementadas no século XX. 

Essas são as ideologias que vamos tratar na Certificação de Ciência Política. Esse é o contexto. 

E o que vivemos hoje no século XXI? O século XX foi a substituição completa das ideias e dos valores que formaram os reinados cristãos, que evoluíram para modelos de Estado moderno, evoluíram para uma burocracia completamente anônima, desvinculada de qualquer tradição, de qualquer valor formativo. 

Isso foi o século XX, no século XXI temos os ecos do século XX, dessas novas narrativas e ideologias que surgiram há 300 anos atrás, que se materializaram no século XX. E no século XXI o que vivemos? 

Vivemos o esgarçamento dessas ideias utópicas, que na verdade duraram aí 300 anos, e tiveram talvez só 100 anos aí de implementação efetiva. E agora estamos vivendo possivelmente a derrocada dessas ideias. 

A maioria do que vamos tratar aqui nesse programa, fascismo, comunismo, liberalismo, anarquismo, tudo isso surge do contexto do iluminismo que brota nos últimos 300 anos. Então, no século XXI, hoje, temos que ter um grande debate para saber para onde vamos. Vamos reverter aqui o modelo tradicional? 

Vamos talvez acirrar os modelos burocráticos anônimos, que foram criados ao longo do mundo, seguindo aí talvez o modelo fascista? E temos essas várias vertentes de realidades que temos que discutir. 

Teremos soberania popular definindo como é que vai ser esse novo modelo de Estado, nossa evolução? Teremos o próprio Estado conduzindo como será a nossa evolução do próprio Estado e da sociedade? 

Veremos o esvaziamento aí de talvez tudo aquilo que formou o século XX, a continuidade deles de uma maneira diferente? Ou estamos aqui diante talvez de uma nova série de discussões que vão criar novas narrativas para uma nova formação, uma nova maneira de se organizar? 

É isso que está em discussão. Podemos até discutir também se há uma chance de reverter para o modelo tradicional que esteve sempre aí. A sociedade sempre se organizou da mesma maneira. No entanto, isso raramente tem sido refletido no modelo político dos últimos 300 anos. 

É isso que nós temos que discutir nesse programa. 

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