Bruno Musa

Economista com pós-graduação em mercado de capitais pela Universitat Autònoma de Barcelona. Com 17 anos de experiência no mercado financeiro, gerencia sua própria empresa de investimentos desde 2012. Também é professor de graduação no Brasil e pós-graduação na Espanha, lecionando macroeconomia. É também criador do canal "Minuto do Musa" e da BM Educa, focada em educação financeira.

OPINIÂO

A mentalidade que destrói o Brasil e sua origem

Apenas o capitalismo de livre mercado tirou milhões de pessoas nos últimos séculos da pobreza.

Bruno Musa

Depois de voltar dos EUA para acompanhar as eleições recentes, nas quais Donald Trump saiu mais vitorioso do que o esperado, conquistando o Senado, reconquistando a Câmara (House of Representatives) e ganhando o voto popular, fui à Bahia para alguns dias de férias com a família. Em um determinado dia, funcionários do condomínio onde eu estava recolheram cocos das árvores e nos presentearam em frente à nossa casa. Eram seis pessoas, e lhes ofereci algumas cervejas. Juntos, brindamos o momento.

Gosto muito de pessoas, de conhecer suas realidades, e claramente, a posição social não define se uma pessoa é melhor ou pior que outra. No Brasil, a ideia de que a condição socioeconômica confere alguma vantagem tornou-se comum, o que é lamentável.

Digo isso porque, logo após o brinde com as cervejas, levei meus filhos pequenos e minha esposa à praia, e ao voltar, um dos funcionários me parou para agradecer por eu ser uma pessoa boa, sorridente e que os tratou de igual para igual. Confesso que isso acontece comigo com frequência e, todas as vezes, me deixa pensativo. Fico feliz pelo elogio, mas refletindo sobre o motivo pelo qual a elite brasileira - sem generalizar - ainda se sente superior por ter mais dinheiro.

Josué, o funcionário que veio me agradecer, disse que a maioria das pessoas que frequentam aquele condomínio os trata com indiferença e que o exemplo que eu dava aos meus filhos, ao oferecer uma cerveja e uma boa conversa por 10 minutos, era algo que ele guardaria na memória. 

Mas por que isso é tão marcante para ele, se é algo que faço diariamente? Estamos falando de um sorriso e agradecimento pelo que ele nos havia servido.

Quando comento que levo meus filhos a comunidades carentes para fazer doações e para que conheçam outras realidades, sou criticado. O Brasil tornou-se um país onde ter dinheiro significa furar filas, parar o carro na porta do restaurante, sentir-se superior em uma hierarquia. Puro engano.

Se precisamos de condição socioeconômica para nos sentirmos melhores que os outros, mostramos como somos ignorantes e pequenos. Isso nos mostra que o dinheiro pode comprar bens materiais, mas não necessariamente cultura e educação. Será que uma das grandes falhas do Brasil está justamente em sua elite? Podemos discutir os problemas desde a colonização, mas parece que não fazemos muito para avançar.

Olhando para a história recente, vemos que o trabalho do PT foi bem-feito ao dividir a sociedade para manipulá-la e controlá-la. O PT nasceu como um partido de sindicatos e operários, mas a economia brasileira transformou-se em economia de consumo. Assim, esse discurso não atinge mais sua base eleitoral.

Os mais pobres querem que seus filhos estudem, pagar suas contas e sentir que estão prosperando. Já perceberam que o Estado, formado por poucos burocratas que nos controlam, mais prejudica seus planos do que ajuda. Eles não querem intervencionismo, querem crescer. Isso é claro quando Lula tentou sindicalizar motoristas e entregadores de aplicativo. Mais de 90% disseram NÃO, segundo pesquisa do Uber e Ifood. Eles querem liberdade, não o Estado controlando suas vidas.

A sociedade está mudando, mas muitos ainda são dependentes de décadas de lulo-petismo (e do PSDB no teatro das tesouras) e das migalhas do Estado. Entretanto, a maioria não se sente mais representada e não quer pagar tantos impostos.

Essa mudança é evidente, mas o que me intriga é que a elite continua se julgando melhor com base apenas na capacidade financeira. Já percebeu que o brasileiro frequentemente não é bem-visto no exterior? Que não respeitam os pedestres? Quem nunca viu alguém discutindo na porta do restaurante porque seu carro de luxo não estava à espera? Ou presenciou maus-tratos a prestadores de serviços de classes econômicas mais baixas?

Vivemos em carros blindados, moramos em casas que parecem prisões, e precisamos de barreiras para que entregadores não tenham acesso aos moradores, temendo assaltos. Naturalizamos deixar relógios e celulares em casa para não sermos roubados, e quando alguém é roubado, culpamos a vítima por não ter deixado o aparelho em casa.

O Brasil está doente e os políticos são um reflexo da população. Criticamos os outros, mas queremos o jeitinho brasileiro para nós. Nos opomos a subsídios, mas se for para nosso setor, aceitaremos. Pregamos cortes de gastos, mas não para nós mesmos. Não é assim?

O Estado, se tiver que existir, serve apenas para segurança externa, interna e para garantir a Constituição. Nada mais. Para isso, precisamos aceitar custos como concorrência ampla e busca por eficiência, o que significa que todos precisamos uns dos outros.

O empreendedor é essencial na sociedade e só ganha dinheiro ao gerar valor agregado. Além disso, gera empregos e busca eficiência. Claro, estamos falando de empreendedores corretos e honestos, não dos "amigos do rei", que criticam o sistema enquanto recebem subsídios, como Felipe Neto, Bruno Gagliasso, Ludmilla e outros.

Empreendedores precisam dos empregados, e trabalhamos como um time, em uma associação privada de ajuda mútua para aumentar renda e crescimento. Apenas o capitalismo de livre mercado tirou milhões da pobreza nos últimos séculos.

Não está na hora de percebermos que atuamos em cooperação social e que o Estado mais atrapalha do que ajuda? Até quando pensaremos que apenas a condição social forma pessoas melhores? Basta ver os "capitalistas amigos do rei" dos últimos anos no Brasil.

Como indivíduo, como você quer ser lembrado? Seria melhor pendurar fotos de nossos filhos nos escritórios para nos inspirar sobre quais valores queremos passar a eles.

Enquanto buscarmos destaque pelo relógio ou carro (bens materiais), continuaremos a ser um país onde a sujeira política reflete a sociedade.

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