Jornalista e escritor. Autor dos livros "Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo" e "Guia de Comunicação para o Agronegócio". Acompanha há 20 anos o dia a dia do setor.
O dia 31 de março de 2024 marcou o fim de uma era no jornalismo especializado no agronegócio no Brasil. A data marca o fim da revista A Granja, a mais antiga do Brasil ainda em circulação, no ano em que completaria 80 anos dedicados exclusivamente à cobertura do setor agropecuário.
Ao longo das últimas décadas, seus repórteres acompanharam de perto toda a ascensão do agro brasileiro, apresentaram aos produtores as principais inovações disponíveis - do início da mecanização até os atuais desafios da conectividade no campo -, entrevistaram os principais expoentes do setor, empilharam prêmios e fizeram história no jornalismo nacional.
Mesmo reconhecida entre os produtores de todo o país, a publicação não conseguiu surfar a onda de crescimento experimentada pelo setor nas últimas décadas. Colocada à venda, não encontrou compradores e acabou encerrando as suas atividades. A revista, que até pouco tempo atrás era referência, sucumbiu às novas tecnologias. Insistiu no papel até o fim sem um projeto consistente de transição para o digital.
Há 10 anos, eu mesmo era um consumidor voraz de revistas impressas, ainda que muitos desses conteúdos estivessem disponíveis de graça na internet. Eu gostava do cheiro do papel. Folhear uma revista era - e ainda é - muito mais prazeroso do que a leitura do mesmo conteúdo na tela de um tablet. Agora, já adaptado à nova realidade, não consigo me lembrar da última vez em que estive em uma banca de jornal.
A chegada de uma nova geração às posições de liderança no agro reduziu drasticamente o público dA Granja. Esses jovens, acostumados a lidar com as mais variadas tecnologias no seu dia a dia de trabalho, assim como eu também migraram para as plataformas digitais e hoje têm acesso a uma infinidade de conteúdos, nos mais variados formatos, publicados no Brasil e no exterior, na palma da mão onde quer que estejam.
Poucos dias após o encerramento de A Granja, porém, uma outra notícia nos trouxe a sensação de que nem tudo estava perdido. O lançamento do novo portal de notícias do Brasil Paralelo e a informação de que o agronegócio receberia atenção especial neste novo projeto, reacendeu a esperança do setor de comunicar de forma proativa as suas boas histórias e, como consequência, melhorar a sua reputação perante a sociedade.
Seu diferencial em relação a tantos veículos especializados existentes hoje no mercado é que o BP é uma plataforma generalista, com um público consolidado e majoritariamente urbano. Mais do que isso, o agro terá acesso privilegiado a uma audiência disposta a ouvir e compreender as engrenagens que movem o setor. O agro, que tão bem se comunica com seu público interno, terá, enfim, a chance de furar a bolha. Trata-se do início de uma nova era na cobertura do agro.
A repetição de informações equivocadas ou deturpadas, seja por influenciadores ou pela grande mídia, perpetuou a imagem estereotipada do produtor rural brasileiro e permitiu a difusão de inúmeros mitos sobre o agro. É preciso também fazer um mea-culpa, já que a falta de uma comunicação mais efetiva por parte do setor também contribuiu para a construção da percepção negativa de uma parcela da sociedade sobre o setor.
O Jeca Tatu já não existe mais há muito tempo. O produtor estereotipado da novela também é um ser em extinção no setor. Hoje, a maioria das fazendas são verdadeiras empresas a céu aberto. O agro brasileiro já é reconhecido internacionalmente pela sua eficiência - não por acaso exporta tecnologia de ponta para o mundo. No entanto, a má vontade da mídia mainstream gerou um desconhecimento sobre os impactos positivos do agro nas frentes econômica, social e ambiental. Informações importantes sobre o setor, que impactam as vidas das pessoas, dificilmente ganham as manchetes.
Poucos brasileiros sabem, por exemplo, que os alimentos custam hoje, em valores corrigidos, o equivalente a apenas 40% do valor praticado 50 anos atrás. Também não sabem que o país possui dois terços do seu território coberto por matas nativas - boa parte delas dentro de propriedades particulares, como reza o Código Florestal brasileiro, considerada a legislação ambiental mais restritiva do mundo.
A desinformação também é uma arma muito utilizada pelos militantes verdes, aqueles que se contradizem ao criticar a soja geneticamente modificada logo após tomar uma vacina transgênica contra a Covid-19. Ou dos que lutam pelo fim dos agrotóxicos mas não se importam com o fumacê contra o mosquito transmissor da dengue ou em usar um repelente à base de inseticida químico para se proteger dos pernilongos.
Este espaço tem como missão justamente desvendar esses e outros mitos, além de aprofundar os grandes temas que envolvem o agronegócio. Sem ufanismo. Sem passação de pano. Seja bem-vindo.